Segunda, 1 de outubro de 2012
Por Ivan de Carvalho

Mas a história a que se referia o
artigo, embora muito sensível, no sentido que é usado para definir assuntos
melindrosos, perigosos ou secretos (e esses três elementos estavam presentes)
era o Mensalão – cujo julgamento continua hoje no Supremo Tribunal Federal –,
mais especificamente uma reportagem da revista Veja baseada “em revelações de parentes, amigos e associados” de Marcos
Valério, um dos principais “operadores” financeiros do Mensalão.
O título “História sem fim” queria
significar que o escândalo do Mensalão não se esgotará com o julgamento da Ação
Penal 470 pelo STF, pois, além das repercussões a curto, médio e longo prazos
que este julgamento deverá ter, novas denúncias e fatos poderão acrescentar
capítulos importantes ao escândalo do Mensalão, que tem características muito
capazes de torná-lo uma história sem fim – tão vasto o tema que sempre haverá
mais a acrescentar.
No
caso da reportagem de Veja, o
essencial era a atribuição – pelas declarações atribuídas a Marcos Valério – da
responsabilidade principal do Mensalão a Lula, que era o presidente da
República quando os fatos que estão sob julgamento do STF ocorreram. Lula, como
se sabe, não é réu do Mensalão e não deu um pio sobre a reportagem da revista.
Houve respostas de políticos e parlamentares, atitudes azedas de autoridades do
Executivo e uma nota oficial articulada pelo PT e subscrita também por alguns
partidos políticos da aliança governista.
O
advogado de Valério disse que não confirmava nem desmentia, depois, alegando
que conversou com Valério, desmentiu. Falta uma palavra final da revista, da
qual alguns jornalistas escreveram que na verdade foi feita uma entrevista com
Valério, da qual existe o áudio, mas combinou-se divulgar as revelações da
forma que se fez. Há suposições a respeito das eventuais razões pelas quais a
revista não teria, ante o desmentido de Valério por intermédio de seu advogado,
exibido o áudio, mas é à revista que cumpre preencher as lacunas nesse capítulo
da História sem fim.
Bem, se a referência a uma “História
sem fim” foi publicada no último dia 18 neste espaço, como já anotado, ontem um
novo capítulo de material histórico veio a público, originalmente em reportagem
do jornal Folha de S. Paulo. “O
ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do mensalão no Supremo Tribunal
Federal, autorizou a abertura de um inquérito para investigar repasses feitos
pelo esquema para pessoas ligadas ao ministro do Desenvolvimento, Fernando
Pimentel, e a outros políticos petistas”, diz a reportagem, acrescentando que
“Pimentel repudia ligação de seu nome ao episódio”.
A nova fase dessa história sem fim
começou há pouco mais de um mês, ante um pedido da Procuradoria Geral da
República para que se aprofundasse a investigação sobre o destino do dinheiro
distribuído pelo PT com a ajuda de Marcos Valério. O requerimento do procurador
geral Roberto Gurgel cita nominalmente o ministro Pimentel (mineiro), a
ex-senadora, ex-vice-governadora e ex-governadora do Rio de Janeiro Benedita da
Silva e Vicente Paulo da Silva (Vicentinho), deputado federal por São Paulo e
ex-presidente da CUT, assinalando que, como eles têm foro privilegiado, a
investigação voltará ao STF “caso surjam indícios concretos de que os valores
arrecadados” destinavam-se aos três. Inicialmente, o inquérito será instaurado
na Justiça Federal em Belo Horizonte, e, além dos três citados, envolve dezenas
de outras pessoas e empresas.
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Este artigo foi
publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho
é jornalista baiano.