Quinta, 26 de maio de 2011
Por Ivan de Carvalho

A
idéia medra entre alguns políticos baianos, incluindo parlamentares como o
deputado federal Oziel Oliveira, do PR, ligadíssimo ao próspero município de
Luís Eduardo Magalhães e à ex-deputada Jusmari Oliveira, prefeita de Barreiras,
que poderia ser informalmente chamada de capital do oeste baiano.
Mas
o movimento é supra-ideológico, pois tem o decidido apoio da deputada estadual
Kelly Magalhães, do PC do B, que ao saudar da tribuna da Assembléia Legislativa
os 120 anos de Barreiras, que estão sendo completados hoje, insistiu na
“importância de se discutir a criação do Estado do São Francisco”.
Se
não existem barreiras (sem nenhuma intenção de trocadilho) ideológicas entre os
defensores da criação do novo Estado, também não existem na transposição de
divisas estaduais para acumulação de territórios que venham a, eventualmente,
compor a futura unidade federada.
Assim
é que o São Francisco, generoso como o santo que lhe emprestou o nome, dá suas
águas e suas margens férteis aos estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco,
Alagoas e Sergipe. Mas Alagoas e Sergipe são estados demasiado pequenos para
que se pense na malvadeza de subtrair-lhes um pouco do pouco território que
possuem. E quanto a Minas Gerais, “está onde sempre esteve” e sempre estará,
nada tendo a ganhar quem lançar os olhos compridos na direção das Alterosas.
Mas
a idéia do Estado do São Francisco não se restringe aos baianos. Também tem
trânsito entre políticos de Pernambuco. Os Coelho de Petrolina (aqueles
poderosos roedores que um dia estiveram, por intermédio do senador Nilo Coelho
(morto há anos), na presidência do Senado e do Congresso) também se mostram
interessados.
A proposta
deles é de que a capital do futuro Estado do São Francisco seja a cidade
pernambucana de Petrolina, talvez unida à baiana Juazeiro. Já os políticos
baianos que pregam a criação do novo estado vêm em Barreiras a capital natural.
E ambos os lados viam como alvo a região do Médio São Francisco, mas agora já
espicham o olhar para o Baixo São Francisco, de modo a tentar colher uma pérola
fluvial, a cachoeira de Paulo Afonso – melhor dizendo, a hidrelétrica e a
cidade, com a importância econômica que tem, inclusive na possibilidade de
exploração turística.
Vale lembrar
que, quando a lavoura cacaueira do sul baiano estava em toda sua pujança, antes
da bruxa dar suas vassouradas por lá, não eram poucos os políticos da região,
incluindo parlamentares liderados pelo então deputado federal Fernando Gomes,
plantado em Itabuna e que chegou a apresentar projeto de lei na Câmara dos
Deputados visando à criação de um Estado de Santa Cruz, com o território do sul
e do extremo-sul baiano.
Dizimada a
lavoura do cacau pela vassoura-de-bruxa, não se falou mais no assunto, mas o
grande celeiro que surge no São Francisco, com cereais (destacando-se a soja),
frutas, produção de vinhos de qualidade, fez ressurgir lá olhares cobiçosos.
Para a Bahia,
que tanto teria a perder, há, apesar de tudo, um consolo, se o improvável
Estado do São Francisco surgir. Querem incluir nele o município de Rodelas, no
Baixo São Francisco. Rodelas está praticamente escolhida como local para construção
de uma das usinas nucleares que a União nos quer enfiar goela abaixo. Pois bem,
que se vier o tal novo estado, vá com ele Rodelas e sua maldita usina. É a
maneira mais simples da Bahia se livrar dela. Embora só formalmente, pois,
infelizmente, Rodelas não sairá do lugar onde Deus a colocou, ressalvado o caso
de alguma mágica nuclear.
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Este artigo
foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de
Carvalho é jornalista baiano.
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