Domingo, 25 de janeiro de 2015
Da Tribuna da Internet
Carlos Newton
Ela não é uma figura política convencional, embora desde adolescente
tenha demonstrado interesse pela política e até tenha se tornado
militante da luta armada. Depois da anistia, filiou-se ao PDT de Leonel
Brizola, que chegou ao poder no Rio Grande do Sul e lhe abriu
oportunidade de ocupar importantes cargos no governo estadual. Depois,
quando o PT suplantou o PDT gaúcho, logo trocou de partido e seguiu
fazendo sua surpreendente carreira de alpinista política, que a levaria
ao Palácio do Planalto.
No início de seu primeiro mandato, Dilma Vana Rousseff mais parecia a
rainha da Inglaterra, que reina, mas não governa. Quem continuava
mandando era o antecessor Lula. Mas agora ela se libertou dele, não
somente reina, mas também passou hipoteticamente a governar em toda a
plenitude. Mas a realidade não é bem assim.
CARAS E BOCAS
Dilma Vana Rousseff jamais foi política na expressão da palavra, mas
adora o poder e no exercício do mandato demonstra viver sensações de
verdadeiro êxtase. Nunca se viu nada igual na História do Brasil. É uma
governante diferente, com muita dificuldade de coordenar raciocínios e
que se comporta como se fosse uma personagem de novelas, fazendo caras e
bocas que a transformaram numa atração para fotógrafos e cinegrafistas.
Nesse particular, sua performance é espetacular. Ninguém transmite
expressões de enfado, desdém, ironia e fúria como ela.
Mas a atriz de repente saiu do palco, justamente quando o país
mergulhou na pior crise das últimas décadas. E a ainda presidente Dilma
Rousseff completa, neste domingo, 34 dias sem dar entrevistas, o mais
longo período em que fica sem falar com a imprensa desde janeiro de
2012, quando passou 38 dias sem dar qualquer declaração a jornalistas.
CINEMA MUDO
A última vez que a presidente conversou com a imprensa foi em 22 de
dezembro de 2014, quando ofereceu um café da manhã de final de ano a
jornalistas no Palácio do Planalto. Os assuntos mais falados foram o
Ministério, que mal começara a ser escolhido, e o escândalo de corrupção
na Petrobras.
De lá para cá, virou figurante de cinema mudo. Quem anuncia as
medidas é o sorridente ministro da Fazenda, que já disse a que veio. Só
sabe aumentar impostos e podar direitos sociais, pois não há cortes de
custeio, quando se esperava que fossem reduzidos os 39 ministérios,
assim como os cargos comissionados, os gastos de mordomia, as despesas
supérfluas, os cartões corporativos…
Pelo contrário, trata-se um governo gastador que não aceita
economizar um só centil, como se dizia antigamente, mas faz questão de
humilhar os diplomatas no exterior, cortando-lhes impiedosamente as
verbas e destruindo a imagem do país no plano internacional.
FUGINDO DA IMPRENSA

Dilma não falou à imprensa nem mesmo quando o ministro do
Planejamento, Nélson Barbosa, disse que ia mexer no reajuste do salário
mínimo. Ela apenas fez questão de se dizer “indignada” e mandou que ele
se desmentisse. Barbosa aceitou a desnecessária e grotesca reprimenda
pública e não pediu demissão, porque pretende engordar o currículo.
Na quinta-feira, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi obrigado
por Dilma a se desdizer em Davos, afirmando que errara ao prever que
haverá “recessão” e o certo seria dizer “contração”. Bem, pelo menos
desta vez Dilma foi mais comedida e não vazou que estava indignada. E
Levy ficou na dele, porque está só engordado o currículo e por isso
aceitou continuar aturando a dona da festa, digamos assim…
Esta semana, a ainda presidente viaja para participar da 3ª Cúpula da
Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), na Costa
Rica. Será que vai falar alguma coisa, ou se limitará a fazer suas caras
e bocas?