Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O Congresso e as vassouras

Sexta, 1 de fevereiro de 2013
Por Ivan de Carvalho
Afinal, após hesitações quase intermináveis, os três partidos de oposição – PSDB, Democratas e Psol – no Senado Federal e mais o PSB, que é da coalizão governista, decidiram apoiar a candidatura do senador Pedro Taques, do PDT, outra legenda governista, para a presidência do Senado Federal, na eleição da Mesa Diretora, que se realiza hoje.

            Na quarta-feira, os quatro senadores do PSB – incluindo a líder da bancada, senadora Lídice da Mata – já haviam emitido uma nota em que timidamente pediam o inalcançável, que a bancada do PMDB indicasse outro nome que não o do senador Renan Calheiros para a presidência da Casa.

Com essa nota toda maneira, o PSB ganhava mais algumas horas e buscava talvez preservar espaços em cargos do Senado, evitando atirar ostensivamente contra Renan Calheiros, que graças a sua aliança com o atual presidente da Casa, José Sarney, e com o PT, está com força total.

O PSDB também esteve hesitante, exatamente porque desejaria preservar o cargo que lhe estava destinado na Mesa Diretora, a primeira secretaria, que maneja um orçamento de R$ 8 bilhões. O Democratas estava quieto, certamente esperando o que faria o PSDB.

Na quarta-feira, o líder do PSDB, Álvaro Dias, comunicara a Renan Calheiros que este não teria o voto dos tucanos, que tendiam a votar em Pedro Taques, do PDT, embora não houvessem formalizado a decisão. Ainda vacilavam entre a abstenção e o voto em Taques. Ontem, Aécio Neves, do PSDB e líder da oposição no Senado, anunciou que a bancada de seu partido decidira votar em Pedro Taques. Antes, Taques conseguira o apoio do senador Randolfe Rodrigues, do Psol, que retirou sua candidatura para apoiá-lo. O presidente nacional do DEM, José Agripino Maia, declarou que votará em Taques.

Com isso, Taques firmou, não uma candidatura, mas uma anticandidatura. Não tem chances de vitória, pois a dissidência no PMDB é mínima, não vai além de Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos, enquanto o PT está fechadíssimo com o candidato oficial do PMDB, com exceção, talvez, do senador Eduardo Suplicy, que havia pedido esta semana a Renan Calheiros a gentileza de retirar a candidatura e teve de curtir a grosseria de não obter sequer uma resposta direta.

Mas, se com Renan Calheiros na presidência do Senado e Henrique Eduardo Alves na presidência da Câmara (estes serão os principais resultados das eleições de hoje), o Congresso começa o ano legislativo sob forte questionamento e exposto a ainda mais graves vexames futuros nas áreas policial e judicial, uma coisa há de ser reconhecida.

É que foi a pressão social, expressa por vários meios – manifestações de rua em frente ao Congresso, Internet e principalmente por uma expressiva parte da mídia – que resultou, não numa derrocada das candidaturas de Calheiros e Henrique Alves, mas em um incômodo movimento de protesto a elas no interior do próprio Congresso, movimento representado pelas anti-candidaturas de Pedro Taques, no Senado e de Júlio Delgado (que chegou a ter esperança de vitória quando se lançou, mas já não tem), na Câmara.

Se os resultados do esforço não são muito bons, eles foram suficientes para que o cinismo das duas candidaturas que devem vencer hoje não passasse em branco e para provocar o desagrado (o que é bom) do ex-ministro-chefe da Casa Civil e ex-presidente do PT, José Dirceu, que ontem, no seu blog, saiu em defesa da candidatura de Renan Calheiros e fez irritado ataque a uma “ofensiva midiática” e um “falso (?!) moralismo” que teriam sido responsáveis pelos protestos de quarta-feira em frente ao Congresso (quando as vassouras foram personagens principais).

Ah! Que coisa maravilhosa. Não fosse o “falso moralismo”, estaria o Congresso e outros lugares, tantos lugares, tão limpinhos que as vassouras já nada mais seriam que montarias de bruxas.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.