Sexta, 27 de fevereiro de 2015
Danilo Macedo - Repórter da Agência Brasil
O juiz federal argentino Daniel Rafecas rejeitou
hoje (26) a denúncia apresentada pelo promotor Alberto Nisman contra a
presidenta Cristina Kirchner. No documento, o promotor acusa a
presidenta de encobrir responsáveis iranianos pelo atentado contra o
centro comunitário judaico Amia, em 1994 – considerado o pior na
história da Argentina -, que matou 85 pessoas e deixou mais de 300
feridas. Segundo Rafecas, “não há um só elemento de prova, sequer
evidências circunstanciais, que aponte para a atual chefe de Estado”.
Após
a morte de Nisman – com um tiro na cabeça, em 18 de fevereiro, quatro
dias depois da denúncia e às vésperas de comparecer ao Congresso para
explicar o que o levou a fazer graves acusações –, o promotor Gerardo
Pollicita o substituiu no caso e apresentou a denúncia à Justiça no dia
13 de fevereiro.
Em sua decisão, o juiz diz que estudou “com o
máximo cuidado” todas as denúncias, examinou “com a maior atenção” as
notícias e relatórios de inteligência citados, leu “com rigor”, cada uma
das transcrições das escutas telefônicas, para concluir que não há
provas que apontem para qualquer responsabilidade da presidenta Cristina
Kirchner.
“Ficou
claro que nenhuma das duas hipóteses de crime apresentadas pelo
promotor Pollicita em seu requerimento se sustenta minimamente", afirmou
Rafecas. O promotor ainda pode apelar da decisão do juiz, o que deve
ocorrer nos próximos dias.
Depois de ter as primeiras
investigações arquivadas, o caso Amia voltou a ganhar destaque no
governo de Nestor Kirchner (2003-2007), que encarregou o promotor
Alberto Nisman de retomar as investigações.
Durante as
investigações, Nisman acusou o Irã de planejar o atentado e pediu a
captura de ex-altos funcionários do regime iraniano para interrogá-los.
Em 2007, a Interpol emitiu alertas vermelhos para cinco dos oito
acusados, entre eles dois ex-ministros.
O Irã sempre negou
qualquer participação no atentado. Mas, tanto Nestor Kirchner quanto sua
viúva e sucessora, Cristina, acusaram os iranianos de não colaborar com
a Justiça argentina para apurar as responsabilidades pelo ato
terrorista. Em 2013, a situação mudou: o regime iraniano finalmente
decidiu colaborar e os dois países acertam a criação de uma comissão da
verdade.
O acordo foi criticado por organizações judaicas, a
oposição e o próprio Nisman, que no dia 14 de janeiro, acusou Cristina e
o chanceler argentino, Héctor Timerman, de terem negociado o acordo com
o Irã para – secretamente – acobertar os suspeitos, cuja captura ele
tinha pedido, e enterrar a investigação. Os motivos seriam econômicos: a
Argentina queria se reaproximar do Irã para trocar grãos e armas por
petróleo.