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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 27 de maio de 2013

O orçamento de 2013, os juros da dívida e a balança comercial

Segunda, 27 de maio de 2013
 
Pedro do Coutto

Os maiores jornais do país publicaram esta semana reportagens focalizando o desempenho da economia, os cortes orçamentários anunciados pelo governo e os resultados, nos primeiros quatro meses, do cotejo entre as exportações, de um lado, as importações e as remessas de lucros, de outro. O Estado de São Paulo, por exemplo, apontou um déficit da ordem de 33 bilhões de dólares na balança comercial, de janeiro a abril, noventa por cento a maias que em igual período de 2012. As exportações brasileiras recuaram, as importações e as remessas de lucros cresceram. O resultado é preocupante, já que o déficit, se mantido, vai exigir a destinação de recursos oficiais para cobri-lo. Uma das alternativas retirar recursos do saldo das reservas que o Brasil acumulou no exterior, de acordo com o jornal na escala de 380 bilhões de dólares. Mas esta não é a questão essencial.


O essencial é que as exportações foram contidas. Qual a razão. É preciso atuar nas causas, não somente nos efeitos. Eles cessarão quando as causas cessarem. É possível que as exportações tenham enfrentado dificuldade em consequência dos preços no mercado internacional e suas variações. Mas existem outras questões. Não tem muita influência no panorama global os cortes de 28 bilhões de reais aplicados nas despesas orçamentárias como O Globo destacou. Lendo-se  orçamento para o atual exercício publicado no Diário Oficial de 5 de abril, verifica-se que seu montante é de 2,2 trilhões de reais. Os cortes representariam assim praticamente 1,4% da lei de meios. Muito pouco. A contenção de despesas, neste caso, não apresenta maiores dimensões.

O pagamento dos juros pela rolagem da dívida interna sim. No ano passado, conforme o balanço da Secretaria do Tesouro Nacional publicado na edição de 30 de janeiro no Diário Oficial, este item da despesa pública alcançou 140,5 bilhões de reais. Tudo indica tais desembolsos vão prosseguir este ano, pois o endividamento não recuou. Ao contrário. A leitura do DO de 5 de abril revela que a lei orçamentária sancionada pela presidente Dilma Rousseff prevê um refinamento no montante de 610 bilhões e 700 milhões de reais. Se há refinanciamento é porque a soma dos compromissos não foi reduzida. Pois não aparece no texto nenhuma informação sobre este aspecto.

Vale a pena ler o orçamento e procurar entender os seus efeitos no processo econômico em especial e na sociedade brasileira em geral. Por exemplo: os investimentos reprodutivos, execução dos projetos do governo, entre eles os das grandes hidrelétricas, estão previstos numa escala de 110,6 bilhões de reais. Praticamente, em percentuais redondos, apenas 5% do total da lei de meios. Paralelamente é necessário considerar a taxa de inflação, que está atingindo 6,5% para doze meses, e o aumento da população do país que, no mesmo espaço de tempo, cresce à velocidade de 1,2%. Para efeito de correção plena, em minha opinião, tem que se adicionar o índice inflacionário à taxa demográfica. Isso porque as ações de governo tem que se voltar para o número efetivo de habitantes.

Temos assim um quadro bastante sensível da questão econômico-financeira. O país cresce menos do que deveria porque investe pouco. E, na outra ponta, investe pouco porque recursos públicos são drenados e direcionados para o pagamento de juros aos bancos e também agora para o financiamento dos resultados comerciais negativos. Era o contrário. Tanto assim que o Brasil acumulou um saldo de 380 bilhões de dólares no exterior.