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(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 26 de abril de 2019

O NAZIFASCISMO – UMA SÍNTESE

Sexta, 26 de abril de 2019
Artigo publicado originariamente em
https://jornalinfocruzeiro.com.br

Por
Salin Siddartha


O Nazismo
O nazismo foi a vertente fascista que surgiu na Alemanha, também na década de 1920, com o pretexto de encontrar uma saída para a profunda crise econômica e moral que se abateu sobre aquele país após ter sido derrotado na Primeira Guerra Mundial. O movimento alegava que a culpa de todos os problemas da crise alemã era dos imigrantes judeus, dos ciganos e dos comunistas.
O nazismo organizou-se em grupos e milícias paramilitares. O livro “Mein Kampf” (“Minha Luta”), escrito por Adolf Hitler, aperfeiçoou essa ideologia fascista. A difusão dos ideais nazistas estava ligada ao darwinismo social, uma interpretação errada da Teoria da Evolução das Espécies, de Charles Darwin, a qual pugnava pela existência de povos biologicamente superiores. No caso, o nazismo fez surgir o “arianismo”, que via a população genuinamente germânica ou nórdica como tipicamente “ariana”, crendo que ela fosse naturalmente superior aos outros povos.

O nazismo buscava utilizar-se da revolta contra a situação socioeconômica para a manutenção da ordem capitalista em uma sociedade rigidamente hierarquizada. O governo nazista suspendeu os direitos civis da população, permitindo a Hitler legislar independentemente do Parlamento.
A ditadura nazista militarizou a sociedade alemã, produziu uma propaganda intensiva em torno de Hitler, cultuando-lhe a personalidade, e desenvolveu ritos e símbolos para serem louvados pelos alemães. O governo nazista proibiu e destruiu, muitas vezes em praça pública, milhares de obras literárias, assim como obras de arte cubistas e impressionistas. Os prisioneiros políticos foram isolados em campos de concentração, onde eram submetidos a violências físicas e morais. Os homossexuais, ciganos, judeus, socialistas e comunistas também eram forçados a viver em guetos e campos de concentração.
Os nazistas centralizaram os meios de comunicação e os colocaram a seu serviço, estabelecendo um rigoroso controle e uma forte censura prévia sobre os conteúdos a serem transmitidos e publicados. Um nacionalismo extremo foi propagado pelo regime.
A vitória dos países aliados na Segunda Guerra Mundial impôs séria derrota ao nazifascismo, reduzindo-o, naquela época, aos governos franquista da Espanha e salazarista de Portugal.
O Nazifascismo dos Governos Franquista da Espanha e Salazarista de Portugal
Um regime fascista se manteve na Espanha de 1939 a 1978, com uma ditadura liderada pelo General Francisco Franco.
Desde 1936, o General Franco (autodenominado de Generalíssimo) foi apoiado por simpatizantes do fascismo, tais como os membros do exército espanhol, a burguesia conservadora e grande parte da classe média, além de setores da Igreja e
do partido fascista (chamado Falange) que, proferindo uma tentativa de golpe contra o governo de esquerda que dirigia a Espanha, deu início à Guerra Civil Espanhola, da qual saiu vencedor o regime ditatorial franquista.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Francisco Franco apoiou Hitler, Mussolini, e os portos da Espanha serviram ao contrabando de suprimentos da indústria bélica da Alemanha nazista. O Generalíssimo instituiu um regime de partido único que concentrava os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
Na Espanha, então, instaurou-se um regime fascista, pois fascista foi o discurso, a aparência, o estilo e até a estrutura do seu Estado. As bases do regime franquista foram marcadas pelo totalitarismo que tentava mudar toda a sociedade para criar um “novo homem” (na qual a mulher não tinha muito valor). O regime visava à unidade nacional espanhola, promoção do clero e religião católicos, nacionalismo castelhano (com a eliminação dos direitos das demais culturas, como a basca e a catalã), militarismo, corporativismo fascista, anticomunismo e antianarquismo.
O regime franquista prezava por um nacional-militarismo, demarcado por um antiliberalismo que tinha o corolário do anticomunismo acentuado pelo catolicismo, o qual Franco via como o fundamento moral e político da nação espanhola. Em verdade, o nacional-catolicismo é a marca da versão espanhola do fascismo. Economicamente, o generalíssimo executou uma política autárquica que travou o desenvolvimento nacional e buscou implantar organizações sindicais vinculadas apenas ao governo.
O Estado espanhol centrou-se na figura do ditador, enaltecido constantemente por meio de propaganda governamental. O ideólogo tradicionalista Víctor Pradera Larumbe era a única referência intelectual de Franco. Larumbe defendia um Estado inspirado na história espanhola e na tradição monárquica social favorecida pela igreja católica.

O regime franquista foi erigido repressivamente por meio da submissão da população, mediante a aliança entre as elites, forças conservadoras e forças armadas. As liberdades individuais e os direitos civis foram limitados e violados em face da repressão brutal e da eliminação física dos opositores do sistema. Durante o franquismo, 300 mil pessoas foram encarceradas em prisões de trabalhos forçados, dezenas de milhares foram enviadas ao exílio e 150 mil foram fuziladas por motivos políticos. O governo de Franco deixou mais de 100 mil desaparecidos cujo destino é, até hoje, desconhecido. Havia impunidade absoluta para quem participava dos crimes do franquismo e enriquecia com o regime.
Depois da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos apoiaram o regime franquista em troca de concessões militares e econômicas que vulneraram a soberania nacional da Espanha. A partir da década de 50, houve um desenvolvimento econômico que, todavia, não acarretou reformas sociais ou supressão da desigualdade social, nem conquistas em prol da classe trabalhadora.
Após 40 anos de ditadura, em 1978, o regime teve fim com a morte do ditador, que foi substituído pelo Rei Juan Carlos I. Com a adoção de uma nova constituição, a Espanha tornou-se uma democracia.
No caso de Portugal, o nazifascismo surgiu no início da década de 1920, contagiando cadetes, aspirantes ao oficialato e alguns republicanos de destaque. Terminou estabelecendo-se na ditadura de Oliveira Salazar.
O salazarismo assemelhou-se mais com o regime italiano que qualquer outro Estado totalitário ou autoritário do período entre as duas guerras mundiais; contudo, conquanto apoiasse declaradamente o governo de Mussolini, Salazar revelava que desejava afastar-se do fascismo italiano, porque não lhe agradava o fato de aquele regime desrespeitar as instituições do Poder Judiciário italiano e os juristas.
A organização político-econômica da sociedade portuguesa salazarista era corporativista, mantinha a censura como prática política e o Secretariado de Propaganda Nacional como instituição, coisas que consubstanciavam a espinha dorsal do sistema liderado por Salazar.
O Integralismo
Na década de 30, surgiu, no Brasil, um movimento com posicionamento político de extrema direita, denominado Ação Integralista Brasileira. Era influenciado pelas doutrinas nazifascistas de Hitler e Mussolini. O integralismo negava a democracia, defendia um Estado com poder centralizado, opunha-se ao pluripartidarismo e propunha o combate a qualquer tipo de oposição política – aproximava-se do que, mais tarde, viria a ser implantado em nosso país pelo Golpe Militar de 1964.
Possuía como lema “Deus, Pátria e Família”. Usava o anticomunismo como principal motivação para conquistar adeptos, era marcado por uma estrutura extremamente hierarquizada, de conotação militar, burocrática e totalitária. Inicialmente, o integralismo recusou-se a ser qualificado de partido político, mas, posteriormente, em 1934, passou a disputar o poder pelos canais eleitorais.
Ocorreram vários conflitos entre antifascistas e integralistas. Era comum os integralistas provocarem os defensores da democracia, imiscuindo-se em suas reuniões para tumultuá-las.
Os integralistas desempenharam um triste papel no âmbito do conservadorismo burguês do Brasil. O movimento deles foi posto na ilegalidade em 1937, logo após o fracasso da tentativa de tomar, pela força das armas, o Palácio do Catete, sede do Governo Brasileiro e residência oficial do Presidente da República, Getúlio Vargas.
Dessa forma, o integralismo foi a primeira manifestação do nazifascismo no Brasil. Depois, veio a expressão nazifascista que teve vez com o Regime Militar, na repressão ao povo brasileiro.
Cruzeiro-DF, 22 de abril de 2019
SALIN SIDDARTHA