Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Salvador e Feira desafiam PT

Segunda, 1º de agosto de 2011
Por Ivan de Carvalho

“A Bahia tem 417 municípios. Se, nas eleições de 2012, o governo ganhar 415 prefeituras, mas perder em Salvador e Feira de Santana, não poderá dizer que se saiu bem”. A observação, de um político com muitos anos de estrada e do campo governista, dá um pouco o que pensar.
        
         De fato, o campo político liderado pelo governador Jaques Wagner tem, atualmente, inegável hegemonia política na Bahia, circunstância que se acentua poderosamente ante o controle político do governo federal pelas mesmas forças que detêm o governo estadual, ressalvado o caso do PMDB.
         
           Mas o campo político liderado por Wagner na Bahia – da mesma forma que o liderado nacionalmente por Lula e Dilma – é nucleado no PT e este partido não tem razões para confiar muito na maioria dos aliados. Mesmo com o mais fiel deles, o PC do B, há descontentamentos, tanto em âmbito nacional quanto na Bahia.
          
       O descontentamento dos aliados com o PT tem sido explicado pelo apetite voraz deste partido em ocupar cada vez mais espaços, às custas das oposições, o que geralmente é aceitável (salvo se usados métodos ou instrumentos alheios à ética), como também às custas dos aliados, ou de alguns deles.

Nesta segunda categoria a principal vítima vinha sendo o PMDB, até que o comando nacional do PR foi apanhado em flagrante pela imprensa e o governo-PT transformou a rapina financeira que vinha sendo praticada no Ministério dos Transportes em rapina do espaço político do PR no governo. Castigo merecido? Pode ser, mas o fato é que o PT almoçou o PR. Até dizem que Lula está sugerindo que Dilma e seu governo façam uma digestão maneira, de modo a evitar náuseas e outros problemas do aparelho digestivo mais adiante.

Mas se o PR foi o almoço – com sobremesa petista, uma vez que, como Saturno, o PT sabe, quando precisa, devorar seus próprios filhos, caso do ex-diretor de Infraestrutura Rodoviária do DNIT, Hideraldo Caron – podem estar vindo para o jantar o PC do B (por causa da ANP, transformada por denúncia da revista Época em Agência Nacional da Propina e agora com um repique da denúncia alvejando diretamente o presidente da ANP, o ex-deputado baiano Haroldo Lima), o PP, sob denúncia aparentemente grave da revista IstoÉ, edição deste fim de semana, além do PMDB e PTB, que estão sob impressionante denúncia veiculada pela revista Veja de constituírem consórcio “para controlar a estrutura do Ministério da Agricultura com o objetivo de arrecadar dinheiro”.

Isto já não é nem um jantar. É um banquete. Se brasileiro comesse escândalos de corrupção, o Fome Zero já teria cumprido seus objetivos.

Mas quanto ao governo federal, fico em séria dúvida de que se lance com avidez ao cardápio – PC do B, PP, PMDB, PTB – desse banquete, pois o inevitável desarranjo poderia ser fatal.

Voltando a Salvador e Feira de Santana. Na capital, a aliança governista estadual dá sinais fortes de desarticulação ou da convicção dos que a integram de que lançar candidatos a eleições majoritárias é questão de sobrevivência. E todos sabem que o PT, diga o que disser, não abre mão de apresentar seu candidato e tem a conquista da prefeitura de Salvador como o grande novo passo de seu projeto político na Bahia. Se o PT conseguir unir os aliados em torno de seu candidato, este, em princípio, entra forte na disputa. Mas esta união não será fácil. Pedras principais no sapato do PT – o PP, o PC do B e, segundo promete, o PSB.

Já em Feira de Santana, ela com certeza não ocorrerá. O ex-prefeito José Ronaldo, do DEM, vai disputar e está posicionado a anos-luz na frente de quaisquer dos seus concorrentes. O prefeito Tarcízio Pimenta disputará a reeleição. Para isto, saiu do DEM e entrou no PDT. Popularmente, não está bem. O PT tem candidatura própria. Poderia ser o deputado federal Sérgio Carneiro (com o óbvio apoio do senador pedetista João Durval) ou o líder do governo na Assembléia, Zé Neto. A opção petista, no momento, tende para Zé Neto. Um mundo o separa da vitória. Risco de Ronaldo liquidar a fatura em turno único. Convicto das dificuldades de Pimenta e Zé Neto, o PMDB vai lançar o deputado Colbert Martins, na expectativa de colocá-lo no segundo turno.

Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.