Quinta, 22 de setembro de
2011
Por Ivan de Carvalho

É que dos vários assuntos abordados na fala de
Rousseff, entre os quais esteve incluída a grave crise econômica internacional,
o ponto realmente quente foi o provável pedido – a ser concretizado amanhã pela
Autoridade Nacional Palestina – de reconhecimento de um Estado palestino e sua
admissão como membro da ONU.
O proto-estado representado pela Autoridade
Nacional Palestina, fruto de acordo entre o Estado de Israel e os palestinos,
até o início da noite de ontem resistia aos esforços do governo norte-americano
e de outros governos para desistir de formalizar o pedido a ser feito, segundo
anunciado, amanhã.
Em verdade, quando a presidente Dilma Rousseff
deu o apoio do Brasil à pretensão da Autoridade Nacional Palestina (que só é
considerada aceitável pelo poderoso movimento radical terrorista palestino
Hamas caso a ANP “renegue” o Estado de Israel), ela botou mais alguma lenha na
grande fogueira.
“Chegou o momento de ter representada a Palestina
a pleno título” nas Nações Unidas, disse a presidente do Brasil, acrescentando
que o reconhecimento do Estado palestino ajudará a obter “paz duradoura no
Oriente Médio”. Se o objetivo não foi apenas o de agradar aos países árabes,
que são 22 e mais a alguns muçulmanos não-árabes engajados no assunto, a
exemplo do Irã, mas o de construir mesmo a paz na região, as palavras soam
bonitas.
Mas construir a paz como, cara pálida? Não existe
a menor possibilidade de o Estado de Israel aceitar a criação de um estado
palestino sem que isso passe por um bem elaborado acordo negociado entre as
duas partes diretamente interessadas, que resolva, antes, questões (até citadas
no discurso de Rousseff, mas para serem tratadas depois da criação do Estado
palestino) como a definição dos territórios que comporiam o novo estado, os
assentamentos judaicos na Cisjordânia, fronteiras e outras questões que
garantam a segurança de Israel e, clara e soberana, a solução para o problema
de Jerusalém.
Ah, Jerusalém, que Israel tem como sua capital
“eterna e indivisível”, que os palestinos pretendem seja a sua própria capital
e da qual, há dois milênios, avisou Jesus, ao falar de destruição no Fim dos
Tempos (não é o mesmo que fim do mundo, mas fim de um período): “Jerusalém será
a pedra pesada”. Aquela pedra que não se conseguirá remover e assim bloqueará o
caminho da paz.
Bem, deixando em paz a Bíblia e suas muitas
advertências, espalhadas quase do começo ao fim, sobre o drama que se desenrola
na Terra Santa e adjacências, voltemos a coisas mais “sábias”, como discursos
presidenciais e estatutos da ONU, que para muitos são mais valiosos.
Enquanto pressionam a ANP tentando dissuadi-la de
apresentar amanhã o pedido de reconhecimento e admissão de um Estado palestino,
os Estados Unidos também exercem pressão sobre membros do Conselho de Segurança
na tentativa de evitar que, dos 15, entre os quais está o Brasil, nove votem a
favor do pedido palestino. Pois, com nove votos, o assunto só não irá para
decisão final na Assembléia Geral se um dos cinco membros permanentes do
Conselho de Segurança vetar. E os Estados Unidos vetarão, se não tiverem
alternativa, mas isto lhes criará desagradáveis e até perigosos problemas
políticos no revolto (e no momento extraordinariamente revolto) Oriente Médio.
Uma tática é, se possível, rejeitar, pela não
obtenção do mínimo de nove votos, o pedido palestino no Conselho de Segurança.
Outra é empurrar a votação no CS, que tem outros assuntos na “fila”, durante
meses e trabalhar para ver o que acontece. O veto é o último recurso.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.