Segunda, 16
de junho de 2014
Alana Gandra
- Repórter da Agência Brasil
O Sindicato dos Jornalistas do Rio se reúne hoje (16) com um advogado
para analisar que medida deverá ser tomada pela entidade após a prisão da
jornalista Vera Araújo, do jornal O Globo, quando tentava filmar um torcedor
detido por policiais militares por estar urinando na rua. A presidenta do
sindicato, Paula Máiran, disse que não vê a prisão como um ato isolado ou um
desvio pontual de conduta. “A gente entende que há uma política de Estado que
justifica um relatório nosso”, disse.
Ela argumentou que de maio do ano passado até maio último, dos 72
jornalistas que respondem por mais de 100 casos de agressão sofridos pela
categoria no Rio, “cerca de 80% são de responsabilidade de policiais
militares”. Paula Máiran explicou que embora Vera Araújo conte com o apoio da
empresa para a qual trabalha, o sindicato pretende tomar uma medida de
interesse coletivo, visando a obter prevenção jurídica para esse tipo de
episódio.
A sindicalista lembrou que as autoridades foram notificadas em abril
deste ano, por ocasião de episódio similar, quando outro jornalista do jornal O
Globo, Bruno Amorim, foi detido por policiais militares quando fazia fotos da
ação policial na desocupação da Favela da Oi, no Engenho Novo. “A gente tinha
encaminhado um ofício e aí, infelizmente, um fato semelhante se repete”. O
sindicato não recebeu resposta ao ofício encaminhado às autoridades no caso de
Bruno Amorim. Recebeu apenas notificação da 25ª Delegacia Policial, relacionada
ao inquérito. “Mas nenhuma resposta formal ao ofício”, disse.
Paula lembrou que uma conquista obtida pelos jornalistas na semana
passada foi a recomendação do Ministério Público do Trabalho com 16 itens
relacionados à segurança dos profissionais “que precisam ser observadas pelas
empresas”. “A gente vê, por um episódio como esse da Vera Araújo, que a
responsabilidade não cabe só às empresas. Há também uma parcela muito
importante que é do Estado”, destacou a presidenta.
Ela avaliou que a punição do policial militar identificado como sargento
Edmundo Faria, “que fez o ato de cerceamento contra Vera Araújo”, não é
suficiente. “A gente entende que a violência não foi só prender e ferir, foi
também torturar. Porque circular com ela de carro, durante algumas horas antes
de levar para a delegacia, infere em tortura psicológica. A punição do
indivíduo não basta. Os fatos e as estatísticas comprovam que isso não resolve
a questão”. Segundo Paula Máiran, é preciso trabalhar o modelo de segurança
pública “que tem jornalistas como alvo específico de perseguição”.
De acordo com relato da jornalista Vera Araújo ao jornal O Globo, durante
o percurso até a delegacia, seu celular foi tomado pelo sargento Faria, quando
ela tentava fazer contato com o jornal e com representantes da Polícia Militar
para explicar o mal-entendido. Faria decidiu, então, parar o veículo e
algemá-la. “Ele apertou tanto que os meus pulsos estão machucados”, relatou
Vera ao jornal. Na delegacia, acompanhada por um advogado, a jornalista
registrou o caso como abuso de autoridade. Após ser liberada do trabalho nesta
segunda-feira, ela não foi encontrada pela Agência Brasil para comentar o caso.