Domingo, 22 de junho de 2014
"Muita segurança para a Copa e nada para nós da comunidade", reclama moradora
As constantes trocas
de tiro na Rocinha, favela da Zona Sul do Rio de Janeiro, comprovam que
a política de pacificação não vem alcançando os resultados prometidos
pelo governo do Estado. Desde 2012 a comunidade conta com uma Unidade de
Polícia Pacificadora (UPP), mas a rotina de violência continua a
atormentar os moradores. Na verdade, a pacificação dá lugar a uma
política de opressão, onde o poder público tenta "adestrar" a população,
em vez de integrá-la à sociedade. Na noite desta sexta-feira (20) e na
manhã deste sábado (21) novos tiroteios assustaram a comunidade. Somente
no mês de junho, o Jornal do Brasil noticiou quatro trocas de
tiros na favela. Perdidos, os moradores recorrem uns aos outros para
tentar garantir a própria segurança. Uma das ferramentas mais
importantes é a rede social.
Fabiana Rodrigues, liderança da
Rocinha e criadora do portal "Rocinha em foco", conta que as
pessoas acessam a página para saber se podem retornar em paz para suas
casas. "O pessoal entra em contato comigo para relatar troca de tiros.
Quando divulgamos que está acontecendo tiroteio, os moradores que estão
no trabalho passam o dia inteiro mandando mensagem para saber se a
situação está tranquila, se podem voltar para casa, ou se os
filhos podem voltar", informa.
Os
comentários sobre a violência são diversos na página do Facebook. "Com
esse clima eu que trabalho na rua aqui na rocinha eu e todos que
trabalham ficam (sic) assustados porque não sabemos a hora que pode
acontecer o pior #arocinhapedepaz", escreve um morador. "Sera q ja (sic)
podemos ir na rua em paz?", pergunta uma usuária da rede social. Outro
seguidor elogia o "Rocinha em foco": "Informa até as pessoas que não
estão na comunidade, as vezes o bicho tá pegando (sic) aqui dentro e
quem chega na comunidade já sabe do clima tenso". "Mt segurança pra copa
e nd pro nos da comunidade (sic)", critica mais uma habitante da
Rocinha.
De
acordo com Fabiana, a sensação na comunidade é de medo e apreensão.
"Ficamos com medo, claro. Não dá para saber para onde vai uma bala
perdida. Está acontecendo troca de tiros todos os dias, não tem mais
hora para acontecer. As pessoas têm filhos, têm que sair para trabalhar.
Fico preocupada quando minha mãe, meu marido ou meu irmão saem de casa.
De repente estamos passando na rua e começa uma confusão dessas, vemos
carro de polícia subindo... É preocupante", continua. Ela destaca,
ainda, que a rotina dos moradores vem se modificando. "Outro dia eu
estava saindo do teatro no Fashion Mall com a minha filha e me mandaram
mensagem falando para eu esperar para voltar porque estava tendo
tiroteio", conta.
Inaugurada em setembro de 2012, a Unidade de
Polícia Pacificadora da Rocinha, assim como as outras, surgiu com a
promessa de recuperar o território, até então nas mãos do poder do
tráfico, e garantir a segurança dos moradores. Diante dos
recentes acontecimentos, a fórmula das UPPs vem sendo colocada em xeque.
Se antes as críticas eram quase que essencialmente à falta de ação
social nas favelas, agora até mesmo a capacidade de conter a violência é
questionada.
"A violência está voltando e não sabemos o que está
acontecendo, só sabemos que todo dia é tiro. A situação é um pouco nova
para a gente, então ficamos desorientados. O que fazemos é tentar nos
ajudar, pela página no Facebook, por exemplo, onde todos tentamos nos
informar para não voltar para a Rocinha no meio do tiroteio. Rezamos
para chegar em casa", finaliza Fabiana.
* do projeto de estágio do JB