Domingo, 23 de outubro de 2016
              Yara Aquino - da Agência Brasil
          
  
  
            
    
    
Em reação à medida provisória MP 746/2016 que reforma o ensino médio e a
 Proposta de Emenda à Constituição 241, que impõe um limite aos gastos 
públicos pelos próximos 20 anos, estudantes realizam ocupações em 
escolas pelo país. Em todo o país, 1.016 escolas estavam ocupadas até a 
noite de sexta-feira (21), de acordo com a União Brasileira dos 
Estudantes (Ubes).
No Distrito Federal, pelo menos duas escolas e
 cinco institutos federais estão nessa situação, segundo a Ubes. Os 
estudantes do DF das instituições ocupadas conversaram com a Agência Brasil
 e disseram que é precisar melhorar o ensino média, mas dizem que 
alunos, professores e funcionários de escolas e institutos federais 
precisam ser ouvidos antes dessas mudanças mudanças serem implementadas.
 Quanto à PEC 241, dizem que vai reduzir os investimentos na educação.
Uma
 delas é o Centro de Ensino Médio 304 de Samambaia (CEM 304), que está 
ocupada pelos estudantes desde a quarta-feira (19). Cerca de 130 pessoas
 participam diariamente das atividades de mobilização no centro de 
ensino, de acordo com a organização do movimento. A jovem Tainara 
Almeida, 18 anos, aluna no 3°ano do ensino médio da escola é uma delas e
 diz concordar que é preciso melhorar o ensino médio, no entanto, ela 
reclama que houve falta de diálogo com os estudantes sobre a reforma.
“Existe
 problema no ensino médio e não é de agora, mas a grande questão é que 
ninguém veio conversar com os estudantes, com os professores, com a 
comunidade, que são os principais atingidos. Isso é preciso ser 
discutido nas escolas e não por quem não utiliza o ensino público. Nosso
 principal objetivo é sermos ouvidos e que possam, acima de tudo, 
dialogar com a gente.”, disse.
Fim de disciplinas
 
Também
 concluinte do ensino médio no CEM 304, Mariana Benigno, 16 anos, diz 
estar preocupada com a retirada de obrigatoriedade de disciplinas do 
curriculum prevista na medida provisória da reforma do ensino médio. “O 
governo estava usando a reforma do ensino médio para torná-lo mais 
atraente, mas não vemos isso. Querem tirar matérias que nos fazem 
pensar, que fazem a gente conhecer as correntes ideológicas e as 
políticas”.
Mariana também disse considerar que a PEC 241 vai 
comprometer os investimentos na educação. “A demanda por recursos vai 
crescer e o dinheiro que está sendo investido hoje não vai dar conta da 
demanda”, disse.
Para Mariana, a reforma do ensino médio deve garantir um cronograma mais flexível e melhorar a estrutura das escolas.
Enem
 
No
 último dia 19, o ministro da Educação, Mendonça Filho, disse que a 
aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deve ser cancelada 
nas escolas ocupadas, caso elas não estejam liberadas até o dia 31 de 
outubro. É o caso do CEM 304 de Samambaia. Segundo Tainara e Mariana, o 
movimento avalia a possibilidade de desocupar a escola durante os dias de aplicação da prova do Enem.
No campus de
 Riacho Fundo do Instituto Federal de Brasília (IFB), a ocupação começou
 na segunda-feira (17). Acampados em barracas no pátio da instituição, 
os estudantes têm um calendário diário de atividades que inclui debates,
 aulões e oficinas.
O aluno do curso técnico em hospedagem no IFB
 do Riacho Fundo, Diego, 18 anos, pediu para ser identificado apenas 
pelo primeiro nome e relatou que também considera que as mudanças 
proposta deveriam ter sido discutidas com os estudantes, professores e a
 comunidade escolar. Ele diz que a ocupação no instituto federal vai 
continuar por tempo indeterminado. “Começamos a ocupação e fizemos três 
assembleias para conscientizar estudantes e servidores e mostrar o que 
tínhamos de propostas. A gente vai continuar a ocupação por tempo 
indeterminado”, disse.
Colega de Diego no curso técnico de 
hospedagem, Thaís, de 16 anos, também preferiu não revelar o sobrenome e
 critica a proposta de ampliar a carga horária do ensino médio. “A gente
 não concorda porque os dados não batem, querem colocar um teto nos 
recursos que irão para a educação e saúde e aumentar a carga horária de 
todas as escolas, mas a maioria delas não têm estrutura para isso”, 
disse.
Para Thaís, a reforma no ensino médio até deve ser 
considerada, mas antes é preciso ouvir os estudantes sobre as mudanças 
necessárias e direcionar mais recursos para a educação. “É considerável 
que aconteça essa reforma no sentido de direcionar para um curso 
profissionalizante, para as áreas de humanas ou exatas, mas não houve 
debate com os alunos para saber o que era melhor e, com cortes de 
gastos, não vai funcionar”, disse a estudante.
Ministro
 
Em
 declaração recente, o ministro da Educação, Mendonça Filho, rebateu 
críticas de falta de diálogo na reforma no ensino médio. Segundo ele, a 
discussão em torno do tema é feita desde 1998. "Eu acho um absurdo falar
 em precarização, não tem como encarar esse contexto trágico [do atual 
ensino médio] e ficar olhando a banda passar. Tem que agir e estamos 
agindo na urgência e na relevância que o assunto merece. Quem quer 
discutir, participa de audiência pública no Congresso Nacional e até de 
protestos, mas não pode impedir quem quer se submeter à prova do Enem", 
disse Mendonça.
Em posicionamento divulgado nos últimos dias pelo Ministério da Educação, o ministro Mendonça Filho, defendeu a PEC 241
 dizendo que o teto de gastos proposto reforça o compromisso do governo 
com o equilíbrio das contas públicas, além de garantir a governabilidade
 econômica. No último dia 6, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, 
disse que a PEC preservará a saúde e a educação, sem retirar direitos 
dessas áreas.
Mudanças no Ensino Médio
 
Com
 a Medida Provisória do Ensino Médio, a intenção é que o ensino médio 
tenha, ao longo de três anos, metade da carga horária de conteúdo 
obrigatório, definido pela Base Nacional Comum Curricular, ainda em 
discussão. O restante do tempo deve ser flexibilizado a partir dos 
interesses do próprio aluno e das especificidades de cada rede de ensino
 no Brasil. Os alunos poderão escolher seguir algumas das seguintes 
trajetórias: linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências 
humanas.
 
 
 
