Quinta, 31 de março de 2016
Entre 700 e mil ônibus vieram para Brasília
Pedro Peduzzi - Repórter da Agência Brasil
Manifestantes
de todo o Brasil se concentram, desde o início da tarde, no Estádio
Nacional Mané Garrincha em um ato em defesa da democracia e contrário ao
impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Os manifestantes já deram
início a uma caminhada que seguirá até o Congresso Nacional.
Representante
da Central Única dos Trabalhadores (CUT) na Frente Brasil Popular,
Janeslei Aparecida de Albuquerque diz que haverá atos em todos os
estados e em centenas de cidades do interior. “Brasília, por ser a
capital do país, é fundamental para dar visibilidade à nossa
insatisfação com o golpe que está sendo aplicado contra o Brasil. Motivo
pelo qual entre 700 e mil ônibus vieram para cá, vindos de todos os
estados brasileiros”, disse à Agência Brasil.
“O
que queremos é barrar esse golpe porque sem crime de responsabilidade
esse impeachment é golpe. Em relação às pedaladas, trata-se de
remanejamento de recursos públicos. Algo que é feito por todos governos
nas esferas federal, estadual e municipal. Portanto nada tem a ver com
qualquer desvio de recursos", disse a representante da CUT.
"Está
muito claro para cada vez mais pessoas que o que acontece é que quem
perdeu a eleição não tem espírito republicano nem democrático. Este é o
papel histórico de entidades como a Fiesp [Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo], entidade que sempre agiu contra a classe
trabalhadora, arrancando sangue e a mais-valia e sem dar retorno justo
ao trabalho”, disse a sindicalista.
As palavras de ordem dos
líderes do movimento, que falavam ao microfone em sete carros de som que
estavam no estacionamento do estádio, ecoavam também nas vozes das
milhares de pessoas concentradas, entre elas, a trabalhadora rural
Cristiane Rocha Oliveira, 33 anos. Ela passou três dias viajando desde
Piripiri (PI) até Brasília, em um ônibus com 48 pessoas. “A gente está
cansado das mentiras que vimos na televisão, e viemos até aqui para
mostrar que em muitos lugares do país a Dilma é bastante popular pelo
muito que fez para melhorar a vida da gente”, disse ela à Agência Brasil.
“Desde
que o Lula foi presidente, muita coisa boa aconteceu na minha cidade,
principalmente nas escolas. A vida melhorou 100%. A alimentação, a
saúde. Há três meses consegui a minha casa [pelo Programa Minha Casa
Minha Vida] e parei de pagar aluguel. A Dilma trata o pobre como ninguém
antes tratava, e gastar com pobre é um gasto mais digno do que o gasto
com o rico, porque é a gente quem precisa”, disse.
As
dificuldades de locomoção do cadeirante Marco Borges, 58 anos, não o
desanimaram a embarcar em uma viagem de 650 quilômetros - distância
entre Santana (BA) e Brasília. “Vale o sacrifício porque minha missão é
ajudar a defender a democracia de meu país. Democracia que foi
conquistada com muito custo após 1964. O mundo mudou e os tipos de
ditaduras também. Agora nosso risco é o de viver uma ditadura judiciária
respaldada por uma mídia pra lá de comprometida. É um absurdo a Dilma,
que nem investigada é, ser refém de uma pessoa comprovadamente corrupta
como o Eduardo Cunha”, disse o aposentado.
“E não podemos aceitar
que o [Michel] Temer se torne o principal e mais importante personagem
de nosso país, quando ele só está na vice-presidência graças à Dilma.
Ele deveria ajudá-la, e não golpeá-la”, acrescentou o cadeirante que
veio acompanhado de um grupo de 50 pessoas. “O Luz para Todos levou a
nossa cidade também o acesso à internet. Isso deixou nossa cidade mais
bem informada e consciente de que o Brasil é muito diferente.”
Operador
de trator, Salvador Gregório, 52 anos, viajou mais de 400 quilômetros
vindo de Coromandel (MG) na companhia da esposa, que não quis se
identificar. “Estão querendo tirar nossa presidenta e a gente não
aceita”, disse. “Vou lhe falar uma coisa: o que o Lula, e depois ela,
fizeram para a gente ninguém nunca fez. Em primeiro lugar, eles nos
respeitam. Tratam pobre que nem rico. Melhorou a renda lá de casa e a
gente espera que isso continue porque a gente precisa ter uma terrinha e
parar de pagar aluguel”.
O coordenador da Confederação Nacional
dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee), José Carlos
Padilha Arêas, diz que a luta para garantir e dar estabilidade ao
governo Dilma tem por objetivo a continuidade dos avanços dos direitos
sociais dos brasileiros. “Estão usando a crise mundial pela qual passa o
capitalismo para prejudicar o Brasil, a exemplo do que fizeram com a
Grécia. Esse projeto que o Temer já vem propagandeando, chamado de Ponte
para o Futuro, é também um golpe contra os avanços sociais no Brasil”,
argumentou.
A economista Clara Sanchez, 28 anos, veio do Rio de
Janeiro “para mostrar ao mundo que os brasileiros estão cientes de que a
democracia está sob risco, caso o impeachment seja aprovado”.
A
escolha por participar das manifestações em Brasília se deve ao fato de,
pela proximidade com o Congresso Nacional, a capital facilitar um
contato direto com os parlamentares que traçarão o destino do país.
“Quero dizer a eles que não será fácil dar esse golpe. Nós temos
capacidade de mobilização e vamos mostrar o quão irresponsável seria a
deposição de uma presidenta”, disse.
Pelo Brasil
Há atos programados em pelo menos 17 estados, além do Distrito Federal.
Em São Paulo, os manifestantes do ato em defesa da democracia e contra o impeachment da presidenta Dilma Roussef ocupam a Praça da Sé
e a rua lateral da catedral. Quatro carros de som levam líderes de
movimentos sociais e de sindicatos que se revezam nos discursos.
O
ato reúne entidades como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), da
Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), da União da Juventude
Socialista, da Central de Movimentos Populares, de diversos sindicatos,
entre outros.
No Rio de Janeiro, os manifestantes se reuniram no
Largo da Carioca, no centro do Rio. Na avaliação do presidente da
Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro
(Faferj), Rossino Castro Diniz, a camada
mais pobre do país, beneficiária dos principais programas sociais do
governo, como Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida, é contrária à
tentativa de impedimento da presidenta Dilma.
Em Salvador, o
ato começou no início da tarde, na região de Campo Grande. Na capital
cearense, a concentração dos manifestantes ocorreu na Praça da
Bandeira.