De
Sítio da tendência petista Articulação de Esquerda
Por Geovanni Medeiros*
Foto: Lula Marques / Agência PT
Após o período curto de armistício, os últimos dias estão sendo de
intensas batalhas, provocando indignação e “perplexidade” em amplos
setores da esquerda brasileira. No ano santo de 2016, deparamo-nos com
um fato intragável: o governo Dilma aprofunda a genuflexão à agenda da
direita.
Nesta quarta-feira (24), o governo apoiou o projeto de lei de autoria
do senador José Serra (PSDB-SP), que retira da Petrobras a
exclusividade nas atividades do pré-sal, entregando uma das maiores
riquezas do povo brasileiro às multinacionais. No mesmo dia, a Câmara
Federal aprovou o projeto de lei enviado pelo governo que tipifica o
crime de terrorismo no país, texto que possui termos perigosos para a
criminalização dos movimentos sociais. A política externa, que assumiu
um caráter de defesa da soberania nacional e fortalecimento da
integração latino-americano e caribenha autônoma a partir da vitória do
Lula, em 2002, sofre uma inflexão, a exemplo do recebimento, pelo
chanceler brasileiro, da delegação da Comissão de Relações Exteriores da
Assembléia Nacional da Venezuela, controlada pela oposição de direita e
que visa desestabilizar o governo popular de Nicolás Maduro. Ademais,
prossegue a política econômica de altos juros e cortes nos investimentos
sociais, gerando recessão, desemprego e dilapidando o legado social do
governo Lula. Não há meias-palavras: o governo Dilma está sendo coautor
de um imenso retrocesso para a classe trabalhadora e as camadas
populares.
Curiosa mas não paradoxalmente, a direita avança em sua “fina”
operação dedicada ao golpismo contra o mandato presidencial, à
interdição do PT e de Lula, à restrição das liberdades democráticas e de
ataque aos direitos e conquistas dos trabalhadores brasileiros. A
exótica situação nos remete para a lembrança do governo Vargas, que
entregou o controle da economia para a direita e seguiu sendo atacado.
Deu no que deu. Com o devido cuidado para as imprecisas comparações
históricas, a experiência demonstra que a política de recuar, atacar a
própria base e aderir à agenda da direita na perspectiva que estes
hesitarão no golpismo demonstra-se um grave erro.
O que está ocorrendo, contudo, não configura raio em céu azul, pois o
governo Dilma responde à mesma fixação estratégica hegemônica no PT
desde 1995: aliança com o grande capital, com partidos de centro e de
direita e postura passiva frente ao oligopólio da mídia. Merece
destaque, entretanto, que, embora não apontem para urgente mudança da
estratégia partidária e tampouco façam a necessária crítica ao programa
aplicado, as resoluções do PT sugerem outra linha programática, a
exemplo da resolução do Diretório Nacional de novembro de 2014 e da mais
recente resolução da Comissão Executiva Nacional. Merece destaque,
também, a evidente frustração do movimento maior da esquerda brasileira e
do PT, as bases sociais militantes, com o programa aplicado, inclusive
das bases dos setores historicamente partidários da estratégia aprovada
em 1995.
O PT deve dizer publicamente que a presidenta Dilma está seguindo um
caminho incorreto, defender uma agenda global e uma política econômica
alternativa, bem como convocar um Encontro Nacional Extraordinário para
rever a posição do partido frente ao governo. Em tempos de guerra, o
recurso do ultimato é utilizado em situações de esgotamento. Parece
chegada a hora.
* Geovanni Medeiros é militante do PT