Sexta, 5 de
outubro de 2012
Por Ivan de Carvalho

Assim, aquele parâmetro com que se
pretendia, na véspera, medir as dificuldades da campanha de ACM Neto ficou
prejudicado. A julgar por tal parâmetro, o da agressividade, a campanha do
petista nada lhe ficou a dever. A não ser que se queira aplicar nisso a frase
bíblica do Antigo Testamento na qual o Senhor diz ser Deus zeloso, que pune os
erros dos pais nos filhos, “na terceira e na quarta gerações”, não há como
buscar seriedade na tentativa de transferir o DNA do conhecido episódio dos
grampos baianos de avô para neto – ou Neto. Se DNA fosse vírus e pudesse ser
transferido com tanta facilidade, logo se chegaria a epidemias impensáveis,
como nunca antes neste país.
Isto posto, muda-se de assunto, para
que também não passe em branco neste espaço, em dia tão eletrizante. No momento
em que estas linhas estavam sendo escritas, o revisor do processo do Mensalão
(Ação Penal 470) no Supremo Tribunal Federal havia votado pela absolvição dos
importantes réus José Genoíno, presidente do PT na época em que estava em
operação o esquema do Mensalão e José Dirceu, ministro-chefe da Casa Civil do
governo Lula, na mesma época.
Mas apesar do generoso entendimento
do revisor, a coisa estava braba para o chamado “núcleo político” ativo do
esquema. O relator Joaquim Barbosa, em seu voto, já condenara Dirceu, Genuíno e
o ex-tesoureiro da executiva nacional do PT, Delúbio Soares, entre outros réus
em julgamento ontem. A ministra Rosa Weber também já condenara Dirceu, Genoíno,
Delúbio, Marcos Valério e mais quatro pessoas ligadas a ele. E o ministro Luiz
Fux seguiu na mesma linha, condenando Dirceu, Genoíno, Delúbio e outros.
Note-se que, dos quatro ministros do
STF citados, três foram escolhidos e nomeados pelo ex-presidente Lula e um
(Fux) pela presidente Dilma Rousseff. Dos quatro, só o revisor Lewandowski,
como já era esperado, absolveu os dois réus politicamente mais importantes,
Dirceu e Genoíno. Pelo andar da carruagem, às vésperas da eleição, o STF não se
afasta da linha dura adotada desde o começo do julgamento e este poderá, sim,
ter sérias repercussões nas eleições de domingo e, mais do que agora, no
segundo turno, onde houver.
Muda-se mais uma vez de assunto, mas
sem abandonar o segundo turno. Em Salvador, as primeiras providências para a
segunda etapa das eleições – que ontem voltou a ser considerada uma certeza –
estão em pleno curso. Sabe-se que o candidato do PRB, bispo Márcio Marinho, é
apoio certo para o candidato Pelegrino, do PT.
Já declarações políticas
extremamente enfáticas do principal líder do PMDB da Bahia, Geddel Vieira Lima,
sobre o ex-senador Antônio Carlos Magalhães, as eleições em Salvador e a
posição de seu partido no segundo turno induzem fortemente à conclusão de que o
PMDB (cujo presidente estadual é seu irmão, o deputado Lúcio Vieira Lima) vai
apoiar ACM Neto no segundo turno (claro, se o ex-prefeito Mário Kertész, não
for classificado para essa fase do pleito). A campanha de Kertész na mídia
eletrônica melhorou muito na fase final e a candidatura experimentou
crescimento. Vale muito registrar: ontem, ele agradeceu a sua equipe de
campanha, reconheceu as dificuldades (para chegar ao segundo turno), mas não
jogou a toalha, fez um “agradecimento especial” aos irmãos Geddel e Lúcio
Vieira Lima e garantiu que, ao contrário do que muito se tem especulado, não
haverá rompimento político dele com os dois. Quanto ao mais, dirá o futuro
imediato.
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Este artigo foi
publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan Carvalho é
jornalista baiano.