Terça, 22 de março de 2016
Daniel Isaia – Correspondente da Agência Brasil
O início da 26ª fase da Operação Lava Jato,
identificada como Operação Xepa, foi autorizada em despacho do juiz
Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba. No documento, o
magistrado autoriza a prisão preventiva — sem prazo — de quatro pessoas.
Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho
e Luiz Eduardo da Rocha Soares foram apontados nas investigações como
dois dos três chefes do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht.
Essa divisão da empresa operava o pagamento de propinas
por meio de contas offshores abertas pelo próprio grupo, sob ordens de
outros executivos do Grupo Odebrecht. As planilhas apreendidas pela
Polícia Federal indicam, ainda, o pagamento de “vultuosas quantidades de
dinheiro em espécie no Brasil” a partir desse setor da empresa, segundo
o despacho.
O terceiro chefe do Setor de Operações Estruturadas,
Fernando Migliaccio da Silva, já tivera a prisão preventiva decretada
no dia 11 de fevereiro, quando da deflagração da Operação Acarajé. Na
época, o executivo não foi encontrado no Brasil. No dia 17 do mesmo mês,
ele foi preso cautelarmente na Suíça após investigações naquele país de
lavagem de dinheiro envolvendo contas secretas da Odebrecht.
As
outras duas pessoas que tiveram prisão preventiva deferida por Moro
foram os irmãos Olívio Rodrigues Júnior e Marcelo Rodrigues. Olívio,
identificado nas planilhas da Odebrecht pelo codinome “Gigolino”, é
sócio da empresa JR Graco Assessoria e Consultoria Financeira Ltda e foi
diretor, entre 2002 e 2010, da Graco Corretora de Câmbio. O irmão,
Marcelo, é citado pelo codinome “Giginho”.
Ambos foram apontados
nas investigações como representantes da offshore Klienfeld Services. A
conta teria sido utilizada pela Odebrecht para pagar propina a agentes
da Petrobras e também para realizar transferências para a conta secreta
em nome da Shellbill Finance, controlada pelo publicitário João Santana e
sua esposa, Mônica Moura - presos na 23ª fase da Operação Lava Jato.
Prisões temporárias
Além
das prisões preventivas, a Justiça deferiu a prisão temporária — por
cinco dias — de nove pessoas. O despacho aponta que elas são
investigadas por crimes que envolvem fraudes documentais e, portanto,
existe risco de ocultação, destruição e falsificação de provas. O juiz
também justifica a prisão na garantia de que essas pessoas serão ouvidas
separadamente pela autoridade policial, “sem que recebam influências
indevidas uns dos outros”.
Dentre aqueles que tiveram a prisão
temporária deferida estão altos executivos da empresa, como Roberto
Prisco Paraíso Ramos, chefe da Odebrecht Óleo e Gás, e Paul Elie Altit,
chefe da Odebrecht Realizações Imobiliárias. O primeiro é investigado
por uma troca de mensagens com Hilberto Silva sobre a entrega de
“acarajés” no Rio de Janeiro, o que para os investigadores representa a
entrega de valores milionários em espécie.
Paul Altit é
investigado por outra troca de mensagens, referente à entrega de R$ 1
milhão a um destinatário desconhecido, identificado pelo codinome de
“Turquesa #2”. O pagamento está relacionado ao Porto Maravilha, projeto
de revitalização urbana promovido pela prefeitura do Rio de Janeiro.
Essa troca de mensagens também envolve dois subordinados de Altit,
Rodrigo Costa Melo e Antônio Pessoa de Souza Couto, e de Isaias Ubiraci
Chaves Santos, apontado pela investigação como responsável pela
confecção das planilhas e requisições de pagamentos de propinas. Melo,
Couto e Ubiraci também tiveram a prisão temporária decretada pela
Justiça.
O despacho também aponta duas pessoas como possíveis
operadoras do esquema de lavagem de dinheiro e pagamento de propina e
decreta a prisão temporária delas. Segundo as investigações, Antônio
Cláudio Albernaz Cordeiro e Álvaro José Galliez Novis realizavam a
entrega de dinheiro em espécie dentro do Brasil. Antônio Cordeiro,
codinome “Tonico”, era utilizado para pagamentos em Porto Alegre.
Álvaro
Novis é diretor da Hoya Corretora de Valores e Câmbio Ltda. Ele é
investigado por operar no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde a empresa
tem estabelecimentos. Nas planilhas de pagamentos da Odebrecht, ele era
identificado como “Carioquinha” ou “Paulistinha”, conforme a cidade onde
eram feitas as entregas de dinheiro em espécie.
Em nota,
a Odebrecht garante que está ajudando nas investigações sobre ações de
corrupção e desvios de recursos públicos. "A empresa tem prestado todo o
auxílio nas investigações em curso, colaborando com os esclarecimentos
necessários.”