Quarta, 1º de janeiro de 2013
Este
artigo, escrito no apagar das luzes de 2013, está cheio de esperança, e
isso porque sou otimista, tenho fé. Mas não sem preocupação. Uma fala
tem sido recorrente de minha parte e é isso que me preocupa.Tenho dito
que às vezes dá vontade de ir embora, de sair do Brasil, sabe. Não por
sonhos mirabolantes de enriquecimento ou prosperidade, mas por tristeza
e, às vezes, desesperança até, diante das verdades aterradoras que fazem
parte da realidade deste país. Uma destas verdades é a de que vivemos
em um país racista onde o "rolezinho" no shopping atrai os homens
da lei, geram catarse coletiva e aplausos aos capitães do mato que
exibem mais uma leva de "escravos" capturados garantindo a segurança da
corte. Nojo.
Um
país em que droga em propriedade de político, branco, homem da elite e
com um depoimento negativo torna-se verdade absoluta, não gera notícia
vendável e nem ousem investigar, é inocente e pronto. Tudo isso enquanto
o negro na favela sem nenhuma droga na mão fica vendido ao depoimento
do agente que, amparado pela fé pública, diz que tinha droga, armas e
munição e ainda tentou atacá-lo. Para este, adeus. Dói saber que esta é a
mais pura verdade, que é irrevogável e quase com status de uma
infalibilidade papal. Sorte terá o indivíduo que continuar vivo. Nada
não, era mais um guri que ainda pergunta por que recebeu uma bala, sem
esquecer de seu lugar, nem a ânsia da morte o faz esquecer de como usar o
pronome de tratamento.
Neste mesmo Brasil, enfermeiros bombeiam oxigênio com as mãos em um revezamento em desesperado esforço para manter vivo um paciente.
Uma vida, uma história, uma família, um ser humano. Somos a 6ª economia
do mundo. Desculpem-me os leitores, mas se 2013 foi o ano do "Acorda",
2014 tem de ser o ano do "Basta!". Assim mesmo com maiúscula, que a
gente não tá pra brincadeira. Ainda mais com o cenário mais do que digno
de um daqueles enredos mirabolantes do seriado vingativo, enlatado
americano. A família volta para tentar retomar o palácio. Quem viver
verá!
Espero viver bastante e não ver. Feliz Ano Novo!
"A nossa luta na favela é todo dia e toda hora, favela é cidade,não à gentrificação e à REMOÇÃO!!"
*Representante da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e Licencianda em Ciências Sociais pela UERJ.