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(Millôr Fernandes)

terça-feira, 13 de agosto de 2019

O governador do DF não sabe que usa o SUS.

Terça, 13 de agosto de 2019
Mais que estarrecedor e triste, é vergonhoso, que manchetes de jornais tragam estampadas as relações tênues entre o púbico e privado na gestão do SUS no DF. Assim, não precisamos procurar por razões adicionais para a verdadeira hecatombe que se abateu sobre a saúde pública, um câncer a fomentar a desesperança, no coração dos poderes da República.
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Ao ler o comentário do governador do DF ao dizer “Quando quero atendimento mais rápido levo à rede privada”, publicado pelo Correio Braziliense na edição de 12/08, em se tratando do seu dever de cuidar da saúde de todos os indivíduos, famílias e comunidades da cidade que se colocou a disposição para administrar e prometeu resolver em seis meses os graves problemas de saúde pública (Decreto nº 39.619, de 07/01/2019), é no mínimo estarrecedor.
Estarrecedor, diante de tamanha insensibilidade de um governante que naturaliza ver os hospitais públicos da capital da República mais parecendo cenários de um campo de batalha, com pessoas, idosas ou não, em estado grave, sem atendimento, em corredores e cadeiras, ou muitas vezes devolvidas para casa sem nenhuma atenção, isso quando são atendidas. Mais grave, toma essa situação de desumanidade como narrativa, discurso comum para fazer apologia ao setor privado, indicando ser esse o caminho para a solução dos problemas. Que tristeza!
Tristeza por ver um gestor do Estado, defendendo o mercado, sem conhecimento suficiente, falando meias verdades. De fato, ele e sua família possuem plano de saúde. Esqueceu de dizer que é pago com o dinheiro público. Que desconta em seu imposto de renda todos os anos. Deveria dar exemplo e lutar por recursos para a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS).
Afinal, dispõe de tempo para subir nos palanques, mas não vai ao congresso defender a criação de uma Contribuição sobre as Grandes Transações Financeiras (CGTF), com destinação de 50% para o setor Saúde; o estabelecimento de Contribuição sobre as grandes fortunas, extinção da EC-95/2016, extinção da Desvinculação de Receitas da União (DRU), essa questão diz respeito a seguridade como um todo; e ainda, pela eliminação dos limites de gastos com pessoal para a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) - saúde e educação.
Mas o que esperar de um político cujo partido deu um golpe em 2016 e congelou os gastos com a saúde e a educação por 20 anos (EC/96), acarretando e aprofundando a crise da saúde pública do Distrito Federal?
Estarrecedor e triste, porque é pouco letrado no tocante ao conhecimento das leis que regem o SUS, a constitucional e infraconstitucional, porque se assim não o fosse, saberia que USA o sistema, desde quando vacina seus filhos, se alimenta, ingere bebidas e medicamentos, cosméticos ou diversos produtos, obrigatoriamente, registrados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Além das ações de vigilância sanitária, ambiental, nutricional e saúde do trabalhador. Recorde, se não fossem essas vigilâncias, as indústrias, que tem o lucro como objetivo de mercado, fariam o que bem entendessem.
Saber que o SUS não é apenas o atendimento em hospitais é uma surpresa para grande parte da população, mas, é obrigação dos governantes conhecê-lo em sua integralidade, dar bons exemplos e falar para o povo com a ética da verdade.
Ética essa que passa, necessariamente, pela prestação de contas para a população, que também não sabe exatamente de que forma são realizadas as contratações dos serviços terceirizados da saúde pública. E, por falta de informação, acaba admitindo passivamente o discurso da eficácia, eficiência, efetividade e qualidade de serviços que se quer foram avaliados pelos verdadeiros donos dos recursos públicos.
Mais que estarrecedor e triste, é vergonhoso, que manchetes de jornais tragam estampadas as relações tênues entre o púbico e privado na gestão do SUS no DF. Assim, não precisamos procurar por razões adicionais para a verdadeira hecatombe que se abateu sobre a saúde pública, um câncer a fomentar a desesperança, no coração dos poderes da República.
Uma vergonha que poderia ser evitada, e que deveria gerar profunda indignação e imediata reação em todas as pessoas que se preocupam, assim como eu, com a vida e com a dignidade humanas.