Quinta, 29
de maio de 2014
Da Tribuna
da Internet
Extraído do facebook de
Guilherme
A. Fritsch-Nunes

Como muitos sabem, sou médico residente de último ano de
Cirurgia Plástica, mas faço plantões extras como cirurgião do trauma.
Segue um breve relato do cotidiano de um médico
plantonista.
Baixada fluminense, garota de 16 anos, lesão craniana por
arma de fogo,com perda de massa encefálica. Atendimento em sala de trauma, via
aérea assegurada por entubação orotraqueal, reanimação volêmica.
Parada cardiorrespiratório por 3x revertida com massagem
cardíaca e drogas vasopressoras. Paciente estabiliza hemodinamicamente.
Verifico pupilas dilatadas não reagentes ao estímulo,
assim como os demais reflexos troncoencefálicos ausentes.
Hospital onde estou não há exames complementares para
falência encefálica, não suporta procedimento de retirada de órgãos.
Ligo para central de transplantes do estado do Rio de
Janeiro. Todos os números possíveis, sem sucesso. Sequer uma gravação.
DESEJO DE DOAÇÃO
Família em desespero não entendendo a situação, porém
demonstrando desejo de doação de órgãos. Sigo tentando contato para iniciar
protocolo de captação dos órgãos.
Quatro horas depois do primeiro contato, sim, quatro
horas, sou atendido por uma reguladora, felizmente muito solícita. Pede que eu
entre em contato com o hospital referência para captação e solicite vaga, pois
através da central não teríamos sucesso.
Então 3h após o primeiro contato com o tal hospital, após
mandar fax e praticamente implorar, tenho vaga negada.
Paciente evolui com instabilidade hemodinâmica mesmo em
bomba de infusão de vasopressores. Nova parada cardíaca. Reanimamos pela 4ª
vez, mantemos o coração batendo, estabilidade hemodinâmica.
Após 5h consigo leito para transferência, animação da
equipe, seria a primeira vez que a equipe do hospital veria um processo de
sucesso de captação de órgãos, vencemos o sistema …. Acende uma centelha de
esperança na equipe.
Porém, não há no município em questão ambulância equipada
para transporte avançado.
PERDEMOS TUDO
O tempo corre. Perdemos a vaga. Paciente para pela 5ª vez.
Procedimento de reanimação desta vez sem sucesso.Frustração generalizada da
equipe.Converso com familiares, todos inconsoláveis.
A falta de tudo. O sistema, a desorganização generalizada
da saúde pública, o descaso dos gestores privaram-nos do sucesso.
Privaram a família de perpetuar a memória da menina,
disseminando vida a outros doentes em fila de espera.
Uma ambulância. Uma vaga. Um sistema que não te ajuda.
Dramático, não?
Realidade cotidiana. Sistema público de saúde colapsado.
Estado colapsado.
Me bastava uma ambulância igual as da Arena Pantanal, ou
do Estádio Itaquerão. Me bastava a vontade de fazer dos hospitais algo tão
funcional quanto um estádio da Copa.
Uma refinaria no valor de 48 milhões comprada pela
Petrobras, estatal, por 1 bi. Um bilhão menos quarenta e oito milhões. A
diferença igual ao valor roubado dos contribuintes brasileiros.
O lucro dos envolvidos igual ao rombo nos cofres públicos.
Falta tudo ao povo da baixada fluminense, do agreste, da vila Areia em Porto
Alegre.
VOU TORCER PRO MESSI
Falta ambulância, falta vaga em hospital. Falta
discernimento para compreender o que representa o caso Pasadena na vida deles.
Sobra discernimento aos políticos em como ludibriar o povo. Vide o pequeno
“engano” do Instituto de Pesquisa Econômica Avançada, eclodiram passeatas
feministas (com razão) contra o estupro.
Pena que a pesquisa estava errada, pena que aparecem fatos
como este para abafar os escândalos da Petrobras. Pena que eu vejo esses
descasos aos meus pacientes sozinho. Pena que boa parte do eleitorado brasileiro
não entende tudo isso.
Neymar, desculpe, mas vou torcer pro Messi. Ronaldo
desculpe, mas eu quero hospitais. Dilma, desculpe, mas vou lutar dia a dia para
tirar votos do seu governo, no metrô, no hospital, no elevador, no facebook.
Chato é não tentar.
Extraído do facebook de Guilherme A. Fritsch-Nunes