Sexta, 27 de
junho de 2014
Carlos Newton
Tribuna da Imprensa
Caramba! O que está acontecendo com a mídia? De repente, a Copa do Mundo
passou a ocupar a maioria das páginas dos jornais, substituindo grande parte do
noticiário das editorias de política, administração, geral, polícia, local e
economia, justamente quando o país entra numa importantíssima fase de suas
eleições gerais. É como se tivessem se apropriado da criação do genial Miguel
Gustavo – “de repente é aquela corrente pra frente” – e transformado essa
paixão nacional num monstro midiático, que suga tudo o que estiver por perto.
Nas TVs é a mesma coisa. Só se fala na Copa. Os telejornais se tornaram
programas futebolísticos. E como nem há assunto para tanto espaço, fica uma
repetição ridícula. Quem quer saber se o Vietnã se classificou ou se o craque
de Sumatra está com uma torção?
Tudo isso só acontece que a mídia brasileira é comandada pela Organização
Globo, a única com cacife para se associar à Fifa no Mundial, e a cobertura
global puxa o resto da mídia, que não lucra nada com a Copa, mas não quer ficar
atrás…
UM EXAGERO FLAGRANTE
É claro que a cobertura da Copa está flagrantemente exagerada. O país, na
verdade, atravessa um momento difícil na economia, na administração, no
emprego, na ética, na saúde, na educação, na segurança e até na ordem pública,
mas de repente parece ter entrado para o melhor dos mundos do Professor
Pangloss, genial criação de Voltaire. E a quem interessa essa alienação total,
esse carnaval fora de época?
Este sábado, tem jogo
do Brasil. Devemos torcer para que nossos atletas façam uma boa apresentação e
cheguem a mais uma vitória, subindo o quarto dos sete degraus da glória do
esporte mais disputado do mundo. A Copa é um sucesso, não há dúvida, mas não
resolverá nossos problemas. No dia 13 de julho o país terá de acordar para sua
realidade, não importa quem tenha sido o campeão.