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(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

“Terminou, porra! Conseguimos”

Sexta, 23 de janeiro de 2015
Por Ninja
Sem violência policial, terceiro ato contra aumento das tarifas chega ao seu destino final, algo que não aconteceu nas duas primeiras manifestações. Ao fim do protesto, aplausos e comemoração
por Igor Carvalho da Revista Fórum com fotos de Mídia NINJA

Depois de ver os dois primeiros atos contra o aumento da tarifa no transporte público em São Paulo terminarem em violência policial, nos dias 9 e 16 de janeiro, manifestantes comemoraram o fato de conseguirem chegar ao fim de uma manifestação. “Terminou, porra! Conseguimos”, gritou uma militante do Movimento Passe Livre (MPL), organizador do protesto.

Antes da manifestação, o padre Julio Lancellotti, que acompanhou o ato, refletia uma preocupação comum. “A violência da polícia tem um estratégia definida. Ao atacar os jovens, eles [policiais] criminalizam o movimento e ainda tiram o foco do debate sobre o aumento da tarifa. Na penúltima manifestação, eles atiraram de dentro da escola Marina Cintra [rua da Consolação] para fora, sem saber o que acertariam, isso foi na minha frente.”
Às 18h, na praça Silvio Romero, no Tatuapé, zona leste de São Paulo, começou a assembleia geral que definiu o trajeto da manifestação. Quatro propostas foram apresentadas, com destinos finais diferentes: Praça da Sé, Terminal Parque D. Pedro, Largo do Belém e Prefeitura de São Paulo.

Ficou determinado, após votação dos presentes, que os manifestantes partiriam da Praça Silvio Romero e seguiriam até o Largo do Belém. O trajeto demorou pouco mais de duas horas para ser percorrido, mas não houve qualquer intervenção policial.
Nesta terça-feira, a Polícia Militar enviou 500 homens para acompanhar o ato e abdicou da tática conhecida como “envelopamento”, que consiste em alinhar policiais dos dois lados da manifestação, cercando os ativistas. A tática foi responsável por diversos momentos de acirramento de ânimos nas duas primeiras manifestações. “Achamos que não era necessário, por conta do trajeto escolhido pelos manifestantes. Foi uma decisão técnica”, afirmou o comandante da operação policial, capitão Storai, que chegou a dizer que o ato estava “bonito.”

Descentralizado
Este foi o primeiro ato deslocado da região central. A guinada para as periferias da cidade tem sido um discurso recorrente do MPL desde o anúncio dos protestos contra o aumento. Parte do trajeto da manifestação, as vias do verticalizado bairro do Tatuapé, recebeu de forma distinta os manifestantes.
“Cambada de petista, vai arrumar trabalho e para de viver de Bolsa Família”, gritava uma senhora apoiando o filho que acabava de sair da piscina do condomínio para ver, pelo portão, o protesto passar. Em uma rede de lanchonete, os funcionários saíram na rua e pediram cartazes com mensagens contra o aumento, que foram pendurados nas grades do estabelecimento comercial.
O MPL calcula que 8 mil pessoas estiveram na manifestação. Érica Oliveira, integrante do movimento, comemorou o número. “Temos realizado muitos encontros na periferia e não adianta a polícia bater na gente porque o povo está aderindo à luta, o debate sobre o aumento da passagem está ganhando a cidade”, analisou a ativista.

Já a Polícia Militar, que chegou a afirmar que havia 500 pessoas em determinado momento do ato, mudou o número para 5 mil quando a manifestação se aproximava do fim. Os números foram passados pelo capitão Storai.
Belém
Com o fim da manifestação, no Largo do Belém, os manifestantes seguiram em caminhada para a estação Belém do Metrô. Quando chegaram, ensaiaram um “catracaço”, quando diversas pessoas pulam as catracas, evitando o pagamento da tarifa.
A Polícia Militar, que já estava no local, fechou a estação e cercou os ativistas na passarela que cruza a avenida Radial Leste, impedindo o “catracaço”. Tiros de bala de borracha foram disparados e alguns policiais retiraram suas identificações antes de atacar os manifestantes. Ninguém ficou ferido.