Sábado, 25 de maio de 2013
Da Pública, Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo
Cartas entre Henry Kissinger e o chanceler brasileiro Antônio da Silveira descrevem aliança para manter Cuba fora da OEA
No dia 22 de agosto de 1975, o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Antônio Azeredo da Silveira, escreveu mais uma longa carta para
seu colega Henry Kissinger, que havia meia década ditava a política
externa americana. As dezenas de cartas trocadas entre os dois são
carregadas de um afeto pouco comum em correspondências diplomáticas, e
Silveira sempre as iniciava com um “Meu querido Henry”. Nessa carta,
porém, o embaixador brasileiro deixa clara sua admiração.
Apesar de não podermos nos dar ao luxo de prazeres puramente intelectuais, eu quero te dizer, candidamente, que a franca e honesta troca de cartas tem sido, entre os problemas desconcertantes que nos afligem, uma fonte de satisfação no meu trabalho como ministro brasileiro das relações exteriores.Saudações afetuosas, Antônio
A
carta marcava o fim de uma longa e próxima aliança entre os governos
dos EUA e do Brasil – selada pela relação pessoal entre Kissinger e
Silveira – que incluir articulações em diversos temas. Pouco depois de
se conhecerem, em 1974, os dois se uniram refrear a volta de Cuba à OEA
(de onde for a expulsa em 1962) como queriam países como México,
Venezuela e Colômbia. O Brasil servia, na visão do secretário americano,
como linha de apoio à sua política em relação a Cuba. Conseguiram,
assim, moderar os países mais ansiosos por comercializar com a ilha
comunista, protelando por um ano o fim do embargo na OEA, que impunha a
proibição a qualquer país-membro de manter relações com Cuba.
Nas dezenas de documentos constantes da Biblioteca de Documentos Diplomáticos dos EUA,
ou PlusD, do WikiLeaks, sobre o assunto, o governo brasileiro se mostra
ainda mais radical do que os EUA, em relação à questão cubana; teve de
ser convencido pelo próprio Kissinger a ter uma postura mais maleável
nas negociações. A correspondência de 1975, Silveira defende medidas
mais duras contra Cuba, chegando a repreender o amigo pelo fim das
restrições de comércio entre subsidiárias de empresas americanas com
Cuba.