Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Os torcedores deveriam ter baixado o cacete no Ronaldo em 1998?

Sexta, 30 de maio de 2014
Do Blog Náufrago da Utopia
Por Celso Lungaretti 
 
"A partir do momento em que há vândalos no meio disso, mascarados... A segurança pública tem de conter esses vândalos. Parece que as pessoas acordaram [para os problemas do país], mas acordou todo mundo junto. Ninguém sabe como fazer ou por onde ir. A população tem de protestar sem violência. Nos vândalos, mascarados, tem de baixar o cacete mesmo."

A frase é do ex-jogador Ronaldo Fenômeno, em fase de cabeça de bagre.

Já chutara uma bola para fora do estádio ao se dizer envergonhado com a forma como o Brasil se preparou para sediar o Mundial da Fifa... numa montagem de cenário para romper espetacularmente com a presidenta Dilma Rousseff e anunciar apoio ao seu adversário Aécio Neves. Aí o jornalista Juca Kfouri antecipou que era esta a jogada e Ronaldo ficou com cara de bobo.
Ninguém precisa de pretextos menores para justificar intenção de voto. Deveria escolher candidato levando em conta o que importa: os benefícios e malefícios que cada candidatura trará para o sofrido povo brasileiro.
A nova declaração, além de imbecil (Paulo Coelho acertou na mosca...), foi fascistoide e repulsiva. Equivaleu a um chute tão errado que foi não só para longe do estádio. Foi para fora do Estado. Deve estar chegando em Minas Gerais...
Quando se começa a falar em agredir pessoas ao arrepio da lei, não se pára mais. Lembro-me do meu inconsolável pai em 1998, recomendando o mesmo tratamento para pipoqueiros que, com um ataque de tremedeira, fizessem o Brasil perder uma decisão de Copa do Mundo. 

Hoje se sabe que o alvo de seu desabafo não sofreu a suposta crise de paúra; foi, isto sim, vítima de uma injeção mal aplicada, tendo mesmo entrado em convulsão.

O que não poderemos jamais desculpar é sua atitude de, voltando meio sonado do atendimento médico, ter insistido em entrar em campo sem as mínimas condições para disputar uma partida daquela importância, tão obcecado estava em encher-se de glória.

Como o elenco se dividiu entre a turma do Dunga (que, corretamente, defendia a decisão inicial do técnico Zagallo, de escalar Edmundo) e a patota do Bebeto (que sempre adotava posição contrária à do Dunga), a Seleção começou o jogo com os atletas ruminando rancores e uns não olhando a cara dos outros. Deu no que deu.

Neste sentido, de haver sido o pomo da discórdia que derrotou psicologicamente o escrete antes mesmo de Zidaine fazer o primeiro gol da França, Ronaldo foi, sim, o principal culpado pela goleada humilhante que o Brasil sofreu, um vexame inédito para nós numa final de Copa do Mundo.

Mesmo assim, eu nunca defendi que lhe baixassem o cacete. O coitado do papai estava tão errado então quanto o Ronaldo está agora.