Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 18 de março de 2010

Dilma, festa e risco

Quinta, 18 de março de 2010
Por Ivan de Carvalho
O fato maior em debate na política brasileira, ontem, foi a pesquisa CNI/Ibope. Aliás, cada pesquisa eleitoral de um instituto importante – principalmente quando envolve a sucessão presidencial – tem o seu dia de glória, os seus “15 minutos de fama”.
E no caso de ontem há uma razão extra para o impacto da pesquisa e o barulho a respeito. A candidata governista, ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, do PT, lançada e apadrinhada pelo presidente Lula, deu um salto felino, pouco faltando para alcançar, na modalidade estimulada da pesquisa, o principal candidato de oposição, o governador paulista José Serra, do PSDB. Dilma saltou dos 17 por cento que obteve na pesquisa de dezembro para 30 por cento, apenas cinco pontos abaixo do tucano José Serra, que ficou com 35 por cento, quando em dezembro tinha 38 por cento.
Há duas razões evidentes para que isto haja acontecido. A primeira delas é a superexposição de Rousseff nos últimos meses, nos atos oficiais que funcionam como comícios disfarçados e na mídia. A segunda razão é o fato de que quase invariavelmente, quando se expõe, Dilma Roussef não o faz propriamente – é o presidente Lula que a expõe e a apóia, conforme a ocasião, implícita ou explicitamente.
Ora, Lula está há tempos muito popular, rondando os 80 por cento de aprovação pessoal do eleitorado e seu governo também tem recebido, segundo as pesquisas, uma aprovação muito grande. E os números das pesquisas indicam que Lula consegue – ao menos nessa fase do processo eleitoral – transferir à até há pouco desconhecida Dilma Rousseff uma expressiva parte do seu capital eleitoral. Resta medir, até porque talvez só o tempo esclareça isto, qual é o teto dessa transferência, certamente maior no Nordeste e no Norte do país que nas outras regiões.
    O diretor de Operações da CNI, Rafael Luchesi, deixou claro que muito desse resultado deveu-se ao maior conhecimento de Dilma pelo eleitorado (representado pelos entrevistados). Era de 32 por cento em dezembro e em março foi para 44 por cento.
    Há um outro elemento auspicioso para a candidata governista na pesquisa CNI/Ibope. Na modalidade expontânea – quando não se apresenta lista de nomes ao entrevistado e apenas pergunta-se em quem ele votaria – quem vence é Lula, com 20 por cento, de uma parte de seus muitos milhões de tietes que não sabem que ele não pode disputar o pleito. Mas nessa modalidade Dilma Rousseff ultrapassou Serra, obtendo 14 por cento contra dez por cento do governador de São Paulo.
    Em verdade, nem tudo são flores – ou votos – para Dilma Rousseff. José Serra, embora conhecido de 65 por cento do eleitorado, tem uma taxa de rejeição de 25 por cento, menor que a da candidata do PT. O diretor Luchesi, da CNI, ressaltou que, com a maior proximidade das eleições, os eleitores passam a rejeitar candidatos exatamente porque os conhecem.
    Coincidência ou não, em seu “ex-blog” do dia 12 último, sob o título “Os riscos da candidatura de Dilma”, o ex-prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, democrata, e que costuma analisar pesquisas e campanhas eleitorais, escrevia que “a superexposição, segundo a escola francesa de Jacques Seguelá, queima como a luz do sol. Há a necessidade de mergulhos e retorno à superfície. Nos governos deve ser assim. Nas campanhas, não é o caso desse movimento sinuoso, mas de um processo de exposição progressiva (...)”. Em síntese: um crescendo controlado. Controle que não estaria ocorrendo na campanha de Dilma.
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.