Quarta, 28 de novembro de 2012
Mariana Jungmann, repórter da Agência Brasil
O relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI)
do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), admitiu hoje (27) que poderá
retirar o nome do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, da lista de
pedidos de investigação do seu relatório. Após reunião com diversos
parlamentares da base governista que fizeram parte da CPMI, Cunha disse que
está negociando o texto final que será apresentado amanhã (28) e que deverá
fazer as alterações antes da reunião da comissão.
“As questões que são centrais, nós vamos continuar defendendo. O
tema da análise da conduta do procurador-geral da República e o tema da
conduta de jornalistas não são questões centrais da nossa investigação. A
questão central é a organização criminosa, seu modus operandi,
seu sistema de financiamento. É isso que nós queremos debater. Temas
não centrais do nosso relatório podem ser negociados e é por isso que eu
estou me reunindo com os parlamentares”, disse o relator.
Odair Cunha foi cobrado por alguns colegas de CPMI, inclusive
governistas como ele, por ter incluído no relatório um pedido para que o
Conselho Nacional do Ministério Público investigue o procurador-geral
da República. Na opinião do relator, a conduta de Gurgel foi
questionável porque ele recebeu o inquérito da Polícia Federal, que
apontava a relação do ex-senador Demóstenes Torres com o grupo de
Cachoeira, mas não deu prosseguimento à denúncia, nem solicitou mais
investigações sobre o assunto. Após ver seu nome citado no relatório da
CPMI, o procurador-geral da República classificou a atitude do deputado
petista de “retaliação”.
Após admitir retirar nomes do seu relatório, Cunha disse que
“dificilmente” irá concordar em incluir pessoas na lista de pedidos de
indiciamentos. Questionado sobre a cobrança de alguns parlamentares de
oposição para que ele também citasse o governador do Rio de Janeiro,
Sérgio Cabral, e o dono da construtora Delta, Fernando Cavendish, o
relator disse que eles não fizeram parte da investigação da CPMI.
“Todas as condutas que foram analisadas por nós estão no nosso
relatório. A questão do governador Sérgio Cabral, por exemplo, é uma
conduta que nós investigamos na CPMI, exatamente por isso, não deve ser
analisada sob o ponto de vista de indiciamento”, disse Cunha.
Sobre o governador de Goiás, Marconi Perillo, no entanto, Odair
Cunha disse que ele teve relações com a organização criminosa e que foi
investigado pela CPMI, por isso continuará constando de seu relatório.
Perillo consta da lista de pessoas para as quais o relator pede
indiciamento ao Ministério Público.
A CPMI do Cachoeira investigou as relações do contraventor Carlinhos
Cachoeira, acusado de comandar uma quadrilha que explorava jogos
ilegais em Goiás, com agentes públicos e privados. Entre os agentes
públicos investigados estão governadores, o ex-senador Demóstenes
Torres, deputados, policiais que eram corrompidos pela quadrilha, entre
outros. Diversas empresas eram utilizadas pela quadrilha para lavar
dinheiro, intermediar pagamentos de corrupção e fraudar licitações
públicas.
A Delta, que tem diversos contratos com o governo federal e governos
estaduais, é acusada de fazer parte do esquema e consta no relatório de
Odair Cunha. O texto deveria ter sido lido na semana passada, mas foi
adiada para esta semana. A expectativa é que o relator feche acordos até
amanhã que possibilitem a leitura e votação do relatório.