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(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 24 de maio de 2019

OSs. Problemas na terceirização da saúde

Sexta, 24 de maio de 2019
Do Site Ataque aos Cofres Públicos, com informações de outros veículos da imprensa

1. Problemas na terceirização do Hospital de Itanhaém irritam a população

Vários vereadores cobram explicações sobre Hospital Regional Jorge Rossmann e dizem que atendimento é insatisfatório
Quando o Hospital de Itanhaém estava prestes a ser terceirizado, o Ataque aos Cofres Públicos avisou que a decisão custaria caro ao erário e principalmente para a população.
Autoridades, inclusive os representantes do legislativo municipal se omitiram e nada fizeram para impedir a entrega do equipamento pelo Governo do Estado.
Agora que os problemas começam a vir à tona, estes mesmos parlamentares estão se posicionando contrariamente ao modelo de gestão e pedindo explicações ao Governo e à OS.
Eles alegam principalmente que há muita restrição de vagas para munícipes e moradores do entorno, como se a organização estivesse dificultando o acesso.
Conforme reportagem do Diário do Litoral, no último dia 14, os vereadores  aprovaram por seis votos, o requerimento de autoria do vereador Alder Ferreira Valadão (SD), que solicita à Secretaria Estadual de Saúde e ao Instituto Sócrates Guanaes informações sobre o Hospital Regional Jorge Rossmann.
No requerimento, é solicitada a quantidade de leitos disponíveis para atender os municípios abrangidos pelo Departamento Regional de Saúde (DRS IV) por especialidade. O documento ainda requer também os critérios adotados para a ocupação dos leitos e qual o volume mensal de recursos é utilizado por leito mensalmente e origem dos recursos.
Outro questionamento é se existe algum programa do Governo do Estado para ampliar o número de leitos e se positivo, os prazos e valores a serem investidos e ainda quais as especialidades que são atendidas atualmente.
“Precisamos do Hospital em sua plenitude para atender nossa população”, acrescenta. Alder também quer propor na Câmara Municipal uma audiência pública no final de junho com a Secretaria de Estado de Saúde e a DRS IV para elucidar o que de fato ocorre no Hospital.
O vereador Wilson Oliveira disse que deverá apresentar também, nas próximas sessões, um requerimento direcionado à Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde (CROSS) para cobrar maior transparência. “O Município não pode arcar com uma responsabilidade que é do Governo Estadual. A UPA não suporta mais”, lembra.
João Rossmann do MDB vai além. Lembra que infelizmente as vagas somente aparecem quando a família do paciente procura a Justiça. “Infelizmente não está claro pra ninguém o que ocorre com esse Hospital”, lamenta.
O líder do Governo Marco Aurélio na Câmara, vereador Peterson Gonzaga Dias (DEM) quer que o CROSS aponte efetivamente quantas vagas está disponível para cada cidade que o Hospital atende. “A cidade chega a gastar o dobro com saúde. É preciso urgentemente resolver esse problema”, aponta.
Outro vereador que já cobrou o Hospital foi Dr. Carlos Antonio Ribeiro (PSDB). “Acho que todos os vereadores aqui já fizeram um requerimento cobrando explicações e eles sequer respondem”.
O hospital foi inaugurado pelo então governador Geraldo Alckmin (PSDB), em 30 de outubro de 2017, numa área de 12,9 mil metros quadrados, com oito pavimentos e heliponto, numa iniciativa entre a Prefeitura de Itanhaém e o Governo Estadual. Foram investidos R$ 66,5 milhões. Além de Itanhaém, atende os municípios de Mongaguá, Peruíbe, Itariri e Pedro de Toledo.
Histórico
O Hospital Regional de Itanhaém é uma unidade da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Em 2007, o equipamento passou a ser gerenciado pelo consórcio público, por meio de um termo de parceria. Porém, com o vencimento do contrato, a Secretaria optou por mudar a gestão, entregando o prédio e o serviço para uma OS, ou seja, para uma empresa.
Um novo processo de escolha foi aberto e o COMSAÚDE foi impedido de participar. O Instituto Sócrates Guanaes (ISG) foi o vencedor e assinou contrato de gestão, publicado oficialmente em 6 de maio de 2017.
Antes, houve protestos e paralisação dos funcionários para tentar resistir às mudanças. Com a saída do CONSAUDE da administração do hospital, os concursados foram orientados a pedir transferência para a distante cidade de Pariquera Açu, onde também há um hospital gerido pelo Consórcio. Uma segunda opção era pedir exoneração do concurso para trabalhar para o ISG, sem a estabilidade de emprego.
Alertamos aqui no Ataque aos Cofres Públicos que o Governo do Estado, em vez de dar estrutura para as unidades e serviços serem geridos de maneira direta, resolveu deixar essa e outras unidades serem sucateadas até que a terceirização vire uma espécie de “solução mágica” para resgatar a qualidade dos serviços.
No caso do Hospital Regional de Itanhaém, o Estado investiu na ampliação das instalações e gastou com a modernização de equipamentos e o incremento de serviços. E depois de todo esse esforço financeiro, entregou tudo de bandeja para uma entidade privada que, ao que tudo indica, agora dificulta o acesso da população que precisa.
Como noticiou a imprensa à época, o custeio do Hospital com os novos serviços e com a contratação da OS quase dobrou, passando de R$ 2.709.000,00 para R$ R$ 4.845.391,00 mensais.
OS tem passado manchado
Em 2017, o ISG foi alvo de uma devassa nos contratos, realizada pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ). Junto com outras seis OSs que administram hospitais estaduais do Rio, o instituto foi investigado com o objetivo de evitar que o governo continuasse repassando recursos públicos a organizações sociais que descumpriam metas contratuais.
Contratados pelo ISG, os trabalhadores Hospital Estadual Azevedo Lima, em Niterói, ficaram dois meses (novembro e dezembro) sem receber salários e sem receber o 13º em 2016.
Uma visita da Defensoria Pública do Rio Janeiro realizada no Hospital também encontrou várias irregularidades. “(…) foram constatados déficits de insumos para nutrição enteral dos pacientes em estado crítico, inutilização temporária de sete leitos de Terapia Intensiva por escassez de medicamentos e materiais hospitalares e a não abertura de leitos de Unidade Intermediária Neonatal após a conclusão das reformas de adequação, por falta de recursos humanos”, escreveu o jornal A Tribuna, do Rio de Janeiro, em reportagem publicada em seu site.
O Instituto Sócrates Guanaes também foi condenado judicialmente por danos morais a um funcionário do Hospital de Doenças Tropicais (HDT), em Goiânia (GO).
Neste mesmo hospital, em 11 de maio de 2016, o ISG foi destaque no noticiário por buscar o fechamento da UTI. Mostramos no site do Ataque aos Cofres Públicos, o quanto isso era incompatível com o fato de a mesma OS ter sido agraciada com um aumento de 65% nos repasses de dinheiro público, em vários aditivos, chegando a embolsar R$ 76,2 milhões por ano, só para o hospital.
Em outro escândalo, a OS foi acusada de gastar parte dos recursos encaminhados pela Secretaria de Saúde de forma irregular. Um relatório encaminhado à pasta pelo próprio instituto aponta quase R$ 70 mil gastos mensalmente (R$ 840 mil por ano) com o aluguel de imóveis e contratação de consultorias. A situação foi considerada ilegal pelo procurador do Estado Antônio Flávio de Oliveira.
Segundo documento obtido pelo Jornal O Popular, como tem sua origem em Salvador, na Bahia, a OS utiliza R$ 800,00 mensais para alugar sua sede em Goiânia e outros R$ 2,7 mil para manter um apartamento no Jardim Goiás. Dinheiro do contribuinte!
Mostramos ainda no AaCP o dia em que uma funcionária do HDT, cansada de ver tanta precariedade, filmou as instalações da unidade com vários problemas, como superlotação, atendimento em corredores e consultórios improvisados e aparelhos de Raio X quebrados.
E não é só. Em 2013, o Ministério Público denunciou o secretário de Saúde da época e quatro OSs que atuavam em Goiás, entre elas o ISG. Além de problemas trabalhistas, foram investigadas irregularidades relacionadas à terceirização ilícita de mão de obra.
Estados que investiram pesado em OSs na saúde sabem que o modelo não funciona e é porta aberta para desvios e desperdícios. Em Mato Grosso, após um prejuízo de no mínimo R$ 200 milhões apurado pela CPI das OSs, o esforço agora é para o Governo do Estado retomar a gestão direta dos hospitais regionais.
O governador Geraldo Alckmin faz exatamente o contrário. A despeito de todas as péssimas experiências trazidas pela terceirização em São Paulo e no Brasil, entrega cada vez mais equipamentos para o empresariado. O Hospital Regional de Itanhaém é só mais um. Quando a população e os trabalhadores vão se levantar?
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2. OS não cumpre metas em Hospital Infantil do Mato Grosso

Atendimentos emergenciais e ambulatoriais ficaram abaixo do contratado
Fonte: Jornal O Popular
É sempre assim quando organizações sociais (OSs) são contratadas para atuar na gestão pública: a despeito de embolsarem repasses milionários, trazem retorno em serviços muito aquém do esperado.
No Hospital Materno Infantil (HMI) tem sido assim. O Instituto de Gestão e Humanização (IGH), organização social que administra o equipamento, descumpriu metas do plano operativo de trabalho. A Secretaria Estadual de Saúde (SES) pretende punir o Instituto após se deparar com o relatório de execução do contrato firmado entre a entidade e o Estado, no segundo semestre do ano passado.
O documento, encaminhado à Assembleia Legislativa, mostra que a entidade realizou 22.955 atendimentos de urgência e emergência no período, ficando 27,7% abaixo dos 31.500 contratados. No caso das atividades ambulatoriais, foram 14.924 realizadas. O número é 18,53% inferior às 18.318 contratadas.
Ao jornal O Popular, a SES informou que, “diante do descumprimento, a penalidade aplicada foi um ajuste financeiro com desconto de 10% para cada uma das duas áreas de metas não atingidas”.
No período os repasses para o IGH chegaram a R$ 39,5 milhões. A secretaria também afirma que “uma proposta será feita à OS” e, “caso haja acordo entre as partes, o contrato pode ser renovado após seu vencimento, no final do próximo mês”. “Se não, novo chamamento público será feito”.
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3. Ratos e negligência nas UPAs terceirizadas do Rio de Janeiro

Problemas, em unidades do Estado, geridas por OSs, foram destaque na imprensa fluminense

Fonte: G1 e O Globo

As UPAs do Rio de Janeiro são, em sua maioria, administradas de forma terceirizada, por organizações sociais (OSs). São entidades ditas do terceiro setor, que ganham milhões do poder público e prestam serviços mais do que questionáveis.
Na semana que passou dois exemplos repercutidos pela imprensa carioca comprovam o que dissemos acima. Ambos dizem respeito a unidades vinculadas à rede estadual, mas geridas por OSs.
Na UPA da Tijuca o inimaginável para uma unidade de saúde ocorreu. Ratos foram flagrados passeando tranquilos, à luz do dia, dentro da área da UPA.
O vídeo causou ojeriza nos telespectadores do telejornal da Rede Globo. Veja aqui.
O apresentador lembrou que se há ratos é porque há lixo e falta de higiene, o que é inadmissível em se tratando de um posto médico.
Já na UPA Ricardo de Albuquerque cenas dramáticas se desenrolaram após a morte de uma idosa. A família de Elza Hyppolito da Silva, de 75 anos, acusa a equipe de demorar para conseguir uma vaga de internação para tratar adequadamente a paciente.
Em desespero um dos filhos da vítima chegou a invadir a Unidade de Pronto-Atendimento com uma machadinha, acusando o serviço de descaso no encaminhamento do caso. Conforme reportagem do Jornal O Globo, a idosa sofreu um enfarte no dia 14 de maio, uma terça-feira. Daquele dia até domingo, dia 19, ela ficou internada na unidade de emergência. Cinco dias depois da entrada na unidade, ela não resistiu e morreu sem ter sido consultada por um cardiologista.
“Faltou a minha mãe ser transferida para um hospital de porte quando ela entrou. Isso não garantiria que ela estivesse viva, mas pelo menos ela passaria por um especialista. Se tivessem transferido ela assim que entrou, ela poderia ter sido salva. Porque depois piorou e nem poderia mais sair de lá de tão frágil que estava”, conta Antonio Carlos Hyppolito da Silva, de 55 anos.
Após receber a notícia da morte da mãe, o filho mais novo de Elza, Adriano da Silva, de 35 anos, teve um surto e invadiu a UPA com a machadinha. Ele foi preso. A família, que pagou a fiança e liberou o homem no mesmo dia, afirma que ele tem problemas psiquiátricos e se recusa tratamento. Adriano vai responder pelos crimes de dano ao patrimônio público e ameaça. Nenhum paciente ou profissional de saúde foi ferido, mas testemunhas relatam o pânico que tomou conta da unidade, que estava lotada.
“A gente não tem do que reclamar dos médicos. Mas ela precisava de um cardiologista e não de um clínico geral”, diz Antônio Carlos. “O único problema da UPA era a estrutura. Você pisava e parecia que ia abrir um buraco no chão. As paredes não pareciam firmes. E o ar-condicionado onde minha mãe ficou não estava funcionando direito. Ela reclamava muito do calor”.
A Secretaria estadual de Saúde alegou que a idosa chegou à unidade em estado muito grave e não tinha condições de transferência. A pasta admitiu o problema no ar-condicionado e afirmou que a organização social responsável pela unidade já apresentou um projeto para consertá-lo.