Quinta, 25 de fevereiro de 2016
Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e membro da Associação Juízes para a Democracia.
Em meus 33 anos de magistratura sempre precisei vestir “as armas de
São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos
não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles me
possam fazer mal”. Nesses anos fui réu em 53 representações
administrativas todas elas em razão de minhas concepções filosóficas,
mas nunca deixei de me posicionar. Talvez o leitor faça de um juiz que
foi processado tantas vezes o pior juízo, mas retruco que esse é um dos
meus orgulhos profissionais. Nunca deixei nenhuma sem resposta e desse
saldo contabilizo a capitulação por condenação judicial de cinco de meus
perseguidores, além de inúmeras condenações de jornalistas que não
tinham o compromisso com a verdade e me injuriaram através da mídia.
Recentemente voltei a ser perseguido por um vaidoso magistrado que ao
ver-se contrariado por uma decisão que proferira em plantão judicial,
resolveu usar as piores armas que uma pessoa pode usar contra a outra,
que á a falsidade. Após cansativo plantão judicial com 86 processos para
decidir num único dia, o magistrado raivoso resolveu afirmar minha
incompetência informando seus pares que eu havia recebido processos
quando já havia cessado meu horário de plantão, 18.00 horas. Assustado
com a possibilidade de ter cometido tal engano, solicitei uma certidão
do órgão distribuidor que certificou que naquela data me haviam sido
distribuídos 85 processos e que o último datava de 17,42 horas, portanto
18 minutos antes de encerrado meu plantão.
Como diz o poeta Fernando Pessoa: “Meus amigos são todos assim:
metade loucura, outra metade santidade. Escolho-os não pela pele, mas
pela pupila, que tem que ter brilho questionador e tonalidade
inquietante. Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta”.
Ora aquele que forja dados para imputar a outrem ação dolosa não está
entre os que tem a “cara lavada e a alma exposta”. Não é a primeira vez,
nem será a última que uma pessoa procura me prejudicar atribuindo fatos
de que não sou responsável. Mas não me abalarei porque quando uma porta
se fecha, outra se abre, quando um caminho termina, outro começa. Tudo
que a mim chega é bom, ainda que tenha uma carga de maldade. Não costumo
me apavorar com doenças, sejam físicas ou espirituais ou de natureza
relacional.
Todos esses fatos tem uma função transformadora. Se há um mundo a ser
transformado, devo aceitar fazer parte dessa missão para despertar e
compreender melhor as qualidades e fraquezas dos outros. Afinal, se
estamos no ano da misericórdia é hora de fazer com que o mundo seja
melhor do que quando o encontrei. Enfim, voltando ao poeta: “Tenho
amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e
sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é
uma ilusão imbecil e estéril.”.
Fonte: Blog do Siro Darlan