Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 25 de junho de 2014

O “esquemão” da política brasileira

Quarta, 25 de junho de 2014

Christopher Goulart
Fazer política no Brasil, com a responsabilidade que a causa pública exige, não é tarefa tão simples como alguns podem imaginar. Existe um verdadeiro “esquemão” predominando, facilmente identificável. Sinto-me legitimado para tratar de tal assunto, basicamente por descender de uma família cujo maior expoente político, o presidente João Goulart, foi deposto por um golpe inconstitucional, justamente por contrariar o tal “esquemão”. 

Refiro-me, entre outros, ao financiamento das campanhas políticas por empresas que corrompem o processo, prejudicam a democracia e estimulam a corrupção.

Ninguém pode acreditar que reformas estruturais se concretizem num Congresso Nacional financiado, na sua maioria, por grandes empresas, bancos e empreiteiras.


Enquanto as regras eleitorais se mantiverem, estaremos permanentemente testemunhando um jogo de faz de conta. Mesmo aqueles que têm posição contrária à influência do poder financeiro nas eleições deverão a ele se submeter, sob pena de afastarem-se completamente do processo e da possibilidade de representação.

TUDO É COMPRADO

O “esquemão” não se restringe apenas à compra descarada de mandatos mediante financiamento privado. A própria prática dos cabos eleitorais pagos e a compra de consciências em troca de vantagens materiais de todas as formas tornam a tão saudada democracia um balcão de negócios.

Podemos ainda inserir, nesta fatura, as emendas parlamentares, tratadas como se fossem favores dos deputados federais aos municípios. Quando vejo deputados anunciarem a liberação de emendas em troca de votos, de forma descarada, lembro-me do programa do Silvio Santos: “Quem Quer Dinheiro!?”.

Vivemos num círculo vicioso que roda e nunca sai do mesmo lugar. Dessa forma, a população cada vez mais repudia os partidos políticos.

Nunca foi fácil contrariar interesses das elites descompromissadas com a população. Quebrar paradigmas é obrigação, em tempos em que as ideologias são substituídas por contratos de compra e venda.

Enquanto permanecermos complacentes com o atual sistema econômico e político, seguiremos condenados pelo “esquemão” que impede o desenvolvimento soberano.

Christopher Goulart, advogado, é neto de João Goulart.

Fonte: Tribuna da Internet