Segunda, 29 de
outubro de 2012
Por Ivan de
Carvalho

Uma das coisas que cumpre dizer logo de saída
é que a eleição de prefeito de Salvador tem suas repercussões de caráter
nacional. Note-se que o PT elegeu ontem, e bem, o prefeito de São Paulo, maior
e mais importante cidade do país, o que, isoladamente, representa um importante
passo à frente no projeto de hegemonia política que move o partido que hoje
detém o Poder Executivo federal.
Algumas
derrotas importantes funcionam para neutralizar esse avanço petista. Logo no
primeiro turno, o PT perdeu duas eleições em que se empenhou a fundo. Em Belo
Horizonte, Patrus Ananias, cuja candidatura foi articulada principalmente pela
presidente Dilma Rousseff, perdeu feio para o prefeito Márcio Lacerda, do PSB e
reeleito já no primeiro turno com o apoio do senador tucano Aécio Neves. Em
Recife, o comando nacional do PT impôs a candidatura do ex-ministro da Saúde
Humberto Costa e o governador pernambucano Eduardo Campos, presidente nacional
do PSB, lançou um de seus secretários estaduais como candidato deste partido e
venceu também no primeiro turno.
Em Fortaleza, ontem, o PT, que
detinha a prefeitura há oito anos com Luiziane Lins perdeu-a também para o PSB,
com a vitória por seis pontos percentuais dos votos válidos sobre o candidato do
PT. Completando o quarteto de capitais politicamente importantes em que o PT
foi derrotado, em Salvador o democrata ACM Neto venceu o petista Nelson
Pelegrino com sete pontos de vantagem, considerados os votos válidos. .
Creio que vale a pena
assinalar, embora não seja Manaus uma capital de muita importância política, a
vitória espetacular que lá obteve o tucano Arthur Virgílio Neto, com 32 pontos
percentuais de vantagem sobre a candidata do PC do B apoiada pelo PT, Vanessa
Grazziotin. Isto porque Lula considera o ex-senador Arthur Virgílio um inimigo
(ele foi importante para a rejeição, no Congresso, da proposta de emenda
constitucional para eternização da CPMF) e até, além de ir, convenceu a
presidente Dilma Rousseff a também fazer comício em Manaus contra Arthur
Virgílio.
Uma outra repercussão nacional
da decisão dos eleitores de Salvador incide sobre o Democratas. Tecnicamente
sucessor do PFL, o DEM, por alguns contratempos, eleitorais e não eleitorais, e
também pela migração de uma grande parte de sua bancada no Congresso para o PSD
fundado pelo ex-democrata Gilberto Kassab (prefeito de São Paulo) deixou de ser
um grande partido e tornou-se um partido médio sob ameaça de transformar-se em
um pequeno partido.
A vitória de ACM Neto
(atualmente, líder do Democratas na Câmara dos Deputados) em Salvador, terceiro
maior colégio eleitoral do país, dá um sopro de vida ao partido,
proporcionando-lhe a chance de deter a queda para pequeno partido e alguma
condição para tentar uma eventual recuperação. Até porque o PSDB, maior partido
na oposição, não sabe fazer oposição e o DEM pode atender a esta necessidade
democrática, na qual tem adquirido prática. Atuação oposicionista, não por
intermédio de Neto, que vai ocupar-se muito com os problemas de Salvador, mas
de suas bancadas no Congresso.
Creio que as mais notórias
implicações nacionais da vitória democrata na capital da Bahia – enfrentando
uma imensa aliança política, mas contando com uma admirável teimosia ou
rebeldia do eleitor, que rejeitou a tese do “alinhamento” – estão aí
ligeiramente assinaladas. A tese do “alinhamento” e sua rejeição constituem tema
de inegável interesse, para futuras considerações.
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Este artigo foi publicado originariamente na
Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.