Do Blogue Náufrago da Utopia
Por Celso Lungaretti
O
destino fez uma piada cruel com o Partido dos Trabalhadores: 13, seu
número nas eleições, será também a quantidade de anos que vai durar sua
permanência na Presidência da República, pelo menos desta vez. Haverá
outra(s)? É uma incógnita.
Mas, para ter algum futuro, seus dirigentes precisam começar a agir com serenidade e discernimento. Dou de graça algumas dicas:
1. O governo de Dilma Rousseff chega melancolicamente ao fim e nada
justifica, neste momento, o incentivo à violência. Chega de desafiar os
outros Poderes com bravatas histéricas, como se a aposta no caos pudesse
ser tábua de salvação! Chega de lançar acusações panfletárias a torto e
a direito, como se a queda se devesse a ilegalidades jurídicas e
conspirações midiáticas! O que fez a grande maioria dos brasileiros se
voltar contra o PT foi uma gestão econômica desastrosa, que redundou na
nossa pior recessão de todos os tempos; e foram os maiores escândalos de
corrupção de que o povo até hoje tomou amplo conhecimento. O resto não
passou de previsível detalhe (dos inimigos só podemos esperar o
aproveitamento das oportunidades que lhes oferecermos de mão beijada,
temos mais é de não facilitar a tal ponto as coisas para eles!);
2. Ao preferir a demagogia delirante ao humilde reconhecimento dos erros
cometidos, o PT está sendo extremamente nocivo aos trabalhadores que
deveria priorizar acima de tudo e ingrato com o povo que o levou ao
poder. A postura de depois de mim, o dilúvio!
pode, de um lado, redundar em novo golpe militar, caso haja convulsão
social e esta ameace sair do controle das autoridades; do outro,
inviabilizar o governo que vier a estabelecer-se, com a óbvia
consequência de prolongar e até fazer aumentar o sofrimento dos
explorados e excluídos, cada vez mais vergastados pela penúria e o
desemprego;
3. Ao queimar seus últimos cartuchos na tentativa (visivelmente fadada
ao fracasso) de evitar o afastamento de Dilma, o PT está optando por
legar aos brasileiros apenas uma contundente derrota. Caso parasse de
enganar a si próprio e aos que nele ainda acreditam, poderia usar a
influência que lhe resta para favorecer a hipótese mais digna de saída
da crise atual --a realização de nova eleição presidencial. Mas, parece
nem sequer cogitar a possibilidade de erguer a única bandeira capaz de
unificar o povo neste momento de desespero e desencanto. É mais um
exemplo da estreiteza de visão e falta de grandeza que o conduziram à
derrocada atual.
Finalmente, à esquerda lembro que batalhas decisivas só devemos travar
quando o que está em jogo é o destino de uma revolução. Não sendo este,
nem de longe, o quadro com que hoje nos defrontamos, devemos evitar o
emocionalismo e manter a clareza de raciocínio.
Se a pedra rolou do topo da montanha, temos de entender por que isto
aconteceu, cuidando de não voltarmos a cometer os mesmos erros.
E tentarmos outra vez. Tantas quantas forem necessários para darmos um fim à exploração do homem pelo homem!