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(Millôr Fernandes)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A estrada de Ciro

Terça, 26 de fevereiro de 2013
Por Ivan de Carvalho
Ciro Gomes começou no PSDB. Deputado estadual e federal, ex-prefeito de Fortaleza, ex-governador do Ceará, ex-ministro da Fazenda do presidente Itamar Franco, duas vezes candidato a presidente da República pelo PPS em 1998 (terceiro lugar, com 7. 426 mil votos) e 2002 (quarto lugar, com 10.170 mil votos) está saindo de um recesso político autoimposto.

         Está hoje filiado ao PSB, partido presidido e controlado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que alimenta planos de ser candidato à sucessão de Dilma Rousseff, mas não abre o jogo formalmente, pois espera para ver o desempenho do governo federal neste ano, bem como se completa o cenário político com os posicionamentos das oposições. Poderá então concluir que vale a pena arriscar a candidatura a presidente ou preferir outro caminho – nesta última hipótese, o apoio à candidatura de Dilma Rousseff à reeleição parece o caminho mais provável.

         Embora tendo um controle firme da estrutura partidária do PSB, Eduardo Campos tem na seção estadual do Ceará um problema de bom tamanho. Começando pelo fato de que o Ceará e Pernambuco estão na mesma região do país, o Nordeste, de modo que a base geográfica inicial da candidatura de Eduardo Campos é a mesma de uma eventual candidatura de Ciro.

         Aliás, vale registrar que para uma candidatura de Dilma à reeleição, tanto a candidatura de Campos quanto a de Ciro são extremamente incômodas. Exatamente porque o Nordeste tem sido um extraordinário manancial de votos, primeiro, para Lula, depois, para Dilma. Reduto fechado ou, como diriam chefes políticos dos grotões, “curral eleitoral de porteira fechada”.

         Mas, voltando à luta interna no PSB, ao controle do partido exercido por Eduardo Campos, Ciro Gomes tem oposto o que considera sua grande vantagem, a de ter o que chama de “estrada”, pois já foi ministro da Fazenda de Itamar Franco, praticamente salvando a credibilidade do Plano Real, no momento em que foi fortemente atingida pelas afirmações indiscretas do ministro que lhe antecedeu, Rubens Ricupero, que falou o que não devia com o repórter da Rede Globo Carlos Monforte, durante um intervalo de uma entrevista, sem saber que pelas antenas parabólicas tudo estava sendo captado onde elas existiam.

Por sugestão – um insight – de Antonio Carlos Magalhães, foram convencer Ciro Gomes a deixar o governo do Ceará para assumir o Ministério da Fazenda, sob a alegação de que somente ele tinha condições de confrontar a crise e restabelecer rapidamente a credibilidade do plano – missão na qual teve pleno êxito.

A estrada a que se refere Ciro Gomes inclui também, e principalmente, duas candidaturas à presidência da República, com as respectivas campanhas eleitorais e votos, e o conhecimento que o eleitorado teve dele por conta disso. Enquanto Eduardo Campos, hoje muito prestigiado e reconhecido no meio político, não é ainda figura popular fora de Pernambuco.

Ciro pensou ser pela terceira vez candidato a presidente em 2010, mas Lula o convenceu a mudar seu domicílio eleitoral para São Paulo, acenando com uma candidatura apoiado pelo PT e o governo federal para governador de São Paulo. Feito isso, Lula puxou o tapete de Ciro – convenceu o PSB a não lançá-lo candidato a presidente e não concretizou qualquer apoio para que fosse candidato ao governo paulista. Ciro ainda não esqueceu a perfídia. Agora, ao tempo que insiste na diferença entre ele e Eduardo Campos – a questão de estrada –, o ex-governador do Ceará disparou contra Aécio Gomes, Marina Silva e Dilma Rousseff, vale dizer, não deixou de fora qualquer dos nomes evidentes de possíveis candidatos a presidente da República.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.