Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 26 de julho de 2020

Influência da ESG na condução da Ditadura Militar

Domingo, 26 de julho de 2020


Link da música incidental para ouvir, enquanto lê o texto — AROEIRA – Geraldo Vandré

Do Blog Por Brasília*

Por
Salin Siddartha
A doutrina da Escola Superior de Guerra tornou-se decisiva na concepção do Golpe Militar de 1964 e na condução dos seus governos iniciais.
Durante o período de 1952-1956, começaram a concentrar-se naquela entidade oficiais que viriam a ter papel importante na derrubada de João Goulart e na política brasileira pós-1964. Com a desculpa oficial de se movimentarem pelo Brasil para cumprir tarefas didáticas relacionadas aos cursos de divulgação da Associação dos Estagiários da Escola Superior de Guerra-ADESG, civis e militares desfrutaram de liberdade para tramar o Golpe de 1964 sem despertar suspeitas. Naquela época, a instituição tinha (e ainda tem) ojeriza pelos regimes que considerava personalistas, populistas e demagógicos, além de constante preocupação com a infiltração comunista.
De 1964 a 1970, ela foi responsável por formular e implementar as diretrizes de governo e o projeto de integração do território brasileiro. Castello Branco, por exemplo, pautou suas medidas internas, bem como as relações exteriores do País, na doutrina da ESG. A política daquela escola militar, naquela época, voltava-se para a concepção de uma permanência do “poder revolucionário” (mas, em verdade, golpista), de modo a tentar fazer do País, por volta do fim do século XX, uma potência reconhecida mundialmente.
As principais formulações da Escola Superior de Guerra que serviram de base político-ideológica para a Ditadura Militar foram:
1- o direito de as Forças Armadas intervirem, por meio de seu Estado-Maior, no processo de desenvolvimento da nação brasileira;
2- a concepção de “guerra total”, caracterizada pelo emprego de todos os recursos nacionais no esforço militar, e pelo fato de a população civil não poder mais ficar isenta;
3- a necessidade de tutelar a vida política nacional para os interesses do Estado e os da Nação se tornarem idênticos.
Os ideólogos da Escola Superior de Guerra definiram a forma como as Forças Armadas assumiram a promoção do Desenvolvimento pela garantia da Segurança, com a edição do Ato Institucional nº 5, dentro das condições da lógica da coerção. Um conceito autoritário de poder foi, então, adotado como fundamento, técnica e forma organizacional do regime, cristalizando-se no AI-5. Esse projeto nacional demandava estabilidade política e pressupunha que a democracia seria o produto final de uma evolução controlada de cima.
Quanto à política externa e de defesa, a doutrina da ESG, até os dias atuais, coloca o Brasil em um alinhamento “natural” com os EUA, por pertencer ao “mundo ocidental”. Fica, por conseguinte, evidente o alinhamento das Forças Armadas do Brasil com os ditames estadunidenses para a América Latina e o Caribe; esse alinhamento está estreitamente vinculado com os segmentos das burguesias nacionais atreladas aos interesses das multinacionais.
Recentemente, a Escola tem adotado iniciativas em sintonia com as orientações contidas na Estratégia Nacional de Defesa-END, buscando desenvolver atividades acadêmicas e administrativas, intensificar o intercâmbio entre os membros do Governo Federal e otimizar a formação de recursos humanos ligados aos assuntos de Defesa.
Cruzeiro-DF, 26 de julho de 2020
SALIN SIDDARTHA