Segunda, 30 de maio de 2011
Por Ivan de Carvalho

O
primeiro ganhador dispensaria apresentação. É o ministro-chefe da Casa Civil,
Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda. Ele ganhou dinheiro. Multiplicou 20
vezes seu patrimônio, segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo, graças a
consultorias que deu por intermédio de sua empresa Projeto. Mas olha aí as
aparências enganando. Ele já havia ganho o dinheiro antes de surgir o Caso
Palocci. Quando o caso surgiu, ele começou a perder. Não dinheiro, mas
prestígio. Hoje anda no fio da navalha. Não é um ganhador no Caso Palocci, mas
um perdedor. Mudou de lado. E deve continuar perdedor (de prestígio), mesmo que
não perca o cargo.
No Congresso
ele está “blindado” e, ali, do pouco que tenta fazer, a oposição nada consegue.
A mídia, às vezes cheia de dedos, por motivos óbvios, outras vezes com as
cautelas recomendáveis, ainda mais em se tratando de um caso desse porte,
continua tentando descobrir e esmiuçar os fatos.
Mas o
Ministério Público Federal talvez seja o principal elemento da equação, neste
momento. O procurador geral da República, Roberto Gurgel, pediu explicações ao
ministro e deu um prazo de 15 dias, mas a resposta já lhe chegou. Sem detalhes,
sob alegação de cláusulas de confidencialidade nos contratos da Projeto com
seus clientes. Gurgel agora tem que decidir o que fazer – inicia uma
investigação ou nada.
No Distrito
Federal, porém, o MPF já iniciou formalmente uma investigação civil, que pode
ser arquivada, tornar-se uma ação civil pública por improbidade administrativa
ou dar origem a um inquérito civil que pode também resultar numa ação por
improbidade.
Outro
aparente ganhador, evidentemente, é o PMDB. Com aquele arranca-rabo do Código
Florestal – incluída a absurda conversa entre o ministro Palocci e o
vice-presidente da República, Michel Temer, ex-presidente do PMDB – e a questão
da CPI de Palocci no Senado, onde os sete senadores peemedebistas rebeldes se
dispunham a assinar o requerimento, o PMDB ganhou espetacularmente uma
importante queda-de-braço com o governo e o PT.
De patinho feio
que se tornara na ótica e no tratamento que recebia do governo e do PT,
transmutou-se em cisne da base aliada. Mas esta pode ser uma aparência enganosa
– o PMDB prestigiado não se desliga do governo e, se assim for, continuará
definhando por apendicite. Como o PFL definhou por apendicite, ao tornar-se um
apêndice do PSDB. “Time que não disputa campeonato não faz torcida”, vale
repetir a observação que ouvi de um atilado peemedebista.
Bem, pode-se
apontar um terceiro ganhador, o ex-presidente Lula, que conseguiu demonstrar ou
aparentar (opte o leitor) sua imprescindidibilidade ao governo Dilma e ao PT.
Palocci mudou
para perdedor. O PMDB pode mudar. Lula só mudaria se a demonstração de força e
habilidade que deu – sem a menor preocupação de discrição, esse pode ter sido o
erro – para salvar a presidente a magoar e levá-la, no correr do tempo, a
confrontá-lo. Parece improvável, mas, como já se disse, as aparências às vezes
enganam.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia
desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.