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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Câmara de Meio Ambiente do MPF defende apuração de possível crime de responsabilidade e improbidade administrativa de Ricardo Salles

Quarta, 27 de maio de 2020
Do MPF
Para órgão colegiado, pronunciamento do ministro do Meio Ambiente na reunião ministerial de 22 de abril revela propósito de atuar contrário à proteção ambiental
Arte tem fundo verde claro e o desenho de uma árvore e do texto "Meio Ambiente" na cor branca
Arte: Secom/PGR
A Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do Ministério Público Federal (4CCR/MPF) divulgou nesta quarta-feira (27) manifestação em que defende a apuração de possíveis crimes de responsabilidade e improbidade administrativa por parte do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Para o órgão colegiado, as declarações de Salles durante a reunião ministerial de 22 de abril, no Palácio do Planalto, demonstram que a conduta do ministro à frente da pasta “traduz verdadeiro encadeamento premeditado de atuar contrário à proteção ambiental, caracterizando o dolo”.
A reunião do presidente Jair Bolsonaro com os ministros de seu governo foi amplamente divulgada pelos meios de comunicação, a partir de autorização do Supremo Tribunal Federal (STF). No encontro, Salles defendeu a alteração de normas e regramentos infralegais de proteção do meio ambiente durante a pandemia do novo coronavírus, enquanto o foco da imprensa estaria voltado quase que exclusivamente à cobertura da covid-19. Nas palavras do ministro, seria o momento de “ir passando a boiada, mudando todo o regramento e simplificando normas”. Ainda segundo Salles, era preciso deixar a Advocacia-Geral da União (AGU) “com artilharia preparada” para a defesa da pasta frente ao Judiciário e ao Ministério Público.

De acordo com a 4CCR, desde o início de sua gestão à frente do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Salles tem adotado inúmeras iniciativas em flagrante violação ao dever de tutela do meio ambiente, como a desconsideração de normas, critérios científicos e técnicos, em desrespeito aos princípios ambientais da precaução, da prevenção e da vedação do retrocesso. "As declarações do ministro revelam clara intenção de promover a desregulamentação do Direito Ambiental pátrio, oportunamente no período da pandemia, galgando-se do foco em problemas a ela associados pela mídia e população, em flagrante infringência aos princípios da Administração Pública da moralidade, eficiência, legalidade, impessoalidade e publicidade”, pontua a Câmara do MPF.

O documento elaborado pelo órgão superior do MPF em matéria ambiental lista algumas das medidas implementadas na gestão de Salles e que contribuíram direta e indiretamente para o aumento do desmatamento, das queimadas, da ocupação de terras públicas e de diversos outros crimes ambientais. Entre elas estão nomeações sem critérios técnicos, diminuição da transparência com a retirada de informações relevantes de sítios eletrônicos, corte orçamentário e desestruturação da fiscalização e represamento de multas, além da liberação da exportação de madeira nativa e da aprovação de despacho que legaliza a exploração de áreas da Mata Atlântica ocupadas irregularmente.

Apuração – Em representação encaminhada ao procurador-geral da República, Augusto Aras, e ao chefe da Procuradoria da República no Distrito Federal, Claudio Drewes de Siqueira, a Câmara de Meio Ambiente solicita que as condutas de Salles sejam investigadas sob a ótica da Lei 1.079/1950, que trata dos delitos de natureza político-administrativa, e também sob a perspectiva da Lei de Improbidade Administrativa.