Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Lula e a "Frente de Esquerda": A cooptação dos inocentes de novo e outra vez

Segunda, 29 de dezembro de 2014
Do Blog do Tsavkko
Tem sido ventialado pela mídia que Lula estaria "insatisfeito" com o ministério formado por Dilma, sua sucessora e cria. Por isto, estaria formando uma "Fente de Esquerda" junto a organizações cooptadas há muito pelo petismo e pelo sub-petismo (o PCdoB), como UNE, CUT e MST, e buscando o apoio do PSOL, do MTST e do PSTU (Conlutas).

Imediatamente após questionamento o PSTU/Conlutas anunciou que aceitou apenas conversar, mas que mantém seu rechaço à proposta central desta Frente, o tiro no pé político conhecido como Constituinte Exclusiva. O MTST logo depois lançou nota rebatendo as várias críticas de que estaria sendo cooptado (sentimento que se tornou mais forte depois das cenas de profunda amizade entre Lula e o coordenador do movimento, Guilherme Boulos), mas não desmentiu sua participação em uma frente claramente eleitoreira e que busca viabilizar o nome de Lula para a corrida presidencial de 2018.

Explico.

Lula criou a Dilma-candidata e a Dilma-presidente. Foi por indicação dele, passando por cima de tudo e todos (inclusive da base do PT) que Dilma acabou se tornando a candidata do partido à presidente e, logo, presidente. Suas políticas seguem, em geral, a cartilha lulista, com algumas diferenças sutis devido à personalidade de Dilma. Excetuando a Cultura, o governo Dilma tem seguido fielmente o Lulismo dos 8 anos anteriores, sejam nas comunicações, na economia ou na política de tratorar e passar por cima de direitos e movimentos. Não que Lula fosse muito diferente, mas ele tinha a capacidade de dialogar ou de ao menos fingir diálogo, enquanto Dilma não respeita nada e impõe sua vontade doa a quem doer.

O problema neste momento é que Lula, sendo um político extremamente esperto, notou que há imensa resistência à Dilma e suas políticas (que também são do Lula) não apenas na sociedade, mas dentro do próprio partido - pese as críticas sempre serem sufocadas pelo fanatismo e pela tropa de choque. O que fazer então?



Muito simples: Formar uma "Frente" usando o peso dos movimentos há muito cooptados e incapazes de qualquer crítica mais contundente contra os desmandos de Dilma e do PT, fingindo independência ou mesmo insatisfação, buscando aglutinar e cooptar outros movimentos e organizações ainda independentes (alguns sedentos por cargos, outros apenas achando que irão tirar benefícios) para dar legitimidade à empreitada que possivelmente tecerá críticas pontuais buscando "pressionar" um governo que só cede à pressão da extrema-direita ruralista e evangélica, mas que, no geral, servirá como um "exército" pessoal de Lula para posar de mediador, apoiando, no entanto, o governo sempre que este precisar.

Trata-se de uma manobra torpe, gasta, já usada mundo afora por movimentos da cripto-esquerda para se legitimar dando um ar de independência a seus apoiadores, ou seja, tentanto criar uma "massa crítica" aos olhos de fora, mas firmemente controlado por dentro.

De quebra Lula, Dilma e o PT conseguem apoio para a péssima e suicida ideia da Constituinte Exclusiva.

O PT está sempre pronto e disposto a aceitar todas as exigências de seus aliados ruralistas, evangélicos fundamentalistas, banqueiros, empreiteiras... Iremos confiar neste partido para capitanear uma reforma política? Quem irá segurar a direita não será, sem dúvida, o PT, que hoje nada a amplas braçadas para (e com) a direita.
Os eleitos para uma "constituinte exclusiva", tendo em mente a configuração política atual, as pressões, o crescimento do eleitorado fundamentalista e as alianças da ex-esquerda com a pior direita, seriam francamente conservadores. Isto basta para acabar com qualquer ânimo de quem é efetivamente de esquerda. De que importa que políticos com mandato não possam concorrer? Alguém acha que o PSC tem apenas o Feliciano na manga? Ou que o Malafaia, o Edir Macedo, os Ruralistas e outros não tem candidatos guardados para quando precisarem?
Lula com isso ganha uma base para legitimar sua volta, se afasta de um governo que amplos setores da esquerda e parte do PT nutre críticas dos mais diferentes níveis, mas mantém um núcleo sempre pronto a apoiar as questões mais sensíveis e caras ao "petismo de coalizão".

A grande questão que, no fim, denuncia toda a sordidez de tal iniciativa é: Se Lula é do PT, e se Dilma é do PT e se ambos são representantes da maioria ampla do partido e se há críticas dentro dessa maioria, porque a necessidade de buscar saídas externas para mudar e pressionar diretrizes que vem de dentro do próprio PT?

Seria compreensível (e excelente) uma Frente de Esquerda composta por organizações e movimentos que não passaram os últimos 12 anos dizendo amém para absolutamente tudo que o PT fez, por movimentos que não aceitaram =se abraçar e serem preteridos ou mesmo abandonados por neoaliados que são apenas seus maiores inimigos. Movimentos que estão e estiveram nas ruas por 12 anos, mantendo suas bandeiras intactas e não agindo como tropa de choque e como legitimadores de toda e cada política entreguista, lesa pátria e violadora dos direitos humanos vindas do PT e de seu governo.

Aceitar a tese de que Lula e setores do PT querem fazer uma crítica ao governo é legitimar a desculpa esfarrapada de "O PT não é Governo" que o Campo Majoritário do PT tentou fazer colar por 12 anos como forma de legitimar cada decisão criminosa de Dilma e, antes, de Lula.

As Mães de Maio foram as primeiras a sentir o que realmente está por trás de tal "Frente  de Esquerda":
GOVERNISTAS x MOVIMENTOS AUTÔNOMOS
As Sucursais Governistas já definiram sua estratégia para 2015 em diante: enaltecer os movimentos sociais que dançarem estritamente sob a cartilha do Lulo-Dilmo-Petismo - sem sair um milímetro do script (ou seja: totalmente cooptados); e tentar isolar, desmoralizar e até criminalizar os movimentos sociais que manifestarem qualquer autonomia crítica em relação aos governos do PT.
O primeiro alvo já parece ser o Passe Livre São Paulo, que anuncia sua luta contra os aumentos de tarifa de ônibus na cidade de São Paulo a partir do dia 05/01/2015, vejam só que ousadia, contra o Prefeito Gato Gourmet Fernando Haddad. Por estarmos apoiando a mobilização do MPL e de todos movimentos que se organizam para resistir ao aumento, alguns trolls petistas começam a acusar nossa página de ser "coxinha"... Afinal, defender a Tarifa Zero para todxs trabalhadorxs é, realmente, uma pauta de direita e bastante elitista... Na esquerda, para estes trolls, devem estar as Empresas de Transporte e seus lucros bilionários - com o Prefeito Gato, este mártir anti-"coxinhas", defendendo seus interesses...
Algumas dessas Sucursais - historicamente alinhadas à Direção Nacional do PT - acusam o MPL-SP de estar se tornando "uma sucursal do PSTU", mesmo tendo profundo conhecimento do caráter autônomo e apartidário do movimento. E mesmo sabendo que Sucursais são @s própri@s...
Os próximos passos serão as tentativas de desmoralização e, quando vier a repressão da GCM, da PM ou do exército, fazerem vistas grossas ou até mesmo justificar a criminalização e a violência do Estado contra os legítimos manifestantes...
Tâmo Juntão até o fim com o Movimento Passe Livre e com tod@s aquel@s que lutam com autonomia pelxs Trabalhadorxs, para xs Trabalhadorxs!
É na hora do veneno que enxergamos quem é quem na luta de classes!
#‎Autonomia‬‪#‎NóisPorNóis‬‪#‎ContraAEXquerda‬‪#‎TrabalhadorxsUnidxs‬‪#‎PorUmaVidaSemCatracas‬
O alerta está dado e não poderia ser mais claro. A tal "Frente de Esquerda" não passa de um instrumento eleitoreiro, um "exército" pessoal do Lula para buscar legitimar sua candidatura pela esquerda e junto à esquerda, da mesma forma que o discurso fake de Dilma durante as eleições de "guinada à esquerda" que se mostrou um dos maiores engodos da história recente do país.

Lula é a figura de máxima importância dentro do PT, eminência parda do governo Dilma, legitimador dela e de suas políticas. É preciso ser muito trouxa ou querer ganhar cargos e verba para embarcar em uma frente criada sob medida para cooptar e dividir.

A época da inocência acabou há muito tempo.