Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)
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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Extrema direita e mídia hegemônica usam ‘terrorismo econômico’ para justificar cortes sociais, diz economista

Segunda, 17 de fevereiro de 2025

Do Brasil de Fato
Para Fábio Sobral, convidado do podcast Três por Quatro, oposição traça cenário 'mentiroso' e prejudica população

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13.fev.2025

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad - Marcelo Camargo/Agência Brasil


A extrema direita e a mídia hegemônica pregam um "terrorismo econômico na população", enfatizando o aumento dos gastos públicos e reforçando a ideia de que a economia do Brasil caminha mal. Um cenário "mentiroso para que as pessoas promovam a redução de gastos sociais". Essa é a avaliação de Fábio Sobral, professor de economia da Universidade Federal do Ceará (UFC), e convidado do podcast Três Por Quatro desta quinta-feira (13).

No episódio desta semana, transmitido ao vivo pelo canal do Brasil de Fato no YouTube, os jornalistas Nara Lacerda e José Eduardo Bernardes conversaram com Sobral e Juliane Furno, economista e professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), sobre os gastos e investimentos públicos e os desdobramentos sobre o panorama da saúde econômica brasileira

Furno salienta como "cortar gastos não nos leva ao equilíbrio fiscal" e que eventuais reduções, fruto de medidas de austeridade fiscal, interferem diretamente na vida e bem-estar da população, principalmente nas camadas mais pobres, o que se reflete nos resultados no Produto Interno Bruto (PIB).

"Quando o Brasil entra nessa lógica mais 'austericida' e neoliberal a partir do ano de 2016, culpando a crise econômica pelos excessos, sobretudo de gastos públicos e ativismo estatal, é instituída a lei de Teto de Gastos, que inclusive estava na Constituição e propunha resolver o problema do desequilíbrio fiscal cortando gastos. O resultado foi que o desequilíbrio fiscal aumentou no país", relembra.


Nesse sentido, Sobral explica que o aumento dos gastos públicos, principalmente os voltados a saúde e educação, só reforça como "o governo só ganha se gastar", visto que o investimento na população aquece a economia e reflete no bem-estar social e econômico em todo território nacional. "Na medida em que o governo gasta, ele promove uma espécie de reação em cadeia, onde outros setores começam a produzir e arrecadar tributos", ilustra o professor.

Para Furno, a tentativa de associar despesas sociais a um descontrole financeiro ignora o impacto positivo que esses investimentos geram na economia. "Na verdade, quando se cortam gastos sociais, a arrecadação também cai, porque menos dinheiro circula na economia, afetando diretamente o consumo e a produção", aponta.

Sobral destaca ainda as contradições do governo brasileiro, que aplica parte de seus recursos em títulos da dívida emitidos pelos Estados Unidos. "Nós somos responsáveis por sustentar os gastos do governo americano. Mas eles querem reduzir os gastos com educação na escola pública, no hospital público, entende? O Banco Central comprou títulos da dívida pública americana e esses recursos ajudam a financiar as bombas que caem em Gaza e no sul do Líbano", expõe.

O economista sugere ainda que enquanto o país contribui indiretamente para o financiamento do orçamento dos EUA, que inclui despesas militares, o "Brasil segue com dificuldades para investir em infraestrutura, educação e saúde para a sua própria população".

O impacto da exportação no preço dos alimentos

Além do impacto direto dos investimentos sociais, o preço dos alimentos se tornou um dos principais desafios do governo. A alta constante de itens essenciais, como o café e o arroz, tem sido explicada não apenas por fatores climáticos, mas também por decisões estratégicas do agronegócio. "Há uma opção do agronegócio de exportar mercadorias ao invés de priorizar o mercado interno", analisa Juliane Furno.

Segundo a comentarista, essa decisão resulta em preços elevados para os consumidores brasileiros, pois a produção nacional segue atrelada às cotações internacionais e à valorização do dólar. "A prioridade tem que ser o mercado interno e matar a fome da nossa sociedade", defende a economista.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

A teoria econômica dos 1%: Como desconstruir a teoria convencional

Segunda, 4 de julho de 2016
Dentre os absurdos reacionários inclui-se que discriminação de gênero e de raça é uma ilusão, que o desemprego é voluntário e que o setor público é ineficiente. 
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Do resistir.info

por John Weeks [*]

 

























Durante muitos anos perguntei-me porque tantas pessoas bem informadas manifestam ignorância de aspectos simples da nossa economia. Demorou décadas para perceber que a resposta a esta pergunta repousa em grande parte na resposta a uma segunda: por que estudantes da teoria econômica convencional (mainstream) não sabem quase nada acerca da economia real, mas consideram-se peritos embrionários neste campo?

As respostas a estas perguntas são semelhantes e simples. Elas motivaram o meu livro. Os economistas convencionais têm tido um êxito extraordinário em doutrinar pessoas levando-as a acreditar que os trabalhos da economia são demasiado complexos para qualquer pessoa entender, exceto peritos (isto é, os próprios economistas). A economia que eles afirmam revelar-nos não existe. Eles criaram-na, a alternativa reacionária ao mundo no qual as pessoas vivem e trabalham. Ensinar estudantes acerca desta economia imaginária impede-os, assim como o público, de entender a economia real.

domingo, 29 de maio de 2016

IGUAIS: PT, PMDB, PSDB, DEM, PP (e outros), Dilma, Lula, Temer, Cunha, FHC, Aécio, Jucá, Dirceu (e outros) usam os mesmos métodos políticos e defendem os mesmos interesses socioeconômicos

Domingo, 29 de maio de 2016
Por
Aldemario Araujo Castro
Advogado, Procurador da Fazenda Nacional, Professor da Universidade Católica de Brasília - UCB, Mestre em Direito pela Universidade Católica de Brasília - UCB

 

Foto do perfil de Aldemario Araujo Nas duas últimas décadas, pelo menos, o Brasil figura entre as dez maiores economias do mundo. A nossa enorme riqueza econômica, medida anualmente pelo famoso PIB (Produto Interno Bruto), convive com uma das sociedades mais desiguais do planeta. Em 2014, o País figurou na 75a posição em termos de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), divulgado pela ONU (Organização das Nações Unidas).

Nessa linha, sustento que o mais relevante problema do Brasil consiste na apropriação profundamente desigual da riqueza produzida, viabilizada por um conjunto de mecanismos políticos, sociais e econômicos cuidadosamente construídos e mantidos pelas elites dirigentes. Essa triste mazela da desigualdade socioeconômica profunda é a principal, embora não única, causa de uma série de problemas crescentes e preocupantes (como as violências física e simbólica, pobreza, fome, miséria, discriminações, preconceitos, etc).

Não cabe, portanto, raciocinar e trabalhar com ingenuidades e voluntarismos. Todos, rigorosamente todos, como agentes políticos e econômicos, conscientes ou não desses papéis, atuam em busca de um melhor posicionamento na repartição da riqueza criada. É muito sintomática nesse sentido a frase do megaespeculador George Soros. Disse o Midas das finanças globais algo assim: “A luta de classes existe e nós estamos ganhando”.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Destruição econômica e social

Segunda, 18 de maio de 2015
Adriano Benayon. Foto: Arquivo
Foi muito divulgada esta asserção do professor Wanderley Guilherme dos Santos: “Depois de criado, o Estado liberal transforma-se no estado em que a hegemonia burguesa não é seriamente desafiada. Trata-se de um estado cuja intervenção em assuntos sociais e econômicos tem por fim garantir a operação do mercado como o mais importante mecanismo de extração e alocação de valores e bens.“
2. Esse cientista político destaca a óbvia natureza intervencionista (não-admitida) do Estado dito liberal, sem, porém, propor uma denominação que saia dessa contradição em termos.
3. De resto, os muitos que repetem o termo (neo)liberal, mesmo sabendo-o falso, colaboram com a enganosa comunicação social do capitalismo.
4. O mesmo cientista afirma: “O Estado liberal não é de modo algum um Estado não intervencionista. Muito pelo contrário, o Estado liberal está sempre intervindo, a fim de afastar qualquer obstáculo ao funcionamento ‘natural’ e ‘automático’ do mercado.”
5. Aí está um engano sério. O mercado, nas mãos dos oligopólios e carteis, não funciona natural nem automaticamente: ele é controlado e manipulado por eles, e lhes serve de álibi, ao usarem o termo impessoal “mercado” em relação a ações praticadas por pessoas físicas, a serviço de grupos concentradores de poder econômico e financeiro.
6. Isso é exatamente o contrário do funcionamento ‘natural’ e ‘automático’ do mercado e também do que teorizaram os clássicos da economia sobre mercados livres, com participantes igualmente submetidos à concorrência. Na realidade, a intervenção do Estado capitalista:
1) afasta a aplicação dos mecanismos de defesa econômica do Estado, coibidora dos abusos praticados pelos concentradores;
2) promove o aumento da concentração do poder da oligarquia financeira, através de subsídios governamentais e das políticas fiscal e monetária, entre outras.
7. Portanto, capitalismo é o sistema político e econômico que não admite restrições à concentração dos meios de produção e financeiros, ademais de a fomentar, nas mãos da oligarquia, por menor que seja o número das pessoas que a compõem.
8. Nos países centrais ou imperiais, o Estado liderou o desenvolvimento econômico e nunca abandonou o fomento ao setor privado. À medida que este ganhou corpo, o Estado passou a apresentar-se como liberal, a fazer concessões no campo social e a adotar, na política, formas exteriormente democráticas.
9. Nos períodos de crescimento e bem mais nos de crises,  a concentração foi crescendo,  e regrediram os avanços, surgindo o fascismo (antes da 2ª Guerra Mundial). E o fascismo não-declarado, como nos EUA, desde antes do inside job de setembro de 2001 (destruição das Torres Gêmeas e míssil lançado no Pentágono).
10. A concentração do poder financeiro mundial alcançou o incrível grau presente (147 corporações transnacionais, vinculadas a apenas 50 grupos financeiros, detendo mais de 40% da riqueza mundial).
11. Isso se foi intensificando por mais de 100 anos após se terem os concentradores tornado bastante fortes, para que o Estado capitalista os protegesse adicionalmente. Os setores mais aquinhoados foram o das armas e a finança.
12. O grande impulso recente deu-se através da financeirização da economia, abusando os bancos dos privilégios de criar moeda e títulos de toda sorte. Seus acionistas e executivos locupletaram-se assim, beneficiados pela desregulamentação dos mercados financeiros, a qual lhes proporcionou abusar da alavancagem e de fraudes diversas.
13. Ilustrativa da subordinação do Estado capitalista, falsamente dito liberal, à oligarquia financeira foi a resposta ao colapso financeiro de 2007/2008, provendo mais de 20 trilhões de dólares em ajuda aos banqueiros delinquentes, ao invés de realizar as correções estruturais necessárias ao bem da economia e da justiça.
14. De há muito, as intervenções imperiais  – militares ou não – recrudescem em todos os continentes, gerando sistemas políticos pró-imperiais e Estados vassalos, como se tornou o Brasil, à raiz do golpe de Estado de agosto de 1954, passando a partir das Instruções 113 da SUMOC e seguintes (janeiro de 1955) a subsidiar os investimentos estrangeiros diretos, de modo absurdo.
15. Não há como falar em capitalismo periférico. Há somente indivíduos riquíssimos originários das periferias, como muitos outros dos países centrais, subordinados à oligarquia capitalista mundial.
16. À medida que essa oligarquia se foi apropriando, no Brasil, da estrutura econômica, foi também promovendo sucessivas intervenções e manobras, no campo das instituições políticas, que propiciaram intensificar ainda mais essa apropriação.
17. Temos agora mais uma crise. Nesta, a baixa resiliência – devida à desindustrialização e à desnacionalização – combina-se com o déficit das transações correntes exteriores, mais os déficits das contas públicas nos três níveis da Federação, resultando em grande salto qualitativo para nova degradação econômica e social.
18. Consideremos as taxas básicas dos juros dos títulos públicos, uma das mega-fontes de agravamento do caos decorrente do “ajuste” em curso.
19. Nos últimos cinco meses, a taxa SELIC foi elevada várias vezes. Era 11,25%, em novembro de 2014, e chegou a 13,25%, em 30.04.2015, o que significa taxa efetiva em torno de 16,25% aa.
20. Em artigo anterior, comparei a aplicação das taxas de 12% aa. e de 18% aa., durante 30 anos, sobre o atual montante da dívida mobiliária interna, de cerca de R$ 3 trilhões:  a primeira resultaria em R$ 90 trilhões, e a segunda em incríveis R$ 430 trilhões, quantia igual ao dobro da soma dos PIBs de todos os países do mundo.
21. A taxa atual alçaria o estoque da dívida para R$ 274,73 trilhões de reais.
22. Tal como as letais taxas de juros, as demais políticas do “ajuste” só podem ter por objetivo concluir a desestruturação (destruição) econômica e social do País.
23. Em função dos estratosféricos juros da dívida e também da intenção restritiva do “ajuste”, os investimentos públicos sofrem enormes cortes. Do mesmo modo, a demolição de direitos sociais, incluindo generalizar a terceirização, significa extrair sangue de organismos anêmicos.
24. É inútil esperar resultados positivos de tais medidas, porque, na atual estrutura, dominada pelos carteis transnacionais, e dada a infra-estrutura existente, nenhum “ajuste” levará a diminuir significativamente o “custo Brasil”, qualquer que seja a taxa de câmbio.
25. Até mesmo as subsidiárias das transnacionais, que poderiam apresentar custos competitivos, inclusive por não precisarem do crédito local, absurdamente caro, preferem, em vez disso, auferir lucros fabulosos no País, reforçados pelos incríveis subsídios que lhes dão a União, Estados e municípios.
26. Elas remetem esses lucros ao exterior, disfarçados em despesas por serviços, superfaturamento de importações (dos equipamentos, máquinas e insumos)  e subfaturamento de exportações. Assim, seus custos são forçosamente altos.
27. Já as empresas de capital nacional vêm sendo alijadas do mercado, desde 1954.  Além de não contarem com as vantagens dos incentivos e subsídios, que só as transnacionais estão em condições de aproveitar, elas foram desfavorecidas pelas políticas públicas e deixadas à mercê das práticas monopolistas dos carteis multinacionais.
28. A política de crédito as afeta de modo especialmente agudo, pois os juros que despendem – são múltiplos da taxa dos títulos públicos. Já as transnacionais, além de não necessitarem de crédito, bastando-lhes reinvestir pequena parcela dos lucros, têm acesso a crédito barato no exterior.
29. A partir dos anos 90 e após a devastação produzida pela dívida externa, passou-se às indecentes privatizações, já que a classe dominante eram os controladores das transnacionais, cujos governos impõem suas vontades, diretamente e através de agentes, cooptados e corrompidos.
30. Sob o modelo dependente, o País carece de poder armado e financeiro para fazer valer seus interesses na esfera mundial, e sua inserção externa é a pior possível, pois os segmentos de maior valor agregado e maior emprego de tecnologia são controlados pelos carteis mundiais.
31. A própria infra-estrutura, como a dos transportes, inclusive em sua orientação geográfica, foi desenhada para servir o interesse das corporações estrangeiras, tal como a escolha dos investimentos, priorizando a extração de minérios em escalas imensas, com pouco ou nenhum processamento no País.
32. Também na agricultura, privilegia-se a grande escala, segundo as regras dos carteis mundiais do agronegócio e suas tradings, abusando-se dos agrotóxicos, transgênicos e fertilizantes químicos, para grande dano dos solos e da saúde pública.
33. Entre os grandes escárnios ilustrativos da submissão do Brasil à condição de periferia imperial é a Lei Kandir, que isenta de tributos as exportações primárias.(e ninguem comenta, nem nos jornais, nem no parlamento…)  A Inglaterra entendeu, já no Século XIII, que era vital sair dessa condição, quando a lã de seus carneiros ia para as indústrias de Flandres e da Itália.
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Adriano Benayon é doutor em economia pela Universidade de Hamburgo e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
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Leia outros artigos de Adriano Benayon clicando aqui

terça-feira, 3 de março de 2015

O PAPA E O ESTRUME DO DIABO

3 de mar de 2015
Por Mauro Santayana
http://www.maurosantayana.com

O Papa Francisco está sendo amplamente atacado na internet, por ter dito, em  cerimônia, em Roma, que “o dinheiro é o estrume do diabo” e que quando se torna um ídolo “ele comanda as escolhas do homem".

Acima e abaixo da cintura, houve de tudo. 

De adjetivos como comunista, “argentino hipócrita”, demagogo e outros aqui impublicáveis, a sugestões de que ele se mude para uma favela, e - a campeã de todas - que distribua para os pobres o dinheiro do Vaticano. 

É cedo, historicamente, para que se conheça bem este novo papa, mas, pelo que se tem visto até agora, não se pode duvidar  de que daria o dinheiro do Vaticano aos pobres, tivesse poder para isso, não fosse a Igreja que herdou dominada por nababos conservadores colocados lá pelos dois pontífices anteriores, e ele estivesse certo de que essa decisão fosse resolver, definitivamente, a questão da desigualdade e da pobreza em nosso mundo. Inteligente, o Papa sabe que a raiz da  miséria e da injustiça não está na falta de dinheiro mas na falta de vergonha,  de certa minoria que possui muito, muitíssimo,  em um planeta em que centenas de milhões de pessoas ainda vivem com menos de dois dólares por dia. 

E que essa situação se deve, em grande parte, justamente à idolatria cada vez maior pelo dinheiro, o estrume do Bezerro de Ouro que estende a sombra de seus cornos sobre a planície nua, os precipícios e falésias do destino humano.

sábado, 29 de setembro de 2012

Seis coisas para saber sobre os 21 trilhões escondidos em paraísos fiscais

Sábado, 29 de setembro de 2012
O volume de riqueza guardado em paraísos fiscais, se contabilizado, não apenas alteraria profundamente a atual quantificação da desigualdade no mundo, como converteria alguns dos países mais pobres do planeta de devedores em credores

Por Sarah Jaffe, em ODiario.info

21 trilhões de dólares. É isso que as pessoas mais ricas do mundo escondem em paraísos fiscais por todo o mundo. E poderia ser mais, até US$ 32 trilhões; a quantia real é, obviamente, quase impossível de determinar.

E enquanto os governos se veem obrigados a reduzir gastos e a despedir os seus trabalhadores, invocando a necessidade de “austeridade” devido à desaceleração da economia, os ultra-ricos – menos de 10 milhões de pessoas –, esconderam uma quantia equivalente às economias dos EUA e Japão combinadas. Isto é o que revela um novo relatório da Rede de Justiça Tributaria (Tax Justice Network) [3], e os seus resultados são estarrecedores. A perda de contribuições fiscais para os refúgios fiscais no estrangeiro, sublinham, “é suficientemente grande para fazer uma diferença significativa em todas as medições convencionais da desigualdade. Dado que a maioria da riqueza financeira escondida pertence a uma pequena elite, o impacto é impressionante”.
(Foto http://www.flickr.com/photos/68751915@N05/)
James S. Henry, ex economista em McKinsey & Co. e autor do livro “Os banqueiros de sangue” [4] e de artigos para publicações como The Nation e The New York Times, investigou a informação do Banco de Pagamentos Internacionais, do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial, das Nações Unidas, dos bancos centrais e de analistas do setor privado e deparou-se com os indícios de uma bolsa gigante de dinheiro vivo flutuando nessa zona nebulosa conhecida como “offshore” (e isto tratando apenas do dinheiro, uma vez que o relatório não abrange coisas como bens de raiz, iates, arte e outras formas usadas pelos super-ricos para ocultar a sua riqueza, livre de impostos, nos paraísos fiscais no estrangeiro). Henry fala de um “buraco negro” na economia mundial e sublinha que, “embora me tenha esforçado para errar por defeito para o lado conservador, os resultados são estarrecedores”.

O relatório contém uma grande quantidade de informação, pelo que nos concentramos em seis coisas que todos devemos saber sobre o dinheiro que os mais ricos do mundo escondem do resto de nós todos.

1. Conheça o 0,001%

“Segundo as nossas estimativas, pelo menos um terço de toda a riqueza financeira privada, e quase metade de toda a riqueza em paraísos fiscais, é propriedade das 91 mil pessoas mais ricas do mundo, apenas 0,001% da população mundial”, diz o relatório. Essas 91 mil pessoas são donas nos EUA de cerca de US$ 9,8 trilhões do total estimado neste relatório – e menos de dez milhões de pessoas são donas do total.

Quem são essas pessoas? Sabemos que são os mais ricos, mas o que mais sabemos acerca deles? O relatório menciona “especuladores imobiliários chineses de 30 anos de idade e magnatas do software de Silicon Valley”, e pessoas cuja riqueza provém do petróleo e do tráfico de drogas. Não menciona, embora pudesse, candidatos presidenciais dos EUA como Mitt Romney, famoso pelas críticas de que é alvo por ter dinheiro guardado num conta bancária na Suíça e em investimentos sediados nas Ilhas Cayman. (PolitiFact classificou estas declarações num recente anúncio de Obama como “verdade” [5]).

Os magnatas da droga, naturalmente, têm necessidade de ocultar os seus ganhos ilícitos, mas o que muitos outros ultra-ricos querem é simplesmente evitar pagar impostos, construindo complicados fideicomissos e outros investimentos apenas para poupar alguns poucos pontos mais naquilo que devem pagar aos seus respectivos países. E tudo se acumula.

2. Onde está o dinheiro? É complicado

“Offshore”, segundo Henry, já não é um lugar físico, embora exista ainda uma grande quantidade de lugares como Cingapura e Suiça, sublinha, que ainda se especializam em proporcionar “residências físicas seguras de baixos impostos” aos ricos do mundo.
 
Mas nos dias de hoje, a riqueza “offshore” é virtual – Henry descreve “localizações nominais, hiper-portáteis, multi-jurisdiccionais e frequentemente muito temporárias de redes de entidades legais e quase-legais e outros tipos de arranjos”. Uma empresa pode estar sediada numa jurisdição, mas é propriedade de um fideicomisso sedeado em outro lugar, e administrada por administradores em um terceiro lugar. “Em última instancia, por conseguinte, o termo “offshore” refere-se a um conjunto de capacidades”, em vez de a um lugar ou vários lugares.

Também é importante, assinala o relatório, distinguir entre os “paraísos intermediários” – lugares nos quais pensa a maioria das pessoas quando pensa em paraísos fiscais, como as Ilhas Cayman de Romney, as Bermudas ou a Suíça – e os “paraísos de destino”, que incluem os EUA, o Reino Unido e inclusive a Alemanha. Estes destinos são desejáveis dado que proporcionam “mercados regulados de valores relativamente eficientes, bancos apoiados por grandes populações de contribuintes e pelas companhias de seguros; códigos legais bem desenvolvidos, advogados competentes, poderes judiciais independentes e estados de direito”.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Dura realidade

Terça, 12 de julho de 2011
De Paulo Metri, em "Rumos do Brasil*"

ATO ÚNICO
(As cortinas se abrem e aparece uma sala de órgão federal do governo americano, com seis homens e duas mulheres sentados em volta de enorme mesa retangular)

Homem da cabeceira – Estamos reunidos, hoje, para tratar da questão dos movimentos nacionalistas da América do Sul. Há necessidade de nos preocuparmos?

Homem 1 – É claro que já tivemos as fases dos militares e dos neoliberais que nos tranqüilizaram muito, às suas épocas. Hoje, temos arroubos nacionalistas que, se não forem contidos, poderão acarretar danos sérios.

Mulher 1 – Vamos ser práticos e focar no que é importante. Não podemos esquecer que nossa agência é de inteligência. Brasil e Venezuela são nossos maiores problemas, hoje.  Há nacionalistas em outros países, mas a repercussão não é tão grande quanto as destes dois. Venezuela, por seu petróleo e por Chávez. Passou despercebido por todos, mas as reservas venezuelanas, nos últimos cinco anos, cresceram mais que as brasileiras com todo o pré-sal. Lula e Dilma não podem ser comparados a Chávez, mas não são aliados incondicionais. Lula, sob muita pressão, fez concessões. Mas não sabemos como a Dilma irá se comportar.

Homem da cabeceira – Vamos nos concentrar, primeiro, na questão brasileira. Peter é nosso especialista.

Peter – Ainda temos a grande massa brasileira completamente alienada e dominada. Os meios de comunicação tradicionais fazem um ótimo trabalho, com forte apoio nosso. Mas cresce a mídia alternativa que recebe centenas de milhares de visitações diárias. São pessoas querendo se informar em sites, facebooks, blogs e twitter, que crêem ser mais confiáveis. Têm professores e estudantes universitários, jovens profissionais liberais, empresários, sindicalistas etc. Por outro lado, é muito fraca a aceitação de nossa mídia alternativa.

Homem 2 – Nossa?

Peter – É claro que, quando digo “nossa”, são de brasileiros comprados que publicam nossas versões. Aliás, sobre este ponto, nossas empresas e as de países com os mesmos interesses que os nossos fazem um excelente trabalho, disponibilizando recursos para iniciativas deste tipo.

Homem 3 – Por que é fraca a aceitação da nossa mídia alternativa?

Veja mais em Rumos do Brasil.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Os balanços criativos

Sábado, 25 de dezembro de 2010

Trecho do artigo "Os balanços criativos", de Robert Kurtz, publicado em http://resistir.info/

por Robert Kurz 
Esperanças compulsivas de salvação económica estão prosperando no outono de 2010, especialmente na Alemanha. Apesar de nenhuma das causas da crise global ter sido dominada, os média estão a pintar novamente as paisagens florescentes de um novo milagre económico. A fé na fé, como força auto-sustentada da retoma, define o padrão para lidar com a realidade. Quem ficar para trás no optimismo concorrencial já perdeu. Portanto, em todas as instâncias tem de haver relatos exagerados de sucesso a todo o custo. O crescimento financiado pelos Estados a nível mundial, que ainda está muito abaixo de níveis pré-crise, é insuficiente para os altos voos da esperança fabricada, que actualmente vale ouro. Ora, se é permitido à administração pública distorcer o número de desempregados com novos truques, e se os bancos podem deslocalizar os créditos malparados para sociedades de parqueamento - então porque é que os grupos industriais hão-de ficar atrás na "contabilidade criativa”? A "política de balanços" retocados não é nada de novo. Mas suspeita-se que seja um recorde o que as empresas se vêem permitindo a este respeito desde o suposto fim da crise.
Leia a íntegra clicando aqui.

domingo, 17 de outubro de 2010

Os dilemas da esquerda brasileira. Entre seis e meia dúzia

Domingo, 17 de outubro de 2010
Excelente o artigo publicado no site Correio da Cidadania por Justino de Sousa Júnior e Antônio Júlio de Meneses Neto, doutores em Educação e professores. O primeiro, professor na Universidade Federal do Ceará, e o segundo na Universidade Federal de Minas Gerais.

Com o título “Entre seis e meia dúzia: os dilemas da esquerda brasileira”, os autores deixam claro que não vão, no artigo, se ocupar de Serra e de sua gente, pois o consideram “o que de pior temos no quadro político brasileiro” e Serra e sua gente são representantes de uma direita retrógrada e de triste lembrança para os brasileiros. Depois os autores do artigo se concentram no “outro lado”. O lado de Dilma.

Eles, os autores, abordam como o financiamento de campanha está sendo feito, lembram o “valerioduto”, a reforma da previdência, a nomeação e manutenção de Henrique Meirelles no Banco Central, o favorecimento do agronegócio em detrimento do camponês.

Comentam ainda os afagos do governo ao FMI e à banca internacional. Falam ainda da recusa em realizar a auditoria da dívida (coisa prevista nas disposições transitórias da Constituição) e de alguns outros temas importantes para o país.

Leia a íntegra do excelente artigo.

domingo, 23 de maio de 2010

Economista acredita que única chance da Espanha sair da crise é deixar a União Europeia

Domingo, 23 de maio de 2010
da Agência Brasil
Daniel Lima - Repórter

Brasília - A crise na Europa é seríssima e a única saída para a Espanha é deixar imediatamente a União Europeia, afirma o economista Décio Munhoz. Professor da Universidade de Brasília (UnB), Munhoz diz que, se a Espanha permanecer no bloco, será obrigada a “engolir o remédio amargo” do Fundo Monetário Internacional (FMI), que pode levar o desemprego e o empobrecimento ao país.

Entre os países do Continente Europeu que a adotaram o euro como moeda comum, a situação é mais preocupante atualmente na Espanha, em Portugal e na Grécia.

A crise, que parecia ser passageira, tem abalado os mercados financeiros de todo o mundo, provocando queda nas bolsas de valores e aumentando a aversão dos investidores ao risco.

Para Munhoz, a crise está longe de ser resolvida, já que os países ricos da Europa só admitiram a Espanha, Portugal e a Grécia no bloco econômico “porque não podiam conviver com nações pobres ao lado”, deixando de levar em consideração as diferenças culturais, políticas e econômicas.

“Pressionaram para que eles [Espanha, Portugal e Grécia] mudassem para o grupo dos países ricos, com um patamar de vida mais alto, mas agora dizem a eles que terão que tomar o remédio amargo do FMI e empobrecer. Que contradição!”

O professor lembrou que, com o fim da União Soviética, os países que estavam em sua órbita, foram atraídos para a zona da euro mais por questões políticas do que econômicas. Segundo ele, o objetivo foi muito mais de ocupar espaços e, estrategicamente, manter a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que reúne, entre outros, os Estados Unidos, a França, a Alemanha e a Grã-Bretanha, nas “barbas” da Rússia.

“Ou seja, ampliou-se o leque de nações completamente diferentes em tudo. E agora, o mínimo que poderá acontecer é ter um monte de países fora da zona do euro e um núcleo central muito pequeno na zona do euro”, afirmou Munhoz.

Para ele, o “germe da desintegração” está ligado a esse problema da moeda ter paridades fixas e, paralelamente a isso, imaginar que se teria inflação e déficits orçamentários iguais, em torno de 3% em países tão desiguais. Ele explicou que, à medida que são realidades diferentes, quem tem mais problemas, como a inflação, começa a ficar mais fraco, passa a ter dificuldade para exportar e aí aumentam as importações, já que o câmbio também foi valorizado. Segundo o professor, foram impostas regras no sistema muito duras para um grupo grande de países com economias heterogêneas.

Munhoz ressaltou que o problema parece não ser tão localizado e tem consequências “imprevisíveis, tendendo a se agravar”. Isso porque o atual crescimento da economia tem sido muito estimulado pela China, muito integrada à economia norte-americana. Mas a China, mesmo com o crescimento extraordinário, é uma grande economia exportadora que, por outro lado, convive com uma distorção interna brutal que é a distribuição de renda.

“É o país voltando a 1945, à Grande Caminhada de Mao Tsé-Tung [fundador e dirigente da República Popular da China, morto em 1976], em que muitos morrem de frio à noite e outros estão em apartamentos de luxo refrigerados.”

Para ele, no entanto, será muito difícil manter esse modelo na China e o país se integrar à economia americana, tendo-a como mercado. Os Estados Unidos terão dificuldade de encontrar na Europa parceiros comerciais como é a China na Ásia.

Munhoz acredita que, se a China se abrir ao mercado, haverá recuperação, com todos exportando bastante para aquele país, incluindo os Estados Unidos que conseguiriam “colocar sua economia nos trilhos”. O nó, porém, que precisa ser desatado é: se a China abrir seu mercado, perde a produção destinada à exportação, agrava o problema do emprego e aumenta as distorções internas.

“Então, a coisa não está definida e está muito difícil. Além do mais, a questão econômica tem transcendência política também. Os Estados Unidos, tudo indica, para saírem desta crise têm que reacender a guerra fria, exportar canhões, e não manteiga. Porque manteiga as pessoas não têm dinheiro para comprar.”

Nessa situação, o professor avalia que não há muita diferença entre o atual presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o antecessor dele, George Bush. “Se você colocar o corpo do Obama com a cara do Bush, não altera nada.”

Para o Brasil, a saída seria o fortalecimento interno. No entanto, diz Munhoz, o mercado financeiro não ajuda, por querer concentrar renda e poder. Ele acredita que o país tem condições de se vacinar contra esse tipo de problema, mas existe uma armadilha preparada pelo próprio mercado financeiro, a tomada de decisões.

Munhoz lembrou que a entrada líquida de capital estrangeiro para aplicar em papéis no Brasil, desde o início do governo passado, ficou em cerca de US$ 40 bilhões (o que entrou e saiu). Foram trazidos aproximadamente de US$ 600 bilhões a US$ 700 bilhões, mas como houve forte remessa de lucros e dividendos, sobraram US$ 350 bilhões em papéis no Brasil. “Nós estamos na mão deles e por isso jogam a Bolsa para baixo, jogam o dólar para cima. Então, a nossa situação também é frágil.”

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Ex-ministro diz que volta do déficit em conta corrente deixa Brasil no mesmo caminho da Grécia

Segunda, 10 de maio de 2010
da Agência Brasileira
Vinicius Konchinski - Repórter da Agência Brasil
São Paulo – O ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira criticou hoje (10) os déficits nas transações correntes que o Brasil vem acumulando desde 2008 e afirmou que o país está cometendo os mesmos erros que causaram a crise grega. “Nós estamos no mesmo caminho da Grécia. Voltamos a ter déficit de conta corrente e voltamos firme e forte.”

O economista participou de um evento realizado na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Em entrevista, ele disse que o aumento do gasto brasileiro no exterior pode causar um desequilíbrio nas contas do país e até uma crise.

Dados do Banco Central apontam que, neste ano, os brasileiros devem gastar no exterior US$ 49 bilhões (cerca de R$ 85 bilhões) a mais do que estrangeiros gastarão aqui. Em 2009, este saldo negativo foi de US$ 24,3 bilhões; em 2008, US$ 28,1 bilhões.

“Já estamos vendo todo mundo viajando para Miami”, apontou ele em tom irônico, citando também que a baixa cotação do dólar com relação ao real dificulta o controle do déficit.

Bresser-Pereira explicou que uma das causas da crise grega foi justamente o descontrole do balanço de pagamentos. Lá, cidadãos e governo teriam gasto demais fora do país e tiveram problemas para renegociar o pagamento de suas dívidas.

O ex-ministro afirmou, entretanto, que a atual crise na Grécia não deve trazer consequências imediatas ao Brasil. Segundo ele, apesar de alguns possíveis problemas pontuais, o Brasil não terá seu crescimento impactado pelos problemas na Europa.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Setor público tem resultado negativo pela primeira vez no ano

Sexta, 30 de abril de 2010
da Agência Brasil
Kelly Oliveira

Repórter da Agência Brasil
Brasília - O setor público registrou, pela primeira vez no ano, déficit primário de R$ 216 milhões em março, segundo informou hoje (30) o Banco Central (BC), o pior resultado da série histórica do BC, iniciada em dezembro de 2001. No mesmo mês de 2009, foi observado superávit primário de US$ 7,929 bilhões.

O superávit primário é a diferença entre as receitas e as despesas, excluídos os juros da dívida pública. Quando as despesas são maiores que as receitas, o resultado é déficit primário. Em março, o resultado negativo foi puxado pelo déficit primário de R$ 3,912 bilhões do Governo Central, formado pelo Tesouro, Banco Central e pela Previdência.

Os governos regionais – estaduais e municipais – apresentaram superávit primário de R$ 3,342 bilhões. As empresas estatais tiveram resultado primário também positivo de R$ 354 milhões.

No mês passado, os gastos com juros nominais somou R$ 16,857 bilhões, contra US$ 14,672 bilhões registrados em março de 2009.

Ao serem incluídos os gastos com juros, tem-se o resultado nominal. Em março, foi registrado déficit nominal de US$ 17,073 bilhões, ante US$ 6,743 bilhões observados no mesmo mês do ano passado.

De janeiro a março, o BC mostra que houve superávit primário de R$ 16,827 bilhões, contra US$ 18,810 bilhões em igual período de 2009. No trimestre, o governo central registrou superávit primário de US$ 8,925 bilhões e os regionais, de R$ 9,179 bilhões. As empresas estatais tiveram déficit nominal de R$ 1,276 bilhão.

Em 12 meses encerrados em março (resultado anualizado), o superávit primário é de R$ 62,535 bilhões, que correspondem a 1,94% do Produto Interno Bruto (PIB), soma de bens e serviços produzidos no país. A meta do governo para o ano é de 3,3% do PIB.

De janeiro a março, os gastos com juros nominais ficaram em US$ 44,979 bilhões. Nesse período, foi registrado déficit nominal de R$ 28,151 bilhões.

domingo, 28 de março de 2010

Com piora dos números, contas externas do Brasil voltam a preocupar

Domingo, 28 de março de 2010
da Agência Brasil
Kelly Oliveira - Repórter da Agência Brasil

Brasília - O crescimento acelerado do déficit em transações correntes (soma de comércio exterior, juros da dívida externa, viagens internacionais, remessa de lucros de empresas) causa preocupação em quem acompanha a economia brasileira. Nessa situação, o país fica cada vez mais dependente do cenário financeiro internacional para bancar o saldo negativo, avaliam especialistas.

No ano passado, o déficit ficou em US$ 24,334 bilhões, equivalente a 1,54% do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todos os bens e serviços produzidos no país. Neste ano, a previsão do Banco Central é de déficit de US$ 49 bilhões (2,53% do PIB). Trata-se de um cenário bem diferente do ano de 2006, quando o Brasil teve saldo positivo de US$ 13,984 bilhões.

O risco está num corte abrupto de financiamento externo, deixando o Brasil sem recursos suficientes para bancar o déficit corrente, como ocorreu nas crises de 1998 e de 2002. Para o economista Ricardo Carneiro, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o financimento com investimentos em ações na bolsa de valores e títulos públicos não é seguro. “No mundo com tal volatilidade, como o de hoje, é um risco grande entrar numa posição dessa.”

O governo conta com a forte entrada de investimento estrangeiro direto, usado para compra de empresas e instalação de multinacionais no país, para custear o déficit das transações.

Neste ano, o Banco Central espera um investimento direto de US$ 45 bilhões (2,33 % do PIB), abaixo dos US$ 49 bilhões do déficit corrente. A expectativa é que os recursos estrangeiros aplicados em ações e títulos chegue a US$ 35 bilhões, o que completará com folga o financiamento do déficit em conta corrente.

Professor de Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o economista Antonio Corrêa de Lacerda diz que, no curto prazo (2010 e 2011), esse tipo de financiamento por meio de títulos e ações não é ruim. “O que preocupa é a rapidez da deteorização das contas externas, que vem crescendo em trajetória insustentável no longo prazo”, avalia. “A história recente já mostrou que toda vez que o Brasil ampliou sua vulnerabilidade externa teve que interromper o seu ciclo de crescimento.”

Segundo ele, o aumento do déficit corrente acompanha a valorização do real em relação ao dólar que estimula, por exemplo, as importações e as viagens ao exterior. O Brasil, diz Lacerda, precisa de políticas que promovam “melhora qualitativa das exportações, com venda de produtos industriais e também uma substituição de importações para favorecer a produção local”.

“Isso depende de um câmbio mais favorável, mas também de outros fatores de competitividade como financiamentos, isenções, incentivos para a produção local”, ressalta Lacerda, acrescentando ainda que é preciso limitar o fluxo de capital, além de intervenções do BC para evitar uma valorização do real.

O economista Reinaldo Gonçalves, professor de Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também considera que o Brasil deveria ter maior controle do fluxo de capital, pois evitar a valorização excessiva da moeda brasileira. “A economia brasileira se tornou a casa da mãe Joana. O capital internacional entra e sai sem nenhum tipo de critério”, afirmou. Entretanto, ele considera que é pouco provável que controles sejam adotados.

O chamado "ajuste natural" para reduzir o déficit externo ocorre com a desvalorização do câmbio, ao encarecer os gastos no exterior. Porém a alta do dólar, explica Gonçalves, causa efeitos no preço da gasolina, do trigo e de bens importados. “Mas o governo vai manter os juros altos, para atrair o capital de curto prazo para financiar esse buraco.”

Na situação atual, explica Gonçalves, geralmente são adotadas outras de medidas. Uma delas é cortar gastos públicos. Outra saída é não mexer nas reservas internacionais e deixar o câmbio subir. “O problema disso é que o dólar explode e gera inflação.”

Há ainda a alternativa de usar as reservas internacionais (hoje na casa dos US$ 240 bilhões) para financiar o déficit corrente e assim segurar o dólar. Mas o uso das reservas pode levar à redução da proteção do país. “Outra forma é aumentar a taxa de juros, o que atrai capital de fora. Mas quando se aumenta os juros, gera recessão”, explicou Gonçalves.