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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Misturando pesquisas

Quinta, 27 de setembro de 2012
Por Ivan de Carvalho, na Tribuna da Bahia
A pesquisa Vox Populi/Band, divulgada ontem, baseada em dados coletados junto a 1.500 eleitores de Salvador entre 21 a 23 deste mês, com margem de erro de 2,5 pontos percentuais, mantém o candidato democrata a prefeito ACM Neto na liderança das intenções de voto, posição de que desfruta desde o início da campanha eleitoral.

            A pesquisa Vox Populi acaba de eliminar aparentes certezas que existiam até a divulgação da pesquisa Ibope/TV Bahia. Esta, embora mostrando o democrata ACM Neto plantado no seu patamar de 40 por cento das intenções de voto (na realidade, teve 39 por cento, mas isso, no caso não era relevante), mostrava um crescimento rápido de Pelegrino, que saltava, em 13 dias, nada menos que 11 pontos percentuais nas intenções de voto, subindo assim de 16 para 27 por cento.


            Agora, o Vox Populi, que em sua pesquisa anterior – mais antiga que a pesquisa anterior do Ibope (esta é uma circunstância interessante) – atribuíra 41 por cento a ACM Neto e já 18 por cento das intenções de voto ao petista Pelegrino, na sondagem cujos resultados divulgou ontem, atribuiu 33 por cento das intenções de voto a ACM Neto e 29 por cento (apenas dois pontos percentuais do que este obtivera na mais recente pesquisa do Ibope) ao deputado Nelson Pelegrino.

            Dizem que não é de bom tom misturar números de institutos de pesquisa diferentes, mas vamos, incidentalmente, transgredir essa regra. Note-se que a pesquisa Vox Populi reduz a quatro pontos percentuais a vantagem de 12 pontos que a última pesquisa Ibope atribuiu a Neto.

            Mas parecem existir dois fenômenos embutidos aí. Melhor, três.

1. Neto, que vinha se mantendo seguro no patamar dos 40 por cento, ou, para os detalhistas, 40/39, perdeu seis pontos, ao ser posto pelo Vox Populi nos 33 por cento das intenções de voto. É um esvaziamento considerável e muito desagradável.

2. A ascensão fulminante de Pelegrino (onze pontos em 13 dias) quando levados em conta os mais recentemente divulgados resultados do Ibope e do Vox Populi, sofreu uma freada violenta se comparado o seu desempenho no Ibope divulgado mais recentemente (27 por cento das intenções de voto) e no Vox Populi divulgado ontem (29 por cento das intenções de voto). Um crescimento de apenas dois por cento das intenções de voto no período. Muito pouco.

3. Talvez seja o fenômeno que muitos já esperavam: o candidato petista cresceu na faixa de eleitorado tradicional do PT em eleições de prefeito de Salvador (30 por cento), dando um salto para os 27 por cento mostrados pelo Ibope, mas aí, perto do limite eleitoral tradicional do seu partido, passou a carregar pedras. Levou um tempão de campanha para mover duas dessas pedras (pontos). E assim talvez continue, mas isso vamos ver com a divulgação da próxima pesquisa Ibope/TV Bahia.

            A essa altura, só uma coisa importante é dada por todos como certa: vai haver segundo turno. No segundo turno, o tempo de propaganda em rádio e televisão é igual para os dois candidatos, com o que desaparecerá a maior das vantagens das quais Pelegrino vem desfrutando durante a campanha. Mas ainda restarão outras, relacionadas com estrutura de campanha (uma composição de fatores) e militância. O segundo turno, no entanto, é uma eleição mais “solta”, sem ligações com candidatos a vereador, e certamente esta circunstância tende a beneficiar Neto.

            No mais, é aguardar pela vontade do eleitor, senhor da decisão.