Sexta, 27 de março de 2015
Por Celso Lungaretti
"A Petrobrás merecia um gestor muito melhor do que eu"
Trabalhei
com Antonio De Salvo, um dos pioneiros das Relações Públicas no Brasil.
Ele aconselhava os seus clientes a, quando aparecesse na mídia uma
acusação totalmente injusta contra eles, lutarem até o fim para o
esclarecimento dos fatos. Mas, se a acusação tivesse um pingo de
verdade, o melhor era admitirem-na rápida e sucintamente, pedirem
desculpas, pagarem indenizações, tomarem medidas para reparar o
malfeito, etc.
Porque, explicava ele, quando alguém está em posição falsa mas se recusa
a admitir o erro, os repórteres ficam escarafunchando o caso até
encontrarem motivos para colocar tal pessoa no pelourinho da opinião
pública. O episódio repercutiria muito mais e o que se tentava esconder
acabaria aparecendo e determinando um desfecho desastroso.
Ainda que a mentira ou falha descoberta tivesse sido de pequena monta,
seria suficiente para os leitores suspeitarem da existência de muito
mais podres por baixo do pano, "cesteiro que faz um cesto, faz um
cento".
"Mea culpa desarma acusadores" |
Já mea culpa desarma os acusadores, que se retiram comemorando vitória e vão procurar outros alvos.
Foi melancólico o depoimento da ex-presidente da empresa, Maria das
Graças Foster, à CPI da Petrobrás, confessando-se "envergonhada" da
roubalheira que veio à tona nos últimos tempos. Eis algumas frases:
"Eu entrei aqui nas outras CPIs, em audiências, com muito mais coragem do que entro hoje aqui. [Porque] poderiam ter todas as suspeitas mas não tinha os fatos que estão aí, para serem apurados, evidentemente. Eu tenho realmente um constrangimento muito grande por tudo isso, de olhar pra vocês...
"Gostaria que tudo isso fosse mentira e que não tivesse tido propina alguma...
"A Petrobrás merecia um gestor muito melhor do que eu, eu não tenho a menor dúvida disso".
Deixou a impressão de ser uma mulher digna, que desempenhou um mau papel
para ser leal a outrem e hoje se arrepende amargamente disto. Foi
ingenuidade dela supor que não acabaria sendo acuada pelas descobertas
da Operação Lava Jato. Agora que foi para a rua da amargura e o castelo
de cartas desabou, sua sensação deve ser a de quem sofreu perda total.
Assim como no caso de José Genoíno, eu botaria a mão no fogo quanto a
Graças não haver tirado proveito pessoal do esquema de corrupção. Deu
pena ver um preso e a outra com a reputação em frangalhos por preferirem
errar junto com o grupo do que assumir individualmente uma posição
correta.
Quem riu por último foi o Paulo de Tarso Venceslau, que, colocado na mesma situação (vide aqui), recusou-se a fechar os olhos às falcatruas. Foi expulso do PT, mas saiu com a dignidade intacta e o moral elevadíssimo.
Agora, se quiser, poderá atirar na cara dos dirigentes petistas que os
alertou da existência de um ovo de serpente sendo incubado pelo partido,
em tempo hábil para evitarem que o mal crescesse. Os que optaram pelo
acobertamento em 1988 são os culpados pelo atual infortúnio de Graças e
Genoíno, pela destruição da Petrobrás e pela desmoralização do PT.