Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Otimismo conveniente

Sexta, 9 de novembro de 2012 
Da Pública, Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo
Por Ciro Barros
Projeções oficiais dos lucros esperados para a Copa de 2014 são superestimadas, afirma pesquisador

Segundo o Ministério do Esporte, mais de 330 mil empregos permanentes e outros 380 mil temporários devem ser criados no Brasil até 2014, apenas por conta da Copa do Mundo. Os dados vêm de um estudo realizado pela consultoria Value Partners, contratada pelo próprio Ministério, e revelam um cenário otimista. Segundo a pesquisa, a Copa pode gerar lucros na ordem de R$ 185 bilhões para o país. O PIB brasileiro, ainda segundo a análise, pode ter um incremento médio anual de 0,26% até 2014. Tudo isso apenas em decorrência do megaevento.

Outro estudo, conduzido pela consultoria Ernst & Young e pela FGV Projetos, encomendado pela CBF, fala em uma movimentação econômica adicional de R$ 142,4 bilhões até 2014, na criação de 3,6 milhões de empregos por ano até a Copa e no aumento de arrecadação de impostos pelo governo na ordem de R$ 18,1 bilhões.

Os números e o otimismo do governo chamaram a atenção dos pesquisadores Marcelo Weishaupt Proni e Leonardo Oliveira da Silva, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Juntos, os economistas debruçaram-se sobre os estudos encomendados. O resultado foi o artigo ”Impactos econômicos da Copa do Mundo de 2014: projeções superestimadas”, que você pode baixar em PDF AQUI. O  documento pretende, segundo os autores, mostrar que os benefícios econômicos esperados para a Copa foram superestimados nas projeções divulgadas.

O texto contrapõe as versões oficiais com um terceiro estudo independente, feito pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional de Minas Gerais (Cedeplar), da UFMG, que traz perspectivas bem mais modestas. No quesito geração de emprego, por exemplo, a pesquisa da Cedeplar fala em um aumento de apenas 0,5% por conta da Copa. Sobre o crescimento do PIB, o estudo estima um acréscimo de 0,7%.

Os pesquisadores da Cedeplar colocam ainda que os lucros para o país seriam maiores caso houvesse mais investimento privado na realização do evento, já que investimentos públicos implicam ou no crescimento da dívida pública ou na redução do gasto com outras prioridades.

Em entrevista ao Copa Pública, Marcelo Proni diz que o comprometimento desses estudos com o governo atesta contra sua credibilidade: “Eles [os estudos] podem até ser bem feitos, mas têm a finalidade de legitimar o que está sendo gasto.”

No seu artigo, você fala em estimativas exageradas por parte do governo com relação à Copa de 2014. De que forma isso acontece?