Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

História sem fim - II

Segunda, 1 de outubro de 2012
Por Ivan de Carvalho
No dia 18 de setembro, publiquei neste espaço um artigo com o título “História sem fim”. Uma referência bastante óbvia àquele belo e sensível filme que fez muito sucesso há uns 20 anos atrás, mais ou menos.

            Mas a história a que se referia o artigo, embora muito sensível, no sentido que é usado para definir assuntos melindrosos, perigosos ou secretos (e esses três elementos estavam presentes) era o Mensalão – cujo julgamento continua hoje no Supremo Tribunal Federal –, mais especificamente uma reportagem da revista Veja baseada “em revelações de parentes, amigos e associados” de Marcos Valério, um dos principais “operadores” financeiros do Mensalão.

            O título “História sem fim” queria significar que o escândalo do Mensalão não se esgotará com o julgamento da Ação Penal 470 pelo STF, pois, além das repercussões a curto, médio e longo prazos que este julgamento deverá ter, novas denúncias e fatos poderão acrescentar capítulos importantes ao escândalo do Mensalão, que tem características muito capazes de torná-lo uma história sem fim – tão vasto o tema que sempre haverá mais a acrescentar.

No caso da reportagem de Veja, o essencial era a atribuição – pelas declarações atribuídas a Marcos Valério – da responsabilidade principal do Mensalão a Lula, que era o presidente da República quando os fatos que estão sob julgamento do STF ocorreram. Lula, como se sabe, não é réu do Mensalão e não deu um pio sobre a reportagem da revista. Houve respostas de políticos e parlamentares, atitudes azedas de autoridades do Executivo e uma nota oficial articulada pelo PT e subscrita também por alguns partidos políticos da aliança governista.

O advogado de Valério disse que não confirmava nem desmentia, depois, alegando que conversou com Valério, desmentiu. Falta uma palavra final da revista, da qual alguns jornalistas escreveram que na verdade foi feita uma entrevista com Valério, da qual existe o áudio, mas combinou-se divulgar as revelações da forma que se fez. Há suposições a respeito das eventuais razões pelas quais a revista não teria, ante o desmentido de Valério por intermédio de seu advogado, exibido o áudio, mas é à revista que cumpre preencher as lacunas nesse capítulo da História sem fim.

            Bem, se a referência a uma “História sem fim” foi publicada no último dia 18 neste espaço, como já anotado, ontem um novo capítulo de material histórico veio a público, originalmente em reportagem do jornal Folha de S. Paulo. “O ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal, autorizou a abertura de um inquérito para investigar repasses feitos pelo esquema para pessoas ligadas ao ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e a outros políticos petistas”, diz a reportagem, acrescentando que “Pimentel repudia ligação de seu nome ao episódio”.

            A nova fase dessa história sem fim começou há pouco mais de um mês, ante um pedido da Procuradoria Geral da República para que se aprofundasse a investigação sobre o destino do dinheiro distribuído pelo PT com a ajuda de Marcos Valério. O requerimento do procurador geral Roberto Gurgel cita nominalmente o ministro Pimentel (mineiro), a ex-senadora, ex-vice-governadora e ex-governadora do Rio de Janeiro Benedita da Silva e Vicente Paulo da Silva (Vicentinho), deputado federal por São Paulo e ex-presidente da CUT, assinalando que, como eles têm foro privilegiado, a investigação voltará ao STF “caso surjam indícios concretos de que os valores arrecadados” destinavam-se aos três. Inicialmente, o inquérito será instaurado na Justiça Federal em Belo Horizonte, e, além dos três citados, envolve dezenas de outras pessoas e empresas.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.