Quinta, 24 de abril de 2014
Vladimir Platonow - Repórter da Agência Brasil
Edição: Stênio Ribeiro
A Anistia Internacional
divulgou nota hoje (24) na qual pede esclarecimento total das mortes no
Morro Pavão-Pavãozinho e a responsabilização dos autores. O dançarino
Douglas Rafael da Silva Pereira e o morador Edilson Silva dos Santos
foram mortos na última terça-feira (22). Douglas foi encontrado morto
atrás de uma creche, horas após ter sido morto. Edilson foi atingido por
um tiro na cabeça, durante os protestos pela morte de Douglas.
"A
entidade espera uma investigação célere e independente das duas mortes,
considerando que há suspeitas de que foram cometidas por policiais
militares (PMs). Diante desse contexto de violência, a Anistia
Internacional Brasil (AIB) pede não apenas que as mortes sejam
devidamente investigadas, esclarecidas e responsabilizadas, mas que seja
reconhecida a necessidade urgente de mudanças estruturais na
organização das polícias, que incluam a sua desmilitarização, o aumento
da transparência e a implementação de um controle externo efetivo das
atividades policiais."
A entidade considera "alarmante" o
índice de homicídios de jovens em favelas e periferias brasileiras.
"Infelizmente, o índice de homicídios de jovens em territórios de
favelas e periferias é alarmante. A polícia brasileira está entre
aquelas que mais matam no mundo, segundo dados da ONU [Organização das
Nações Unidas]. Utilizando como exemplo o estado do Rio de Janeiro,
dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostram que, de 2002 a
2011, foram registradas 10.134 mortes derivadas de intervenções
policiais", acrescenta a nota.
De acordo com a AIB, a violência
vista no Rio também acontece no restante do país: "O Brasil apresenta
uma das taxas de homicídios mais altas do mundo, com registro anual de
50 mil mortes. Entre os jovens, a proporção de mortes é duas vezes
maior, se comparada com a idade adulta. E entre os jovens brasileiros
que morrem, 78% são negros".
O sepultamento de Douglas aconteceu à
tarde, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul da cidade. A
apresentadora Regina Casé, que trabalhava com ele na TV Globo,
compareceu ao enterro e se disse chocada com a morte do dançarino.
"Mesmo que fosse alguém que eu não conhecesse, essa morte seria
igualmente chocante", disse ela, que fez questão de consolar a mãe de
Douglas, a técnica de enfermagem Maria de Fátima da Silva.
Após o
enterro, moradores do Pavão-Pavãozinho seguiram em passeata, pelas ruas
de Copacabana, até a subida da comunidade. Na rua que dá acesso ao
morro, houve um confronto com policiais militares que acompanhavam a
manifestação. PMs do Batalhão de Choque dispararam bombas de efeito
moral e de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão. Com medo, as
pessoas subiram para a favela para fugir da ação policial.