Quarta, 28 de setembro de
2011
Por Ivan de Carvalho

A bancada baiana do partido no Congresso
Nacional, assim como suas bancadas na Assembléia Legislativa e na Câmara
Municipal de Salvador tornaram ostensivo seu apoio ao deputado, que há muito
labuta para obter um mandato de prefeito da capital. Isso acabaria com rumores
de reações discretas no PT a mais esta recandidatura de Pelegrino e, mostrando
a unidade petista, daria ao aspirante a prefeito e ao próprio PT o instrumental
para negociar com os aliados a partir de uma posição de força.
O desejo de entrar nas negociações a partir de
uma poderosa vantagem justifica-se. É perfeitamente compreensível. Já vão meses
desde que, neste espaço, registrei a existência de algumas resistências
internas à pretensão de Pelegrino e principalmente a constatação, feita
intramuros, de que o pré-candidato estava com dificuldades junto a faixas do
eleitorado, especialmente a universitária e a chamada “nova classe média”, de
tendência lulista, especialmente em Salvador. Sentia-se que havia um grau
indesejável de rejeição na sociedade. E também havia risco de divisões na base
governista estadual, simbolizados estes na disposição do PC do B de apresentar
a candidatura da deputada Alice Portugal a prefeita.
Voltando ao evento gastronômico promovido pelo PT
para Pelegrino. Não deu muito certo, parece. Os fatos do “after day” sugerem
que o PT não contava com uma das mais elementares leis da física, segundo a
qual a cada ação corresponde uma reação igual e contrária.
Esta lei, no entanto, entrou imediatamente em
operação e reuniu para outro almoço, ontem, aspirantes à prefeitura de partidos
aliados do PT e até independentes e adversários. Deputada Alice Portugal, do PC
do B, vice-prefeito Edvaldo Brito, do PTB, deputado Capitão Tadeu, do PSB,
deputado Maurício Trindade, do PR e Andrea Mendonça, do PV. Estabeleceram que
vão se articular, atuar juntos, conversar sobre um pacto de ajuda recíproca
caso algum deles vá ao segundo turno. E marcaram o encontro seguinte para o dia
7, na Assembléia Legislativa.
Costumo insistir que as aparências, às vezes,
enganam. Outras vezes, não, é claro. Faço esta ressalva antes de escrever que elas,
as aparências, são de que, ao tentar papar os aliados no almoço de
segunda-feira, o PT e seu candidato falharam no propósito e ainda saíram cheios
de mordidas que lhe foram aplicadas no almoço de ontem.
Mas vale destacar, para sublinhar o clima no
“meio ambiente”, a entrevista dada por Alice Portugal ao radialista e agora
peemedebista Mário Kertész, na manhã de ontem. Ela disse que se reuniu com seus
companheiros, ante os quais sustentou a importância de manter a candidatura até
as eleições. Observou, na entrevista, que estranhezas a respeito resultam de
“anos de monotonia” e “samba de uma nota só”, pode-se presumir que sob a batuta
do PT.
Ao questionamento da razão pela qual não foi ao
almoço petista de segunda-feira, disparou: “Você já notou como estou mais
magra. Estou fazendo dieta”. Quando parecia que havia encerrado, mostrou que as
aparências enganam mesmo: “Além disso, Mário, o cardápio não era do meu
agrado”.
Não era. Ela preferiu preservar os dentes para as
mordidas que o PT levou ontem.
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Esse artigo foi publicado originalmente na
Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.