Terça, 19 de fevereiro de 2012
Por Ivan de Carvalho

Vale assinalar que entre os
senadores do PR está o ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, que foi
exonerado do cargo quando era alvejado por denúncias de irregularidades em sua
pasta e que acabaram envolvendo-o também. Acontece que Nascimento é o presidente
nacional do PR e foi quem articulou, juntamente com o senador Blairo Maggi, a decisão
da bancada no Senado.
Com esta decisão está de
acordo o deputado Valdemar da Costa Neto, que detém o controle, de fato, do
partido. E Valdemar Costa Neto maneja a bancada do PR na Câmara dos Deputados.
Aliás, a bancada na Câmara tem do governo as mesmas queixas que a bancada no
Senado expressa, embora não haja se reunido para formalmente declarar-se na
oposição.
Como que numa antecipação
do resultado da reunião de presidentes estaduais da legenda com o comando
nacional para fixar o princípio da busca de alianças eleitorais com partidos
que não sejam da base partidária do governo (PSDB, DEM, PPS, PSD, entre
outros), as executivas estadual e municipal do PR em São Paulo aprovaram
abertura de negociações com dois candidatos a prefeito, o tucano José Serra e o
peemedebista Gabriel Chalita.
Serra é de partido oposicionista. Chalita é de um
partido que integra a base governista, mas o detalhe é que o PT está apostando
alto na disputa eleitoral pela prefeitura paulistana, com a candidatura do
ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, que fez na pasta uma gestão polêmica,
mas foi abençoado por Lula, que decidiu lançá-lo candidato e tornou-se o
principal articulador da candidatura.
O PT busca tomar a prefeitura de São Paulo como
degrau para tomar em 2014 o governo do Estado de São Paulo, que tem sido o
principal reduto das oposições no país. Uma eventual conquista de São Paulo
pelo PT resultaria (ressalvando-se sempre acontecimentos imprevisíveis) na
consolidação da hegemonia petista no país. Daí que a decisão do PR de negociar
com um tucano e com um peemedebista aliança para as eleições de prefeito de São
Paulo deve estar doendo bastante no PT e, por extensão, no governo Dilma Rousseff.
Enquanto isso ocorre no
âmbito das eleições municipais, o momento no Congresso continua desagradável
para a presidente Dilma Rousseff e seu governo. Há dificuldades com o Código
Florestal e o governo quer adiar a votação na Câmara por conta delas, dando
prioridade à Lei Geral da Copa, onde dificuldades existem, mas são menores.
Aproveitando a crise na
base governista, que não se limita ao à questão do PR, envolvendo outros
setores, principalmente do PMDB, o senador tucano Álvaro Dias está recolhendo
assinaturas para dois requerimentos de criação de uma CPI para a Saúde. Um dos
requerimentos pede uma CPI mista de deputados e senadores e a obtenção das
assinaturas em número necessário (um terço da Câmara e um terço do Senado) é
mais difícil. O outro requerimento pede a criação da CPI da Saúde somente no
Senado. Neste caso, a chance de conseguir assinaturas é melhor.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.