Sábado, 29 de outubro de 2016
              Akemi Nitahara – Repórter da Agência Brasil*
          
  
  
            
O
 primeiro passo para termos igualdade plena de gêneros no médio prazo é 
ampliar a participação política das mulheres, começando pela ocupação 
dos cargos e espaços no nível municipal, disse a representante da ONU 
Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, ao participar do evento "Por um 
Planeta 50-50 em 2030: Mulheres do Amanhã", organizado pela entidade 
internacional, no Museu do Amanhã, na zona portuária do Rio de Janeiro.
Segundo
 Nadine, a ideia do evento e do programa 50-50 é discutir com as 
mulheres de hoje formas de tornar o planeta mais igualitário em 2030, 
com oportunidades para que todas possam ter as suas potencialidades 
desenvolvidas e a sociedade possa “aproveitar as capacidades das 
mulheres em toda a sua diversidade”.
“Precisamos de mais mulheres
 nos gabinetes, agora temos uma boa oportunidade de construir cidades 
igualitárias, cidades 50-50. Nós lançamos um projeto, Cidades 50-50 – 
Todas e todos pela Igualdade, que é ter nos municípios gabinetes 
paritários, ter políticas públicas a nível local, que levem os Objetivos
 do Desenvolvimento Sustentável ao nível local”, disse Nadine, ao 
discursar ontem (28) no evento.
A representante da ONU cita o 
desafio de incorporar as mulheres no setor econômico, com salário igual 
para trabalho igual, realidade muito distante do que é constatado no 
Brasil. “As estatísticas falam que, no Brasil, a diferença entre homens e
 mulheres para um mesmo trabalho é de 30%, mas você tem também uma 
grande diferença entre o que as mulheres negras ganham e os homens 
brancos, de mais de 300%, elas são a parte baixa da pirâmide dos 
salários e eles são a parte alta”.
Também sobre o Brasil, Nadine 
diz que o país precisa avançar no cumprimento dos acordos 
internacionais. “Eu acredito que o Brasil está em um momento que tem que
 pensar de uma forma importante nos compromissos que tem assinado com 
acordos internacionais. Tem que fazer mais para ampliar a representação 
das mulheres na política, em todos os âmbitos, no setor econômico e ter 
ações muito claras em torno da inclusão social e o combate à violência 
contra as mulheres”.
 
Racismo
 
A
 pesquisadora e ativista do movimento de mulheres negras Djamila Ribeiro
 falou sobre o racismo institucional e a violência que ele gera com a 
naturalização da ausência de negros nos espaços que passam a ser 
considerados apenas de brancos.
“Desde chegar na escola e não ver
 a minha história nos livros didáticos, chegar em casa e não ver ninguém
 como eu na televisão, quatro gerações de paquitas loiras, abrir uma 
revista e não se enxergar, sair na rua e ser zoada pelos meninos. Então,
 a gente não sabe bem como é conceituado, mas a gente sente na pele. Uma
 das coisas que o racismo institucional faz com a gente desde muito cedo
 e é um sentimento que nos acompanha, é o sentimento de inadequação, 
porque a gente não se sente fazendo parte de nenhum lugar”.
Ela 
lembra que o racismo institucional associado ao machismo institucional 
colocou as mulheres negras nas posições de menos prestígio na sociedade 
brasileira. “As pessoas brancas chegam nas universidades e nunca 
questionam não ter nenhum professor negro e todas as pessoas da limpeza 
serem mulheres negras. O racismo institucional naturaliza o nosso olhar 
ao ponto da gente não se incomodar e não se revoltar em termos mulheres 
negras limpando o nosso banheiro e termos aula com homens brancos. Essa 
naturalização, que é uma violência muito grande, faz com que as pessoas 
brancas acreditem que é por causa do mérito. Mas as pessoas brancas 
esquecem que vivemos num país que teve 354 anos de escravidão negra e 
foi o último a abolir a escravidão e no processo de industrialização do 
país não foi pensado mecanismos de inclusão da população negra.
Publicidade
 
A
 publicitária Carla Alzamora apresentou uma pesquisa feita sobre a 
representatividade de gênero e raça na propaganda. Segundo ela, 65% das 
mulheres não se sentem representadas na mídia e na publicidade e que, 
portanto, 65% das mulheres brasileiras não estão criando conexões com as
 mensagens passadas pela publicidade. De acordo com ela, isso é um 
alerta para as empresas se preocuparem em repensar o modelo de 
propaganda feita atualmente.
“A gente precisa parar de pensar que
 o que a gente faz é 'só publicidade'. A publicidade é onipresente na 
vida das pessoas, cada uma recebe em média de 3 mil a 5 mil mensagens 
publicitárias por dia. Óbvio que a gente não consegue racionalizar todas
 elas, mas elas vão formando nossas referências de mundo e o que a 
sociedade considera belo, aceitável, de como a gente deve agir, ser e se
 comportar. Por essa razão, a gente é parte do problema. Então por ser 
parte do problema e ter o poder de definir essas mensagens, a gente tem 
oportunidade também de ser parte da solução”.
Foram analisadas 
mais de 3 mil inserções na TV, que indicam que a prevalência de reforço 
de estereótipos de gênero, restrição de papéis, padrão de comportamento e
 de beleza. Quanto ao protagonista da peça publicitária, 17% eram o 
próprio produto, 33% homens, 26% mulheres, 7% ambos e 11% a sociedade. 
Entre os homens protagonistas, 83% eram brancos, 7% negros e 10% 
diversos. Entre as mulheres, a proporção é de 84% de brancas, 12% de 
negras e 4% diversas.
*Colaborou Joana Moscatelli, repórter do Radiojornalismo
 
 
 
