Sexta, 30 de setembro de 2011
Por Ivan de Carvalho
A propósito, a ponte ficou linda. Vi no Youtube.
Estou pensando em reservar o fim de semana para fazer a travessia do mar que
separa a capital e a ilha, ida e volta de carro. Aproveitarei para ver se o
João Ubaldo está por lá, só para ter o prazer de desafiá-lo a afirmar que não
mudou de idéia, que não gostou da ponte. Pode ser que teime em não dar o braço
a torcer, mas, ainda assim, du-vi-d-o-do.
Depois penso em pegar um navio para ter o prazer
de ver o concreto se abrindo naquela espetacular manobra para dar passagem à
embarcação, a bordo da qual aproveitarei a oportunidade para desafiar Netuno a
mandar seus maiores tsunamis, que tremerão de vergonha ao fracassarem ante a
maravilha inabalável.
Soube até que uma ONG aí, não me lembro qual, já
está planejando organizar semanalmente uma corrida (é corrida mesmo, caso
alguém esteja achando que me enganei e que se pretende organizar correntes) de
não sei quantos guias pela ponte, seguidos por pessoas com necessidades
especiais absolutas ou relativas (este, meu caso) nos membros inferiores. A
premissa de tais corridas, segundo me foi dito, é a de que nenhum coxo,
paraplégico, ou mesmo um mero preguiçoso se manterá sentado ante o apelo de uma
corrida sobre o mar da baía.
Mas enquanto os soteropolitanos e os ilhéus se
maravilham com o monumental enfeite utilitário da Bahia de Todos os Santos,
outros motivos menos espetaculares precisam ser assinalados com insistência
para que não passem despercebidos pelo ofuscamento produzido pela ponte.
Assim é que o deputado João Leão, do PP e chefe
da Casa Civil da prefeitura de Salvador, completou a travessia terrestre e
política de Lauro de Freitas para capital com uma travessia
burocrática-eleitoral, transferindo para a cidade do Senhor do Bonfim (não
confundir com a cidade de Senhor do Bonfim) seu título de eleitor, o que o
torna apto a ser candidato à sucessão do prefeito João Henrique, também do PP.
Como no caso de Mário Kertész, cuja filiação ao PMDB
não o obriga a disputar a prefeitura, a transferência de cidade em que vota não
obriga Leão a entrar na mesma disputa. Mas estão os dois habilitados e o mais
vai depender da conjuntura, das articulações e da vontade de algumas pessoas,
inclusive deles mesmos. Outro movimento foi feito ontem pelo prefeito João
Henrique. Derramou-se em elogios ao governador, por quem tem admiração como
governador e também como pessoa “de quem aprendi a gostar”.
Mas João Henrique, definido por um experiente e
atilado político baiano como “um visionário”, tratou de justificar a definição.
Inseriu numa conversa com jornalistas referência a 2014. Para ele, o debate
sobre sua sucessão começou cedo: “Começou muito cedo. Tão cedo que já estão
falando até de 2014”. E ante a provocação do site Política Livre sobre a participação dele, João Henrique, no debate
sobre a sucessão de governador, em 2014, o prefeito, evangélico, levantou vôo:
“2014 está nas mãos de Deus. A minha vida sempre foi assim. Sempre que eu quis
muito uma coisa e essa coisa não veio para mim, eu pensei que ia ficar triste,
que ia ser ruim, mas acabou sendo melhor, principalmente no campo profissional
(político)”.
E concluiu, contrito e convicto: “Não adianta ter
obsessão por nada, porque os caminhos estão escritos e Deus sabe escrever. Deus
está sempre reservando uma coisa melhor para a gente – (assim tipo uma mudança
do Palácio Thomé de Souza para o Palácio de Ondina, entre outras hipóteses).
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Este artigo foi publicado originalmente na
Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.