Terça, 6 de
novembro de 2012
Por Ivan de
Carvalho
Durante o fim de semana, o
vice-presidente da República, Michel Temer, principal liderança do PMDB,
afirmou que seu partido deverá, em 2014, apoiar a candidatura da presidente
Dilma Rousseff à reeleição e que os peemedebistas deverão apresentar candidato
próprio à Presidência da República somente nas eleições de 2018.
Haja
premonição. Não dá, sem ela, para saber o que vai acontecer na política
brasileira e em muitos outros aspectos de nosso país em 2014, muito menos em
2018. Mas as declarações de Temer têm dois sentidos.
O
primeiro é um projeto pessoal, o de assegurar para si mesmo o lugar de vice na
chapa de Dilma, repetindo o que aconteceu nas eleições de 2010 e o colocou no
cargo que hoje ocupa. Um provocador, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo
Paes, há alguns dias sugeriu que ao invés de Temer, o companheiro de chapa de
Dilma Rousseff em 2014 seja o governador do Estado do Rio de Janeiro, o
peemedebista (por sugestão de Lula) Sérgio Cabral. Foi o bastante para Geddel
Vieira Lima, presidente do PMDB da Bahia, muito ligado a Temer e
correligionário de Eduardo Paes, chamar a este de “trânsfuga”, já que Paes foi
pulando de um partido a outro até ingressar no PMDB.
O
outro sentido das declarações de Temer – reforçadas ontem por declarações de
outro peemedebista coroado, o presidente do Senado e do Congresso, José Sarney
– é firmar o PMDB como principal aliado do PT e do governo Dilma Rousseff, em
um esforço para exorcizar o fantasma do PSB, que se deu muito bem nas eleições
municipais do mês passado, inclusive em Recife, Salvador, Belo Horizonte,
capitais onde enfrentou diretamente o PT, o que também fez com êxito em
Campinas, maior cidade paulista depois da capital.
Embora
integre a base de sustentação política do governo e seu presidente nacional, o
governador pernambucano Eduardo Campos, declare o apoio do partido à reeleição
de Dilma, o PSB e o senador Aécio Neves, hoje a principal liderança tucana no
cenário nacional, aproximaram-se bastante na campanha eleitoral, nas eleições e
no pós-eleições.
Além disso, o núcleo cearense
do PSB, liderado por Ciro Gomes e seu irmão, o governador Cid Gomes – que
juntos elegeram o futuro prefeito de Fortaleza, arrebatando a prefeitura do
controle do PT – não é refratário a apoiar a reeleição de Dilma Rousseff, mas
simpatiza com uma estratégia que possa levar o PSB a apresentar, se convier,
candidato a presidente, se possível, em 2014. Compromisso irretratável, desde já,
com a reeleição de Dilma Rousseff não seria coerente com essa liberdade de
escolha mais adiante.
Toda essa conjuntura em
formação levou o governo e o PMDB, com assentimento do PT (ainda que possa
haver neste último, internamente, ranger de dentes), a uma pegação que nesta semana, com as declarações de Temer e Sarney,
tornou-se ainda mais notória do que já era. Dá-se como certo que o PMDB vai
ganhar mais espaço no governo, um ministério, restando saber qual, pois existem
uns que, politicamente, valem muito e outros, quase nada.
O apressado jogo governo/PMDB
visa a reduzir a importância política que o PSB adquiriu e, na medida do
possível, tolher movimentos autônomos dos socialistas. Já a aproximação destes
com o PSDB de Aécio trabalha em direção contrária, isto é, valorizando o PSB e
pode ou não gerar um projeto político não submisso ao projeto do governo, o que
é o principal temor deste.
O governo busca consolidar
mais a aliança com o PMDB também por outra razão. A presidente Dilma Rousseff
está isenta do amplo desgaste político que o caso do Mensalão vem causando, mas
o PT, como instituição partidária, não está. Então é bom para o governo
assegurar-se de outra sustentação essencial, além da que lhe dá o PT.
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Este artigo foi publicado originariamente na
Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
