Quarta, 26 de setembro de 2012
Bublicado no Blog do Pannzio
Este é o último post do Blog do Pannunzio. Escrevo depois de
semanas de reflexão e com a alma arrasada — especialmente porque ele
representa um vitória dos que se insurgem contra a liberdade de opinião e
informação.
O Blog nasceu em 2009. Veiculou quase oito mil textos. Meu objetivo
era compor um espaço de manifestação pessoal e de reflexão política.
Jamais aceitei oferta de patrocínio e o mantive exclusivamente às
expensas do meu salário de repórter por achar que compromissos
comerciais poderiam conspurcar sua essência.
Ocorre que, em um País que ainda não se habituou à crítica e está
eivado de ranços antidemocráticos, manter uma página eletrônica
independente significa enfrentar dificuldades que vão muito além da
possibilidade individual de superá-las.
Refiro-me às empreitadas judiciais que têm como objetivo calar
jornalistas que não se submetem a grupos politicos, ou a grupos dei
interesse que terminaram por transformar a blogosfera numa cruzada de
mercenários virtuais.
Até o nascimento do Blog, enfrentei um único processo judicial
decorrente das milhares de reportagens que produzi para a televisão e o
rádio ao longo de mais de três décadas. E ganhei.
Do nascimento do blog para cá, passei a responder a uma enxurrada de
processos movidos por pessoas que se sentiram atingidas pelas críticas
aqui veiculadas. Alinho entre os algozes o deputado estadual
matogrossense José Geraldo Riva, o maior ficha-suja do País; uma
quadrilha paranaense de traficantes de trabalhadores que censurou o blog
no fim de 2009; e o secretário de segurança de São Paulo, Antônio
Ferreira Pinto, cuja orientação equivocada acabou por transformar a ROTA
naquilo que ela era nos tempos bicudos de Paulo Maluf.
A gota d`água foi uma carta que recebi do escritório de advocacia que
representa Ferreira Pinto num processo civil, que ainda não conheço,
comunicando decisão liminar de uma juíza de primeiro grau que determinou
a retirada do ar de um post cujo título é “A indolência de Alckmin e o
caos na segurança pública”. O texto contém uma crítica dura e assertiva
sobre os desvios da política adotada pelo atual secretário e pelo
governador, mas de maneira alguma contém afirmações caluniosas,
injuriosas ou difamatórias.
A despeito dessa convicção, o post já foi retirado do ar.
Determinação judicial, no entendimento deste blogueiro, á para ser
cumprida. Vou discuti-la em juízo assim que apresentar minha defesa e
tenho a convicção de que as pretensões punitivas de Antônio Ferreira
Pinto não vão prosperar.
Ocorre que o simples fato de ter que constituir um advogado e arcar
com o ônus financeiro da defesa já representa um castigo severo para
quem vive exclusivamente de fontes lícitas de financiamento, como é o
meu caso. E é isso o que me leva à decisão de paralisar o Blog. A cada
processo, somente para enfrentar a fase inicial, há custos que
invariavelmente ultrapassam cinco ou dez mil reais com a contratação de
advogados — e ainda assim quando os honorários são camaradas.
É por estas razões que esta página eletrônica vai entrar em letargia a
partir de agora. O espaço vai continuar aqui, neste endereço
eletrônico. O acervo produzido ao longo dos últimos quatro anos
continuará à disposição dos internautas para consulta. E eventualmente,
voltarei a dar meus pitacos quando entender que isso é necessário. Mas a
produção sistemática de textos está encerrada.
Espero voltar a esta atividade quando perceber que o País está maduro
a ponto de não confundir críticas políticas com delitos de opinião.
Quando a manifestação do pensamento e a publicação de fatos não enseje
entre os inimigos da liberdade de imprensa campanhas monstruosas como
esta que pretende ’kirsnhnerizar’ o Brasil, trazendo de volta o
obscurantismo da censura prévia.
Por fim, digo apenas que essa pressão judicial calou o blog, mas não
conseguiu dobrar a opinião do blogueiro. E que me sinto orgulhoso por
ter conseguido cumprir o compromisso que me impus de respeitar a opinião
alheia mesmo quando ela afronta a do editor. Aqui, nunca houve censura a
comentários dos leitores que discordavam da minha maneira de ver o
mundo. E esta é minha prova de apreço pela liberdade de expressão —
inclusive quando ela me desfavorece.
A vocês que me acompanharam deixo meu muito obrigado. A gente vai continuar se encontrando em outra seara, a da televisão.
Muito obrigado. E até breve.