Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Bancada do Câncer tem sua filial brasiliense

Terça, 15 de fevereiro de 2022

Na semana que passou, essa bancada esteve em ação, por pelo menos duas vezes. Dia 8/2, ao apreciar o veto presidencial ao projeto do senador Reguffe, que assegurava aos doentes portadores de plano de saúde, a cobertura do tratamento quimioterápico domiciliar. No dia seguinte, quando da apreciação do projeto-de-lei 6.299/2002, que facilita a autorização e comercialização de agrotóxicos, seis dos oitos deputados do DF votaram favoravelmente a uma lei que pode ampliar os casos de câncer no Brasil. As redes sociais não perdoaram.

Do Blog Brasília, por Chico Sant'Anna

Por Chico Sant’Anna
Os parlamentares costumam se organizar no Congresso Nacional, notadamente na Câmara dos Deputados, em torno de bancadas temáticas. Mais do que seguir a orientação de um partido, eles se pautam pelos interesses pessoais ou corporativos. As bancadas mais famosas são apelidadas de BBB. Não, não me refiro ao reality que passa na televisão. BBB significa bancadas da Bíblia, do Boi e da Bala, que agrupam evangélicos, defensores do agronegócio e da segurança pública, respectivamente. Um mesmo deputado pode estar ao mesmo tempo em mais de uma bancada. Mais recentemente, pode se dizer que surgiu a bancada do Câncer. Ela é formada por deputados que votaram a favor da flexibilização de agrotóxicos, muitos deles cancerígenos, e contra o projeto-de-lei do Senador Reguffe (Podemos), vetado pelo presidente Bolsonaro, que assegurava aos doentes portadores de plano de saúde, a cobertura do tratamento quimioterápico domiciliar, por meio de comprimidos; considerado mais humano e até mais econômico. E essa bancada do Câncer tem sua filial brasiliense.

Na semana que passou, essa bancada esteve em ação, por pelo menos duas vezes. Dia 8/2, o veto ao projeto de Reguffe chegou a ser derrubado na votação do Senado Federal, mas foi mantido pelos deputados. Faltaram 23 votos, apenas. A bancada federal do DF se apresentou dividida, meio a meio. Quatro votaram com Reguffe – Erika Kokai (PT), Professor Israel (PV), Paula Belmonte (Cidadania) e Bia Kicis (PSL) – e quatro votaram contra o tratamento domiciliar – Laerte Bessa (PL), Celina Leão (PP), Luís Miranda (DEM) e Júlio Cesar (Republicanos). No dia seguinte, quando da apreciação do projeto-de-lei 6.299/2002, que facilita a autorização e comercialização de agrotóxicos, os quatro que já haviam votado contra o tratamento domiciliar do câncer, voltaram a votar favoravelmente a uma lei que pode ampliar os casos de câncer no Brasil. Somaram-se a eles, Paula Belmonte e Bia Kicis. Ambientalistas e associações ligadas à defesa da saúde criticam o projeto, alegando que ele traz riscos ao meio ambiente e à saúde da população. Um dos principais temores é que, além da contaminação de alimentos e de trabalhadores rurais que atuam na pulverização, os mananciais de águas em todo o país sejam contaminados, gerando ai um efeito multiplicador imensurável.