Quarta, 7 de novembro de 2012
Do Estadão
O que Marcos Valério Fernandes de Souza tem a dizer sobre a
participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-ministro
Antônio Palocci no escândalo de corrupção do mensalão não pode ser
ouvido como o verbo divino ou a voz do povo. Condenado a mais de 40 anos
de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por um rosário de crimes,
o cidadão em questão não é propriamente o que minha avó (e talvez a
dele próprio) chamaria de "flor que se cheire". Mas também não se pode
por isso - e só por isso - considerar in limine que tudo o que ele tem a
dizer seja mentiroso e desprezível. Desqualificar seu depoimento por
esse motivo será o mesmo que negar a veracidade de tudo o têm dito,
falam ou declararão outros réus do mesmo processo - José Dirceu e José
Genoino entre eles. ...
"Se eu fosse condenado a 40 anos de prisão, também estaria me mexendo",
disse o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, apontado pelo
operador do mensalão como o interlocutor dos petistas com ele. "Não
temos nada a temer. Tudo o que ele poderia ter falado falou no
processo", completou o loquaz e truculento presidente nacional do
Partido dos Trabalhadores (PT), Rui Falcão. "Tem que respeitar o
desespero dessa pessoa", avisou o secretário-geral da Presidência,
Gilberto Carvalho, que informou que não o processará. Embora óbvio, o
primeiro argumento não autoriza a negar o direito do réu de falar,
narrar e opinar. A condenação lhe tolhe a liberdade e evita seu convívio
com a sociedade, não o impede de falar. Quanto ao segundo, quem não
deve não teme. E ficam no ar perguntas que não querem calar: como Falcão
ficou sabendo tudo o que Valério teria a dizer sobre o momentoso caso?
Por que Carvalho anuncia desde já que não o processará?