
Por Mauro Santayana
No dia 21 de abril, o
Brasil – ou parte dele – lembrou Tiradentes, como deveríamos fazer, sempre, com
outros heróis que o antecederam e sucederam, e que, como ele, deram sua vida
pela ideia de construir, no sul da América, a grande nação de que falava o
alferes.
Os heróis de
Massangano e Guararapes, das guerras contra os franceses e os holandeses, gente
que, aqui, não defendia a metrópole portuguesa, mas a terra em que tinha
nascido, nossas praias, selvas montanhas e planícies, o sangue de seus pais e o
destino de seus filhos.
Os que lutaram na
Serra dos Palmares, na Balaiada, na Cabanagem, na Revolta dos Malês, na Guerra
de Independência.
Os que pereceram
defendendo o seu direito a um mínimo de pão e dignidade, em Canudos e no
Contestado.
Os que lutaram pela
liberdade e pela democracia, nos campos e montanhas da Europa, em Monte
Castello, Castelnuovo, Collecchio, Montese e Fornovo di Taro.
Os que lutaram pela
soberania nacional, como Getúlio e Juscelino, e pela volta do estado de
direito, combatendo nas trevas, até o fim da ditadura, com as campanhas da
Anistia, das Diretas Já, e da eleição de Tancredo Neves, que também morreria em
um 21 de abril, antes de tomar posse como presidente da República.
Deveríamos, todos,
escutar o eco do alferes, que reverbera nos túneis espiralados da história,
como um momento singular da nossa formação.
Há quem ataque a
figura de Joaquim José da Silva Xavier. Há quem diminua seu papel na Conjuração
Mineira, que mais tarde inspiraria a independência e os ideais republicanos, ao
longo do século que se seguiu à sua morte.
São dúvidas e
contradições, até certo ponto, subjetivas, e interessam mais aos historiadores
do que ao homem comum.
O que importa é que
as nações, como as pessoas, são forjadas e crescem por meio de episódios e
personagens que marcam sua evolução futura, e inspiram o surgimento de outros
heróis, que se unem para sintetizar o sentido da pátria, ligando o ontem e o
amanhã, e projetando a glória e a honra que são o amálgama dos povos e de seus
territórios.
Isso é verdade, pelo
menos, para aqueles que amam o chão em que vieram ao mundo, e que são capazes
de se sacrificar por algo mais do que o seu próprio conforto, riqueza e a parte
que conseguirem de fugaz e superficial felicidade neste mundo.
Para os outros, os
egoístas, os céticos, os que se embasbacam por outras nações e bandeiras,
nenhum herói, ou sua projeção, fará diferença.
Esses venderiam o
país por um carro mais confortável, mesmo que fosse feito lá fora, sem gerar um
miserável emprego aqui dentro, ou por um litro de gasolina pura, mais barata,
feita por uma empresa estrangeira, do outro lado do mundo, mesmo que a
indústria de óleo e gás seja responsável por 13% do Produto Interno Bruto (PIB)
do Brasil, quinto maior país em extensão territorial e população e sétima maior
economia do planeta.