Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Escola é lugar de pedagogo e não de policiais.

Terça, 20 de agosto de 2019
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Um projeto de escola militar não cabe no Distrito Federal, tão pouco em nenhuma escola de países civilizados e que desejam que seu povo conviva, pacificamente, numa coletividade de aprendizagem inclusiva. Exemplos de violência não nos faltam, é verdade, mas os educadores sempre foram moderadores por excelência das questões morais, éticas e físicas que porventura existam no ambiente escolar, restando aos policiais, seu papel de segurança pública, o que já não é pouco.
A ciência da educação demanda conhecimento, formação específica em diversas áreas do saber fazer, assim como se exige da formação militar. Ambas possuem especificidades que, quando corretamente utilizadas em seus devidos ambientes, nos asseguram um ensino promotor da cultura de paz e não violência em suas diferentes expressões, e nesse lugar não cabe autoritarismo nem abuso de poder.
Quando um governante abusa de sua autoridade e age com intolerância às oposições da Câmara Legislativa, frutos das urnas, onde a população depositou seu voto, elegendo assim seus representantes, eis a prova da ausência de temperança, inteligência emocional, zelo à liturgia dos cargos e ao decoro do exercício da função. Pedidos de desculpas às “esquerdalhas”, não caberiam no discurso de um governante coerente e aberto ao diálogo, em particular, no que diz respeito ao mandato do deputado Fábio Félix (PSOL), assistente social, socialista de esquerda, eleito por sua trajetória nos movimentos sociais em defesa dos direitos humanos e da população LGBTQI+. É preciso respeitar o mandato de Fábio Félix e dos demais deputados de esquerda da CLDF, assim reza a democracia em profundidade.
Não basta demitir Secretários. Faz-se necessário assegurar às pastas a eles delegadas, a autonomia do exercício do cargo, que passa, sobretudo, pelo poder dos seus atos e narrativas. Talvez os sentidos contrários às “ordens” recebidas sejam interpretados como um pedido de desligamento do cargo. Na lógica do poder, é preciso recordar para o que nos alerta o filósofo Byung-Chul Han: “quanto mais poderoso for o poder, mais silenciosamente ele atuará. Onde ele precise dar mostras de si, é porque já está enfraquecido”, típico de governantes autoritários, déspotas pouco esclarecidos. Nesse sentido, gritos, nunca são bem-vindos.
Em situações dessa natureza, seria no mínimo razoável que a sociedade do DF defendesse o patrimônio das escolas públicas que vem se instituindo em nossa jovem capital, apesar de governos que entram e saem. Nossas escolas precisam se manter como lugares onde se pratiquem o exercício pedagógico em sua autonomia, a altivez e o exercício pleno da democracia. Nessa tarefa todos devem se envolver, e, portanto, não podemos deixar que governantes hajam inapropriadamente, além da vontade daqueles que o elegeram, e da lei, à qual, por dever de ofício, deveriam ser fieis.
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Fátima Sousa
Paraibana, 57 anos de vida, 40 anos dedicados a saúde e a gestão pública; 
Professora e pesquisadora da Universidade de Brasília;
Enfermeira Sanitarista, Doutora em Ciências da Saúde, Mestre em Ciências Sociais; 
Doutora Honoris Causa;
Implantou o ‘Saúde da Família’ no Brasil, depois do sucesso na Paraíba e em São Paulo capital; 
Implantou os Agentes Comunitários de Saúde;
Dirigiu a Faculdade de Saúde da UnB: 5 cursos avaliados com nota máxima;
Lutou pela criação do SUS na constituinte de 1988;
Premiada pela Organização Panamericana de Saúde, pelo Ministério da Saúde e pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde.